Publicado em 12 de abril de 2020 às 08:30
Em mais um movimento do governo Jair Bolsonaro contra as medidas de isolamento social, a Advocacia-Geral da União (AGU) afirmou neste sábado (11) que recorrerá à Justiça se governos estaduais ou municipais impuserem "medidas restritivas de direitos fundamentais".>
A nota do órgão não cita nenhum caso específico, mas mira o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que vem protagonizando embates com Bolsonaro e afirmou que o estado poderá prender quem descumprir as regras de isolamento.>
Segundo a AGU, "diante da adoção ou ameaça de adoção" de medidas nesse sentido, o órgão prepara as ações judiciais cabíveis e aguarda apenas informações do Ministério da Saúde e da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para entrar com o processo.>
A nota é assinada pelo advogado-geral da União, ministro André Mendonça, que diz que qualquer medida deve ser respaldada na Constituição.>
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"Medidas isoladas, prisões de cidadãos e restrições não fundamentadas em normas técnicas emitidas pelo Ministério da Saúde e pela Anvisa abrem caminho para o abuso e o arbítrio", afirma.>
O texto diz ainda que, para casos como esse, a prisão não é a solução adequada. "Medidas de restrição devem ter fins preventivos e educativos ?não repressivos, autoritários ou arbitrários", diz.>
A ameaça de Doria de mandar prender as pessoas que desrespeitarem a quarentena ocorreu na última quinta-feira (9), quando o governador comentava a redução dos índices de pessoas em isolamento social em São Paulo e disse não querer endurecer as regras da quarentena no estado.>
"Eu queria evitar isso, porque medidas mais rígidas significam que as pessoas poderão receber não só advertência, multa mas também voz de prisão", disse o governador.>
Este é mais um movimento do governo federal para tentar limitar os poderes de estados e municípios em impor regras da quarentena. E ocorre dois três depois de o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidir que os governos locais têm competência em matérias de saúde pública e, portanto, também podem impor medidas restritivas.>
A decisão da última quarta-feira (8) endosso a linha adotada pelo ministro Marco Aurélio Mello, que, em outra ação, também tinha garantido que governadores e prefeitos têm autonomia para determinar a quarentena.>
Moraes foi além e deixou claro que a decisão vale independentemente de posterior ato de Bolsonaro em sentido contrário.>
O despacho do ministro ocorreu no âmbito do pedido da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para que o Supremo obrigasse o presidente a seguir as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).>
Nele, o magistrado afirmou que o governo federal não pode - afastar unilateralmente - decisões sobre o tema de outros entes da federação.>
Neste sábado, o próprio Ministério da Saúde afirmou, em entrevista coletiva, que não é hora de São Paulo abrandar as medidas de isolamento social.>
"São Paulo tem observado que, para se ter um efeito mais significativo do isolamento social, ele deveria estar em 70% [de isolamento]. Não está no momento de um relaxamento mais efetivo em São Paulo", afirmou o secretário de vigilância em saúde, Wanderson Oliveira.>
O comentário de Oliveira fez referência aos dados de operadoras de telefonia que apontaram uma queda na adesão à quarentena em algumas cidades do país. O secretário listou as regiões que mais chamam a atenção da pasta, como Manaus, Fortaleza, São Paulo e Rio de Janeiro.>
O discurso de Oliveira vai na contramão do que tem afirmado o presidente Bolsonaro. O chefe do Executivo não esconde a divergência em relação às decisões estaduais e municipais de restringir a circulação de pessoas e o funcionamento de estabelecimentos comerciais.>
Para flexibilizar o isolamento, ele ampliou, recentemente, as atividades consideradas essenciais que podem funcionar durante a quarentena e incluiu lotéricas e igrejas nessa classificação.>
O STF tem imposto limites às tentativas de Bolsonaro de flexibilizar o isolamento. A prisão de quem sair às ruas durante esse período, porém, não foi abordada nas decisões proferidas pela corte até o momento e contam com a resistência de alguns ministros.>
O presidente do Supremo, Dias Toffoli, por exemplo, já se declarou contrário à punição de pessoas que furarem o isolamento. Outros integrantes da corte também têm dito nos bastidores que a detenção das pessoas não é o melhor caminho, além de ser questionável do ponto de vista constitucional.>
Bolsonaro e o coronavírus
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