Publicado em 7 de julho de 2022 às 20:08
A nova turma do Instituto Rio Branco, onde começa a carreira de diplomata no Brasil, terá neste ano a maior participação feminina da história da instituição: dos 36 admitidos, 15 são mulheres -cerca de 41%.>
O índice atingiu o mais alto patamar com a nomeação de duas candidatas aprovadas no sistema de cotas em 2017 e admitidas após acordo judicial.>
Considerando apenas o concurso público deste ano, 13 das 34 vagas foram ocupadas por mulheres (38% do total). Trata-se do mais alto percentual nos últimos 30 anos. No período, a média de candidatas aprovadas no processo seletivo é de 23,54%, de acordo com o Itamaraty.>
Em 2018, a proporção foi ainda menor. Há quatro anos, o concurso selecionou apenas três mulheres em uma turma de 27 pessoas -11% de participação feminina. Desde então, a disparidade de gênero diminui a cada novo concurso.>
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Uma das aprovadas para iniciar a carreira diplomática neste ano é a paraibana Adriana Gabinio, 27. "É um número histórico de mulheres, estou extremamente feliz, não só por mim, mas por todas as minhas colegas", diz. "A foto da nossa turma é muito bonita, com mulheres diferentes, bem a cara do Brasil.">
No concurso de 2022, foram selecionadas seis mulheres negras, das quais cinco por meio do sistema de cotas e uma na ampla concorrência. Além delas, a turma terá mais duas candidatas cotistas admitidas após imbróglio judicial.>
Para Gabinio, isso serve de motivação para futuras candidatas. Ela própria conta que a atuação direta de diplomatas brasileiras como Laura Delamonica, Fernanda Mansur e Maria Luiza Viotti, teve papel importante em sua trajetória.>
Ela começou a estudar para o concurso do Itamaraty em 2018, por ocasião do centenário de ingresso no ministério de Maria José de Castro Rebello Mendes, a primeira mulher no Brasil a entrar na carreira.>
Irene Vida Gala é uma das diplomatas brasileiras que tem se empenhado para "fazer propaganda de mulher no Itamaraty". Para ela, a participação feminina recorde resulta de um esforço coletivo do grupo de mulheres diplomatas para abrir portas para outras colegas, sem apoio da própria instituição.>
"Se na próxima seleção a gente confirmar um número maior de mulheres, a gente pode afirmar que realmente é uma tendência em função de um esforço de publicização da presença da mulher no espaço diplomático", afirma.>
Com 37 anos de carreira diplomática, a subchefe do escritório do Itamaraty em São Paulo conta que, na época de seu ingresso, havia uma discussão sobre o uso do gênero feminino na menção ao cargo de terceiro-secretário quando o posto era ocupado por uma mulher.>
Na pasta, esse é o primeiro cargo de um diplomata. É possível progredir até o grau de embaixador (ministro de primeira classe). Entre os extremos, há os postos de segundo-secretário, primeiro-secretário, conselheiro e ministro de segunda classe.>
As regras para avançar seguem requisitos como tempo mínimo na classe, período de serviço no exterior, experiência em cargos de chefia em alguns casos, além de uma votação entre pares e chefes.>
Para Vida Gala, as progressões ainda são pouco transparentes, e faltam critérios objetivos de promoção. Segundo ela, a predominância masculina no meio faz com que haja uma concentração de poder que dificulta a evolução das mulheres na carreira diplomática.>
A dificuldade se deve à ausência de mulheres em cargos de comando, afirma a diplomata aposentada Maria Celina de Azevedo Rodrigues, presidente da Associação e do Sindicato dos Diplomatas Brasileiros. "Essas posições são as que decidem e votam nas pessoas que vão ser promovidas.">
Para ambas, a sub-representação de mulheres nos postos mais altos da carreira é um problema estrutural. "Uma carreira machista como a nossa tira das mulheres a possibilidade de sonhar com espaços de poder privilegiados", afirma Vida Gala.>
O Itamaraty nunca foi liderado por uma mulher, mas há mudanças no horizonte. No Brasil, o ministério registrou, na lista de promoções de junho, um percentual recorde de mulheres em todos os postos da carreira, acima de 30%.>
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