Publicado em 22 de junho de 2023 às 07:46
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deve iniciar na quinta-feira (22/06) o julgamento de uma ação que pode tornar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu candidato a vice, Walter Braga Netto (PL), inelegíveis por até oito anos. >
O julgamento vem sendo bastante aguardado por parte da cena política uma vez que Bolsonaro é visto como o principal líder da direita no Brasil e maior adversário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) hoje. >
Se a decisão acarretar na inelegibilidade, Bolsonaro ficaria impedido de concorrer às eleições presidenciais de 2026, entretanto, o ex-presidente ainda poderia apelar contestando a sentença.>
Diante da expectativa em torno do julgamento, a BBC News Brasil consultou especialistas em Direito Eleitoral sobre os três principais cenários que podem ocorrer ao longo do julgamento que pode definir o futuro do ex-presidente. >
>
Segundo eles, o julgamento deverá ser demorado, diferentemente do que ocorreu com o ex-deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR), que foi jullgado em uma única sessão e terminou com seu mandado cassado.>
Eles afirmam que um cenário com pedido de vistas não está descartado, o que paralisaria o julgamento. >
Entretanto, eles também afirmam que, caso isso ocorra, é possível que outros ministros da Corte adiantem seus votos, o que indicaria qual é a tendência no tribunal em relação ao caso. >
Bolsonaro enfrenta 16 ações na Corte. O caso mais avançado é um processo movido pelo PDT ainda no ano passado e que será julgado agora. >
Nele, a chapa da qual Bolsonaro faz parte é acusada de ter cometido abuso do poder político e uso indevido dos meios de comunicação social quando reuniu em julho de 2022 dezenas de diplomatas no Palácio da Alvorada para apresentar falsas teorias sobre a insegurança das urnas e atacar ministros do TSE e do Supremo Tribunal Federal (STF).>
A defesa do ex-presidente, por sua vez, argumenta que o evento não tinha caráter eleitoral e que o então presidente usou sua liberdade de expressão para manifestar preocupações legítimas sobre a integridade das eleições brasileiras.>
Caso seja condenado, Bolsonaro pode ficar inelegível e impossibilitado de disputar cargos públicos. A pena pode ser ampliada a Braga Netto, que hoje é apontado como pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro nas eleições de 2024. >
Como a BBC News Brasil mostrou nesta semana, apesar da importância do julgamento, a mobilização da militância bolsonarista nas redes sociais ainda é dispersa. >
Especialistas afirmam que o julgamento de Bolsonaro dificilmente acontecerá na mesma velocidade do que cassou o mandato do agora ex-deputado Deltan Dallagnol. >
Dallagnol foi cassado por unanimidade pelo TSE em uma sessão realizada no dia 16 de maio. >
Ele era acusado de ter burlado a Lei da Ficha Limpa ao pedir exoneração do seu cargo de procurador da República para fugir de eventuais punições em processos administrativos. >
Dallagnol e sua defesa rebateram as acusações e alegam que ele era inocente. >
O julgamento foi marcado pela rapidez com que o caso foi finalizado. Em pouco mais de uma hora, todos os ministros votaram pela condenação do ex-deputado. >
O advogado Alberto Rollo, especialista em Direito Eleitoral, e a advogada Juliana Bertholdi, que também tem especialização na área, avaliam que a tendência é que o caso de Bolsonaro não seja resolvido da mesma forma e que uma sentença, no cenário mais rápido, só saia nos próximos dias. >
"Esses julgamentos são imprevisíveis, mas há uma indicação de que o julgamento pode demorar mais porque houve uma reserva das três próximas sessões do TSE para esse caso. Não é um procedimento comum e isso pode indicar que a expectativa dentro do tribunal é de que as discussões sejam longas", afirma Bertholdi. >
"A gente espera que o relator (ministro Benedito Gonçalves, o mesmo do caso de Deltan) faça um voto bastante longo, que pode tomar todo o espaço da sessão de quinta-feira. Isso levaria o caso para continuar a ser julgado na semana seguinte", diz Rollo. >
Bertholdi aponta que um dos motivos pelos quais o julgamento de Bolsonaro deve ser mais longo que o de Deltan é a natureza distinta dos casos. >
