Publicado em 27 de junho de 2020 às 16:40
O novo ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli, copiou quatro trechos de outras teses de mestrado e textos acadêmicos na introdução de seu trabalho de mestrado, apresentado em 2008 para a FGV Rio de Janeiro, com o título Banrisul: do PROES ao IPO com governança corporativa. >
De acordo com levantamento feito pela reportagem, Decotelli usou um trecho idêntico na página 18 de sua dissertação à página 111 do texto "Origens e desenvolvimento institucional", do trabalho de mestrado de Kátia Valéria Araújo Melo e Rezilda Rodrigues Oliveira, apresentado em julho de 2005 - três anos antes de Decotelli.>
Ele escreveu: "Dependendo da natureza do negócio e da teia de constituintes que o embasam, pode-se detectar a existência de burocratas, técnicos e outros atores engajados em projetos e idéias que, para eles, fazem sentido e pelos quais lutam, mesmo que ainda não os tenham materializado, e às vezes, somente se configurando como uma mera agenda, cuja conformação e evolução está sujeita a códigos de conduta, a fontes de poder, ao compartilhamento de uma linguagem comum, a um ambiente propício à colaboração e a mecanismos de difusão da inovação tecnológica.>
O texto de Kátia e Rezilda diz: "Dependendo da natureza do negócio e da teia de constituintes que o embasam, pode-se detectar a existência de burocratas, técnicos e outros atores engajados em projetos e idéias que, para eles, fazem sentido e pelos quais lutam, mesmo que ainda não os tenham materializado, e às vezes, somente se configurando como uma mera agenda, cuja conformação e evolução está sujeita a códigos de conduta, a fontes de poder, ao compartilhamento de uma linguagem comum, a um ambiente propício à colaboração e a mecanismos de difusão da inovação entre as comunidades ocupacionais com que se relacionam". As autoras citaram, inclusivea origem da informação em outros autores: "Pelled, 2001; Hoffman, 2001".>
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Na mesma página, Decotelli diz:>
"A sobrevivência das organizações, na abordagem institucional, depende da capacidade de entendimento das regras, crenças, valores e interesses criados e consolidados num determinado contexto ambiental, social e cultural. A forma de interpretar estes aspectos, a fim de se posicionar frente às pressões isomórficas, são melhor explicadas pela presença dos esquemas interpretativos, definidos como "pressupostos resultantes da elaboração e arquivamento mental da percepção de objetos dispostos na realidade, que operam como quadros de referência, compartilhados e freqüentemente implícitos, de eventos e comportamentos apresentados pelos agentes organizacionais em diversas situações".>
O trecho é quase idêntico às páginas 32 e 33 da dissertação de mestrado de Júlio César de Paiva de 2006, de título "Institucionalização da garantia do status sanitário na cadeia produtiva da avicultura de corte".>
"A sobrevivência das organizações, na abordagem institucional, depende da capacidade organizacional de entendimento das regras, crenças, valores e interesses criados e consolidados num determinado contexto ambiental, tira social e cultural. A forma de interpretar estes aspectos, a fim de se posicionar frente às pressões isomórficas, são é mais bem melhor explicadas pela presença dos esquemas interpretativos, definidos como "pressupostos resultantes da elaboração e arquivamento mental da percepção de objetos dispostos na realidade, que operam como quadros de referência, compartilhados e freqüentemente implícitos, de eventos e comportamentos apresentados pelos agentes organizacionais em diversas situações".>
Já na página 20, Decotelli cita:>
"Nesta visão, a adaptação organizacional refere-se à habilidade dos administradores em reconhecer, interpretar e implementar estratégias, de acordo com as necessidades e mudanças percebidas no seu ambiente, de forma a assegurar suas vantagens competitivas. Como se pode notar, o estudo do processo de adaptação estratégica envolve as visões deterministas do ambiente organizacional e a voluntarista da escolha das estratégias pelos tomadores de decisão nas organizações".>
O trecho é igual ao texto "Teoria institucional e dependência de recursos na adaptação organizacional: uma visão complementar", de Carlos Ricardo Rossetto e Adriana Marques Rossetto", publicado em janeiro/junho de 2005. de em jan./jun. 2005, pela Universidade do Vale do Itajaím em Santa Catarina, ( Univali).>
"Nesta visão, a adaptação organizacional refere-se à habilidade dos administradores em reconhecer, interpretar e implementar estratégias, de acordo com as necessidades e mudanças percebidas no seu ambiente, de forma a assegurar suas vantagens competitivas. Como se pode notar, o estudo do processo de adaptação estratégica envolve as visões deterministas do ambiente organizacional e a voluntarista da escolha das estratégias pelos tomadores de decisão nas organizações.>
Na página 24 de seu trabalho, Decotelli copia trecho da páginas 33 e 34 dissertação de mestrado em Economia de Julieda Puig Pereira Paes, "Criação" de Moeda e Ciclo Político, publicada em junho de 1996.>
O ministro diz:>
"Este "círculo" econômico-político de perda de poder econômico engendrando uma relativa fragilização política da União, só pôde ser mantido às custas de uma especificidade do sistema político-partidário brasileiro: a de gerar representantes legislativos federais com interesses fortemente locais em seus estados de origem. Portanto, o lastro político-institucional que proporcionou o projeto dos bancos estaduais foi reproduzido como um modelo ao mesmo tempo econômico-político-partidário, confrontando espaços de gestão, poder e autonomia administrativo-financeira entre os estados e a União",>
A tese anterior afirma:>
"Este "círculo" econômico-político de perda de poder econômico engendrando uma relativa fragilização política da União, que por sua vez, reforça a fragilidade financeira, só pôde ser mantido às custas de uma especificidade do sistema político-partidário brasileiro: a de gerar representantes legislativos federais com interesses fortemente locais. Os representantes do Congresso Nacional são eleitos pelo voto puramente proporcional. Não há listas partidárias fechadas, o que faz que o eleitor vote em "nomes" e não em partidos">
Os quatro trechos não são colocados entre aspas, o que é obrigatório em teses, quando há citações de outros textos. Também não há referência ao autor, logo quando termina a frase.>
Ao final da tese, Decotelli faz referência apenas aos textos de Rossetto e o escrito por Kátia Valéria Araújo Melo e Rezilda Rodrigues Oliveira, na bibliografia. Os outros, nem isso.>
Nesta sexta-feira (26), o professor Thomas Conti, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), mostrou que a dissertação de Decotelli também tem trechos idênticos aos de um relatório da Comissão de Valores Mobiliário (CVM) do mesmo ano. O relatório não foi citado por Decotelli nem sequer consta da bibliografia.>
De acordo com uma orientação do Núcleo de Apoio Pedagógico da FGV, o plágio/cópia acadêmica viola a Lei 9.610/1998, que regula os direitos autorais presentes no Código Penal Brasileiro.>
Segundo o manual, plagiar e copiar é "reproduzir parcialmente ou na íntegra um texto ou parte dele produzido por um ou mais autores sem citar as devidas fontes".>
"Se no trabalho solicitado pelo professor conter uma situação como a citada acima o plágio/cópia parcial está configurado, pois o texto foi copiado na íntegra sem a citação entre aspas da devida fonte: FURTADO Celso, Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2001. p.197", explica.>
Procurado pela reportagem desde a ontem de ontem, o ministério ainda não respondeu sobre o assunto.>
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