Publicado em 30 de outubro de 2022 às 21:43
Luiz Inácio Lula da Silva, 77, líder do Partido dos Trabalhadores, foi eleito pela terceira vez presidente da República, neste domingo (30). Em um pleito acirrado e marcado por ineditismos e forte cisão social, Lula derrotou o presidente Jair Messias Bolsonaro, 67, do Partido Liberal, que concorria à reeleição.>
O país sai dividido, com a menor diferença desde a redemocratização entre o vencedor e o derrotado (1,7 ponto). Com 99,2% das urnas apuradas, o petista obteve 50,84% dos votos válidos, ante 49,16% do rival.>
A eleição, que marca a volta da esquerda ao poder depois de seis anos, registrou o recorde de votos depositados no candidato vitorioso. Lula teve ao menos 59,8 milhões de votos, superando a marca atingida por ele mesmo no segundo turno de 2006, quando conquistou 58,2 milhões de apoios.>
Já Bolsonaro, com pelo menos 57,8 milhões, superou seu patamar em 2018 (57,7 milhões). Neste ano, 156,4 milhões de eleitores estavam aptos a votar. O percentual de nulos e brancos foi de 4,59%.>
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Até então, a menor distância entre concorrentes do segundo turno presidencial era a registrada em 2014, quando Dilma Rousseff (PT) ficou 3,3 pontos à frente de Aécio Neves (PSDB).>
A derrota de Bolsonaro, primeiro candidato à recondução a perder a disputa, foi confirmada pelo TSE. A corte foi atacada pelo atual presidente ao longo da campanha, com discursos contra o sistema eleitoral e alegações infundadas de fraudes nas urnas eletrônicas que contaminaram a base radical do mandatário.>
As críticas a Bolsonaro pelo uso da máquina para influenciar o resultado se ampliaram neste domingo, com operações da PRF (Polícia Rodoviária Federal) nas estradas que prejudicaram a chegada de eleitores aos locais de votação, principalmente em cidades do Nordeste, região onde o petista tinha vantagem.>
A corrida ao Palácio do Planalto rachou o país, propiciando um nível de apreensão e violência jamais visto. O confronto entre os dois postulantes também se notabilizou pelo elevado grau de animosidade, com debates pautados mais pela troca de acusações e ofensas pessoais do que pela discussão de propostas.>
O incumbente demonstrou força no primeiro turno, ficando a apenas cinco pontos percentuais do petista em votos válidos (48,4% a 43,2%), margem menor que a projetada por institutos de pesquisa. Ele se beneficiou da rejeição ao oponente e da série de medidas eleitoreiras de seu governo, com pagamento de benefícios sociais e manobras para controlar artificialmente os preços dos combustíveis e a inflação.>
Com a vitória, Lula fecha um ciclo de reviravoltas para si e para a esquerda após encerrar seus dois mandatos no Executivo e passar a faixa a Dilma Rousseff em 2010. Nos anos seguintes, viu a aliada sofrer impeachment em 2016 em meio ao estrago que a Lava Jato deixou no PT. A operação também levou Lula a ser condenado em 2018 e a ficar preso por 580 dias, perdendo o direito de concorrer no pleito presidencial daquele ano.>
O petista, porém, teve suas sentenças anuladas pelo STF em março de 2021, voltando com favoritismo à arena eleitoral, apesar da rejeição devido ao envolvimento de seu partido em escândalos de corrupção.>
Para ampliar as chances, Lula rumou ao centro e atraiu para o posto de vice um ex-rival, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin, fundador do PSDB que rompeu com a sigla e foi para o PSB. O discurso do agora presidente eleito para essa campanha se baseou na defesa de uma frente ampla de setores divergentes em nome da democracia e da superação do governo Bolsonaro.>
Prometeu a retomada do crescimento econômico e da distribuição de renda, apostando na nostalgia de um tempo em que, segundo ele, as pessoas tomavam cerveja e comiam picanha. Também sofreu críticas por ter sido superficial sobre seu plano econômico, como se oferecesse um cheque em branco.>
O petista terá como desafios acomodar partidos e segmentos que o apoiaram e administrar um país mais dividido e com ambiente econômico interno e externo menos favorável do que o encontrado por ele em 2003, ao assumir o país pela primeira vez. Sob a gestão atual, o Brasil passou da nona posição entre as maiores economias do mundo, em 2018, para a 13ª, em 2021, e teve aumento da miséria e da fome. Lula tem indicado que fará um governo de transição e abrirá mão de tentar a reeleição em 2026.>
Já Bolsonaro sai do cargo, mas não da cena política. Fortalecido pela cristalização do bolsonarismo, com a eleição de extensa bancada de aliados no Congresso e em governos estaduais e municipais, o capitão reformado do Exército desponta desde já como pré-candidato à sucessão de Lula e porta-voz da oposição.>
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