Publicado em 16 de abril de 2020 às 12:00
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, desabafou sobre os desgastes vividos com o presidente Jair Bolsonaro durante o enfrentamento da pandemia do novo coronavírus e admitiu que deixará a pasta.>
Mandetta se disse cansado após dois meses de trabalho na tentativa de conter a Covid-19. "Sessenta dias tendo de medir palavras. Você conversa hoje, a pessoa entende, diz que concorda, depois muda de ideia e fala tudo diferente. Você vai, conversa, parece que está tudo acertado e, em seguida, o camarada muda o discurso de novo. Já chega, né? Já ajudamos bastante", afirmou.>
Questionado sobre a permanência no cargo, o ministro disse que fica "até encontrarem uma pessoa para assumir meu lugar". As declarações foram dadas em entrevista à revista Veja.>
Mandetta ainda afirmou que não há chance de ficar no governo. "São 60 dias nessa batalha. Isso cansa", desabafou Mandetta, que negou que esteja indo trabalhar com o governador Ronaldo Caiado em Goiás.>
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O ministro também disse que não se arrepende de ter entrado no governo Bolsonaro e evitou dar um palpite sobre a nova linha de trabalho de combate à pandemia após sua saída do cargo.>
"Não sei, mas acho que o vírus se impõe. A população se impõe. O vírus não negocia com ninguém. Não negociou com o (Donald) Trump, não vai negociar com nenhum governo", disse. Mandetta acrescentou que tem compromisso com o país. "Ninguém vai torcer contra", concluiu.>
O secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira, justificou nesta quinta-feira (16), em entrevista coletiva, por que decidiu pedir demissão da pasta. Segundo ele, esse processo vem já há algum tempo e que a mensagem era se preparar para sair junto com o ministro Luiz Henrique Mandetta.>
"Estamos cansados. Eu não pedi demissão. A mensagem é: vamos nos preparar para sair junto com o ministro Mandetta. Esse processo vem sendo discutido há algumas semanas. Chega a um ponto em que estamos entendendo que um dos processos está adiantado. O ministro citou o laboratório, a informação. E essa etapa é mais da assistência do que da vigilância. Mas estamos juntos. Não teve um motivo específico. Nós estamos cansados", explicou o secretário.>
Também na entrevista coletiva concedida mais cedo no Planalto, Mandetta afirmou que ainda não recomenda o uso da cloroquina no tratamento da Covid-19.>
O medicamento é amplamente defendido pelo presidente Jair Bolsonaro. O ministro disse que, embora a aplicação da medicação não seja proibida, é necessário avisar o paciente de riscos de arritmia e infarto.>
Mandetta afirmou que a pasta está custeando estudos a respeito do uso da cloroquina, mas que fora do ambiente hospitalar, o paciente corre riscos maiores de sofrer com efeitos colaterais que, dentro de uma unidade de saúde, poderiam ser controlados.>
"Os que estão internados devem ficar com monitor. Se têm arritmia, suspende (a medicação), mas ele está internado ali dentro. É controlado", observou.>
O ministro também criticou o "achismo" ao lidar com o assunto. "O Ministério da Saúde fazer um protocolo e ele, Ministério da Saúde, recomendar uso geral da cloroquina para pessoas fora do ambiente hospitalar, acima de 60, 70, 80 anos, falando que isso vai solucionar o problema... A gente cai numa coisa que Hipócrates falava: Demonstre. Ou se baseia na ciência ou fica no 'eu acho', 'na minha experiencia', 'eu tenho visto muitos casos', 'a impressão que eu tenho'. Em ciência, é a pior evidência", declarou. >
Bolsonaro e Mandetta têm protagonizado divergências também em relação ao que fazer para controlar a propagação do coronavírus no Brasil.>
Enquanto o presidente é a favor do que chama de "isolamento vertical", no qual apenas as pessoas que fazem parte do grupo de risco da Covid-19 ficam em casa, o ministro vem seguindo as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e apoiando as medidas de distanciamento social mais amplas. >
No último domingo (12), Mandetta cobrou um discurso unificado do governo durante entrevista ao Fantástico, da TV Globo. "Isso leva para o brasileiro uma dubiedade, ele não sabe se ele escuta o ministro da saúde ou se escuta o presidente da República", afirmou o ministro. >
Mandetta também deixou uma indireta a Bolsonaro na entrevista. "Quando você vê pessoas entrando em padarias, em supermercados, fazendo aquelas filas, uma atrás da outra, encostadas, grudadas, pessoas fazendo piqueniques em parques, aglomeradas. Isso é claramente equivocado", afirmou o ministro. >
Dias antes, o presidente havia contrariado as medidas de isolamento social ao sair para cumprimentar apoiadores em Brasília. Um dos locais visitados por Bolsonaro foi uma padaria. >
Além disso, outra cena que chamou atenção foi quando o presidente, na última sexta-feira (10), esfregou o nariz e deu a mão a uma mulher na sequência, mais um ato que vai contra as recomendações sanitárias em tempos de pandemia. >
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