No episódio envolvendo o ex-deputado federal, Deltan era alvo de um processo para avaliar a regularidade do registro de sua candidatura. Bolsonaro, por outro lado, é alvo de uma ação de investigação judicial eleitoral (AIJE). >
"Uma ação para registro de candidatura é um processo mais simples. Você avalia se os requisitos foram preenchidos e decide. Uma AIJE, por outro lado, é mais complexa, envolve uma série de procedimentos como a coleta de provas, testemunhas e isso pode fazer com que o processo de análise dos julgadores seja mais demorado", afirma. >
Rollo afirma que um dos motivos para que o julgamento de Bolsonaro possa ter um andamento diferente do de Deltan é o "tamanho político" do ex-presidente. >
"Bolsonaro é maior que Deltan, e há uma expectativa sobre as mensagens que os ministros irão passar à sociedade durante o julgamento. Acredito que parte dos ministros vai aproveitar o julgamento para enviar mensagens jurídico-políticas sobre o caso", diz. >
Um dos cenários possíveis durante o julgamento de Bolsonaro é que algum dos ministros ou ministras do TSE peçam vistas do processo, o que pode atrasar a conclusão do caso. >
O pedido de vistas é um procedimento previsto por lei e tem o objetivo de dar mais tempo a um determinado magistrado para analisar melhor as provas ou teses apresentadas tanto pela defesa quanto pela acusação. >
O uso da medida em algumas cortes como o STF é criticado porque não há punições para os magistrados que demoram a devolver o processo para que ele possa ser finalizado. >
Operadores do Direito afirmam que a ferramenta também pode ser usada para, politicamente, atrasar o julgamento de um determinado caso. >
Pela nova regra, os ministros podem pedir vista por 30 dias renováveis por apenas mais 30 dias. >
"Qualquer magistrado ou magistrada pode pedir vistas. Caso isso ocorra, o julgamento só deve ser finalizado no segundo semestre", diz Rollo.>
O plenário do TSE é composto por sete ministros. Três são oriundos do STF: Alexandre de Moraes (atual presidente), Cármen Lúcia e Kássio Nunes Marques. Outros dois são do Superior Tribunal de Justiça (STJ): Benedito Gonçalves (corregedor) e Raul Araújo Filho. Os outros dois são membros da advocacia: Floriano de Azevedo Marques Neto e André Ramos Tavares. >
Nas últimas semanas, a expectativa em torno de um eventual pedido de vistas ficou sob Kássio Nunes Marques, que foi indicado ao STF pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, em 2020.>
A possibilidade de que ele pudesse pedir vistas do processo, atrasando o julgamento, vem sendo levantada por analistas políticos por conta da suposta proximidade entre Kássio Nunes Marques e Bolsonaro. >
Apesar disso, segundo o portal UOL, o ministro classificou essa possibilidade como "pura especulação". >
"Nunca tratei desse assunto com ninguém; pura especulação", disse o ministro ao portal. >
Um terceiro cenário avaliado por Alberto Rollo é a possibilidade de que os ministros e ministras do TSE adiantem seus votos mesmo diante de um pedido de vistas. >
Por tradição, sempre que isso ocorre, o processo é suspenso, e os ministros que ainda faltarem votar aguardam o reinício do julgamento para proferirem seus votos. >
Rollo, no entanto, avalia que diante da importância do caso, é possível que os demais ministros possam adiantar seus votos. >
"Ainda que haja um pedido de vistas, o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, pode perguntar aos demais ministros se eles querem divulgar seus votos. Isso já deixaria uma indicação clara sobre qual o desfecho mais provável do julgamento", afirma. >
Como a corte é composta de sete magistrados, são necessários quatro votos para condenar ou absolver um réu. >
Juliana Bertholdi diz que a possibilidade de antecipação de votos existe, embora não seja usual. >
Ela diz, porém, que apesar de os votos poderem ser antecipados e uma maioria formada, isso não significa que o julgamento estará virtualmente encerrado. >
"O regimento permite que haja mudanças nos votos dos ministros mesmo depois que eles proferem suas posições. Ou seja: vamos ter, realmente, que esperar o fim do julgamento para saber o que vai acontecer", afirma a advogada. >
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta