Publicado em 29 de outubro de 2020 às 14:27
O ministro Paulo Guedes (Economia) negou nesta quinta-feira (29) que o governo tivesse qualquer intenção de privatizar o SUS (Sistema Único de Saúde) ao publicar um decreto que colocava as UBS (unidades básicas de saúde) no escopo de interesse do PPI (Programa de Parcerias de Investimentos).>
Guedes fez as declarações ao participar de uma audiência pública da comissão mista de acompanhamento das ações de enfrentamento da Covid-19.>
O ministro afirmou que, durante a pandemia, o SUS mostrou a importância de o país contar com um sistema descentralizado de acesso universal à saúde.>
"Por isso que eu garanto que jamais esteve sob análise falar em privatizar o SUS, seria uma insanidade falar disso", afirmou Guedes, que também chamou a ideia de contrassenso.>
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O ministro afirmou ainda que, se a intenção fosse essa, o texto teria que ter passado pelo Congresso. "Não foi absolutamente nada desse tipo.">
Segundo ele, o decreto teve como origem a área de PPI, dirigida pela secretária Martha Seillier, quem ele qualificou como "uma pessoa competente, séria, trabalhadora".>
"Não é uma das pessoas que eu trouxe de fora para privatizar o sistema, para atacar o sistema de saúde brasileiro. Zero", disse.>
A afirmação contradiz nota publicada pelo próprio Ministério da Economia nesta quarta-feira (28), que diz que a ideia havia partido do Ministério da Saúde.>
Além disso, Guedes justificou a decisão de assinar o decreto dizendo que é uma das "dezenas" que toma todos os dias. O texto foi assinado um mês atrás, afirmou. >
Guedes disse que o decreto buscava tentar encontrar recursos para finalizar obras de 4.000 UBS (Unidades Básicas de Saúde) e de 168 unidades de pronto atendimento. "Estava tudo isso paralisado no meio de uma epidemia, e sem capacidade de atendimento.">
Com um cenário de juro baixo, continuou, empresas se ofereceram para fazer uma PPI e terminar as obras. "A gente bota isso tudo à disposição, e você simplesmente dá um cheque-consulta, como se fosse um voucher-saúde", disse o ministro.>
Guedes voltou a defender a iniciativa. "Se vamos colocar em funcionamento 4.500 unidades básicas de saúde e mais 168 unidades de pronto atendimento com capital privado, fica muito mais barato para nós", disse. "Em vez de gastar R$ 1, 2, 3, 4 bilhões fazendo a obra física, a gente gasta R$ 1, 2, 3, 4 bilhões em atendimento, pagando as consultas, para suplementar o setor público.">
Publicado na terça-feira (27), o decreto colocava a atenção primária -- porta de entrada do SUS -- na mira do programa de concessões e privatizações do governo, e foi recebido com críticas de especialistas e entidades de saúde que disseram temer a privatização de um pilar do sistema.>
O presidente Jair Bolsonaro revogou o decreto na tarde de quarta após intensa oposição de parlamentares e entidades ligadas à área de saúde.>
O texto oficial era assinado por Bolsonaro e por Guedes e previa estudos "de parcerias com a iniciativa privada para a construção, a modernização e a operação de unidades básicas de saúde". Não havia estimativa de quantas das 44 mil unidades poderiam ser incluídas nessas parcerias.>
O principal ponto do projeto, conforme argumentou o PPI na terça, era "encontrar soluções para a quantidade significativa de unidades básicas de saúde inconclusas ou que não estão em operação no país".>
Questionado sobre qual seria a contrapartida ao setor privado, o programa disse apenas que a medida estava em análise de possíveis "modelos de negócios".>
Apesar do movimento para preservar o documento, a ampla oposição de entidades ligadas à Saúde a parlamentares e secretários acabou por levar a presidência a cancelá-lo.>
Além da reação das entidades, um abaixo-assinado contra o decreto somava até o início da noite de quarta mais de 50 mil assinaturas.>
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