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Em posse como ministro, Ciro Nogueira defende "diminuir tensões"

Em posse como ministro, Ciro Nogueira defende "diminuir tensões"

Líder do Centrão, ele apoiou no passado governos do PT e chegou a se referir a Bolsonaro como "fascista". Agora, diz que não há problema em mudar de opinião

Publicado em 4 de agosto de 2021 às 21:16

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Ciro Nogueira, novo ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro, toma posse
Ciro Nogueira, novo ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro, toma posse. (Isac Nóbrega/PR)

Em meio a uma crise entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o novo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), tomou posse nesta quarta-feira (4) numa cerimônia em que se comparou a um "amortecedor" e afirmou querer contribuir para "equilibrar" e "diminuir tensões".

"Sabemos que a política muitas vezes provoca choques, tremores e abalos", disse Ciro em seu discurso.

"E se me permite a comparação um tanto quanto fora dos protocolos, eu gostaria que toda vez que Vossa Excelência [Bolsonaro] me visse, lembrasse de um amortecedor. Acho que é assim que o povo do meu país. os meus companheiros, espero que me vejam, porque assim eu vou ser útil ao meu país", disse.

Em outro trecho, Ciro disse que o momento atual é de "trepidações". "Quero contribuir tal aquele equipamento que pode estabilizar, diminuir tensões e ajudar para que essa viagem seja mais serena, estável e confortável para todos", disse o novo ministro, que é senador licenciado. "Meu nome é temperança, meu sobrenome tem que ser equilíbrio."

O discurso de Ciro em defesa da moderação ocorre em meio a uma profunda crise entre Bolsonaro e o Judiciário, principalmente o TSE.

Em sua cruzada pelo voto impresso, Bolsonaro tem levantado acusações infundadas e sem comprovação de que pleitos passados foram fraudados. Ele tem apontado que as urnas eletrônicas não são seguras, sem nunca apresentar provas que corroborem a alegação.

Bolsonaro defende um modelo de voto impresso, que ele diz ser "auditável" e "democrático".

Atualmente, tramita no Congresso uma PEC (proposta de emenda à Constituição) nesse sentido, mas uma articulação de diversos partidos, inclusive de aliados do Planalto, criou uma frente para derrubar a proposta.

Bolsonaro disparou nos últimos dias uma série de falas golpistas. Ele chegou a ameaçar a realização do pleito no ano que vem, caso não haja mudança no atual sistema eletrônico de votação.

"Sem eleições limpas e democráticas, não haverá eleição", disse Bolsonaro no domingo (1º), numa videochamada a manifestantes que estavam em frente ao Congresso Nacional.

O alvo preferencial de Bolsonaro tem sido o presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso.

Em reação às ameaças de Bolsonaro, a corte eleitoral tomou, na segunda (2), a ação mais contundente desde que Bolsonaro começou a fazer as ameaças de impedir as eleições em 2022.

O tribunal aprovou, por unanimidade, a abertura de um inquérito e o envio de uma notícia-crime ao Supremo para que o chefe do Executivo seja investigado no inquérito das fake news. E o STF vai investigar.

Em seu pronunciamento, Ciro também disse que "não há problema em mudar de opinião" e que isso não é "contradição, desde que seja para melhor".

Líder do Centrão, Ciro apoiou no passado governos do PT e chegou a se referir a Bolsonaro como "fascista".

"Conte sempre com este amortecedor para o ambiente muitas vezes agitado dos nossos tempos", afirmou o ministro nesta quarta.

Ciro disse ainda defender a democracia.

"Com a minha presença, me somando a essa valorosa equipe de ministros e ministras, vamos ajudar o Brasil a dar sinais certos para onde estamos indo. O primeiro deles, senhor presidente, e não tenham dúvidas: a democracia é líquida e certa. Difícil por natureza, mas é a coisa certa e é por ela que eu estou aqui. É por ela que todos nós estamos aqui. É por ela que o senhor [Bolsonaro] está aqui, para cuidarmos dela, para zelarmos por ela, para aprofundarmos na diversidade e nas diferenças a nossa realidade democrática", declarou.

Em seu discurso, Bolsonaro disse que a chegada do líder do Centrão à Casa Civil mostra que seu governo quer cada vez mais "aprofundar o relacionamento com o Parlamento".

Ciro tomou posse numa concorrida cerimônia no Planalto, com aglomeração no salão nobre do palácio.

O palco principal do evento reuniu autoridades do Congresso, dos estados e das Forças Armadas, mas sem ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).

De acordo com interlocutores, Ciro enviou um convite para o presidente do tribunal, ministro Luiz Fux. Mas ele declinou, justificando que o horário conflitava com a sessão da corte.

Estiveram no Planalto, além dos presidentes da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), os líderes do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), e no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO).

Quatro governadores foram chamados para compor o dispositivo principal: do Acre, Gladson Cameli (PP), do Amazonas, Wilson Lima (PSC), de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), e do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB).

Ainda estavam três militares de alta patente. Laerte de Souza Santos, chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas; Marcelo Damasceno, chefe do Estado-Maior da Aeronáutica; e Petronio Siqueira, chefe de Operações Conjuntas.

EVENTO CONCORRIDO

Diversos parlamentares do Centrão foram à cerimônia, entre eles o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, condenado no mensalão.

Entre os presentes, os senadores Eduardo Braga (MDB-AM) —integrante da CPI da Covid que tem se afastado do grupo crítico ao Planalto— e Chico Rodrigues (DEM-RR), que no ano passado foi flagrado com dinheiro em sua cueca numa operação da Polícia Federal.

Também compareceram o ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre (DEM-AP) e o deputado Paulo Pereira da Silva (SP), presidente do Solidariedade.

Integrantes do PP que têm sido críticos a políticas de Bolsonaro também foram prestigiar Ciro, como o deputado Fausto Pinato (SP) e a senadora Kátia Abreu (TO).

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