Publicado em 21 de julho de 2020 às 09:06
O governo Jair Bolsonaro pretende criar duas categorias de cargos e gratificações no Executivo para ocupação exclusiva por militares, com remunerações maiores que os valores atuais. Oficiais que hoje recebem até R$ 1.734,92 para exercer cargo de confiança na administração podem passar a ganhar até R$ 6.991,73, mais de seis vezes o salário mínimo (R$ 1.045), de acordo com minuta de medida provisória obtida pelo Estadão/Broadcast. >
Os praças, militares de patente mais baixa que têm reclamado do tratamento mais favorável dado pelo governo aos oficiais, também poderão receber gratificações de até R$ 2.591,46, o equivalente a dois salários mínimos e meio.>
Os valores, segundo outro documento obtido pela reportagem, foram questionados internamente pelo Ministério da Economia, que viu "aumento significativo" nas remunerações.>
Após editada, uma medida provisória tem vigência imediata, mas precisa ser aprovada pelo Congresso em até 120 dias. O texto figura entre as prioridades de análise da Casa Civil, comandada pelo general da reserva Walter Braga Netto.>
>
Na área econômica, a avaliação é a de que o calendário político "não está favorável" a uma proposta como esta em um momento no qual 13,7 milhões de trabalhadores tiveram contratos suspensos ou salários reduzidos em razão da crise do novo coronavírus. >
O Ministério da Defesa informou, por sua vez, que o "estudo", iniciado antes da pandemia da Covid-19, "não deve avançar" por causa da limitação para aumentos de despesa com pessoal, imposta até o fim de 2021 pela Lei Complementar 173, que selou o socorro financeiro a Estados e municípios e fixou a mesma proibição para os governos regionais. Técnicos do governo, porém, veem espaço para a edição da MP com os "penduricalhos" porque a reorganização não resultará em aumento líquido de despesa.>
Além da reserva de vagas no Executivo, a proposta prevê que os militares possam acumular a remuneração integral dos cargos e funções com aquela recebida pelo posto ocupado na hierarquia militar. Na prática, poderão receber 100% de ambas, enquanto servidores indicados para cargos civis terão de escolher entre possibilidades menos vantajosas - uma delas é ganhar o salário do cargo efetivo de origem mais 60% da remuneração comissionada.>
O texto também permite que militares continuem sendo designados para cargos e funções destinadas a civis. Relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) mostrou que a quantidade de militares da ativa e da reserva em postos civis mais do que dobrou no governo Bolsonaro e passou de 2.765 em 2018 para 6.157 em 2020. No mesmo período, o número de militares que ocupam cargos comissionados cresceu de 1.934 para 2.643.>
O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, disse que a proposta para atualizar gratificações da categoria é antiga e corrige desigualdades com servidores civis que têm as mesmas atribuições. "Isso é apenas uma atualização. É preciso ficar claro que não há previsão de aumento na despesa", afirmou o general, ontem, em entrevista à Rádio Jovem Pan.>
Além da maior participação no governo, os militares foram a categoria mais recentemente contemplada com reajustes de soldos e gratificações, aprovados na reestruturação da carreira desde o fim do ano passado. Enquanto isso, a maior parte dos servidores civis está com salários congelados há quase três anos.>
A criação dos cargos exclusivos para militares foi inserida em uma proposta de reorganização dos postos comissionados, funções gratificadas e gratificações do Executivo. Desde a transição de governo, a equipe econômica trabalha numa simplificação dessas classificações, que somam 34 tipos diferentes e engessam a gestão do quadro de pessoal.>
Procurado, o Ministério da Economia informou que buscar alternativas para a otimização das despesas com cargos comissionados e mobilidade de servidores é uma diretriz.>
"Propostas nesse sentido estão permanentemente em análise (...) pela equipe técnica do Ministério da Economia e fazem parte desse processo consultas a outros órgãos públicos", diz a nota. A Casa Civil não respondeu aos questionamentos da reportagem.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta