Publicado em 22 de junho de 2023 às 14:18
BRASÍLIA - O vice-procurador-geral eleitoral, Paulo Gonet, se manifestou nesta quinta-feira (22) a favor da inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no julgamento do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sobre a reunião com os embaixadores de julho do ano passado.>
No entanto, defendeu que o vice na chapa de Bolsonaro, o ex-ministro Walter Braga Netto (PL), não seja condenado na ação.>
Na reunião, Bolsonaro repetiu mentiras sobre as urnas eletrônicas a embaixadores. Segundo Gonet, houve desvio de finalidade no episódio, no qual Bolsonaro difundiu propositalmente informações falsas, e usou a sua função pública de forma eleitoreira e indevida.>
Ele considerou a reunião grave, com o objetivo de criar desconfiança sobre as eleições e deslegitimar um eventual resultado negativo nas urnas.>
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"O discurso ganhou difusão nacional por meio de televisionamento em TV federal e nas redes sociais. O discurso, portanto, também se dirigiu ao conjunto da população brasileira e não apenas para o corpo diplomático", afirmou Gonet.>
O procurador disse que o chefe do Executivo tem poder para convocar reunião com embaixadores, mas que esse "pode não é ilimitado". Segundo ele, o encontro sofre de "déficit de legitimidade por desvio de finalidade".>
"O evento, não obstante a sua primeira aparência, foi deformado de forma eleitoreira, traduzindo desvio de finalidade", acrescentou.>
Segundo ele, a reunião foi arregimentada para criar desconfiança da comunidade internacional e dos cidadãos brasileiros em um sistema de votação legítimo, por meio de alegações inverídicas.>
Gonet disse que isso mostra que as declarações de Bolsonaro não estão protegidas pela liberdade de expressão.>
"Dadas essas circunstâncias não há como acolher o argumento de que presidente da República estaria exercendo direito de liberdade de expressão movido pelo propósito de debater melhorias no sistema eleitoral", afirmou.>
Gonet disse que "razões de Estado justificariam" a convocação de embaixadores estrangeiros, mas que a reunião teve apenas "intuito eleitoreiro". "A desconexão do ato com algum propósito legítimo exige o desvio de finalidade", disse.>
O procurador também afirmou que podem ser aceitas provas no processos sobre episódios posteriores ao pedido inicial, contanto que eles tenham relação com esse pedido. Só não podem ser alheios a ele.>
A defesa de Bolsonaro criticado o acréscimo de informações que, para os advogados, não têm relação com a causa, a exemplo da minuta de golpe encontrada na casa do ex-ministro Anderson Torres.>
O PDT acusa Bolsonaro de ter cometido abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação na reunião na qual ele apresentou mentiras sobre as urnas eletrônicas a embaixadores em julho do ano passado, no Palácio da Alvorada.>
Na ocasião, a menos de três meses do primeiro turno, Bolsonaro fez afirmações falsas e distorcidas sobre o processo eleitoral, alegando estar se baseando em dados oficiais, além de buscar desacreditar ministros do TSE.>
Se for declarado inelegível pelo TSE, Bolsonaro, 68, não poderá disputar eleições por oito anos — prazo que conta a partir da eleição de 2022.>
O evento durou cerca de 50 minutos e foi transmitido pela TV Brasil. Na ocasião, a Secretaria de Comunicação do governo barrou a imprensa, permitindo apenas a participação dos veículos que se comprometessem a transmitir o evento ao vivo.>
O processo movido pelo PDT será analisado não só em relação ao evento em si, mas de um contexto de reiteradas declarações e ações de Bolsonaro contra o sistema eleitoral brasileiro e contra ministros de tribunais superiores.>
O próprio relator do processo, Benedito Gonçalves, indicou em suas decisões que adotará esse tipo de entendimento e tem contado com respaldo da maioria dos colegas.>
Isso ficou claro, por exemplo, no momento em que Benedito aceitou incluir no processo a minuta do golpe encontrada na residência de Anderson Torres em 12 de janeiro. Naquele momento, a ação já estava na corte eleitoral.>
De acordo com a atual legislação, caso condenado, o ex-presidente estará apto a se candidatar novamente em 2030, aos 75 anos, ficando afastado portanto de três eleições até lá (sendo uma delas a nacional de 2026).>
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