Publicado em 18 de janeiro de 2021 às 09:08
- Atualizado Data inválida
Antagonistas na pandemia, o governador João Doria (PSDB) e o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, deram início a uma troca de farpas menos de meia hora após a aprovação pela Anvisa da autorização de uso de duas vacinas contra a Covid-19. >
Fiador da Coronavac, do Instituto Butantan, Doria usou tom duro contra o ministro e o presidente Jair Bolsonaro, acusando-os de terem desprezo pela vida.>
"É o triunfo da vida contra os negacionistas, contra aqueles que preferem o cheiro da morte ao valor da vida e da alegria", afirmou o tucano, em entrevista coletiva no Hospital das Clínicas, logo apos assistir à primeira vacinada, a enfermeira Mônica Calanza.>
Ele também lembrou frases polêmicas ditas por seus adversários. "'E daí?', disse um brasileiro. 'Pressa pra quê?', disse outro. 'Toma cloroquina que passa', afirmou o líder do país. 'Já fizemos tudo, não há nada a fazer', repetiu este mesmo personagem. A vacina é uma lição para vocês autoritários, que desprezam a vida, que não têm compaixão", disse.>
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O governo de São Paulo deve repassar cerca de 4,6 milhões de doses da vacina já produzidas para o Ministério da Saúde distribuir aos estados, num processo iniciado já neste domingo (17). A vacinação federal está prevista para começar na quarta (20).>
Outro 1,4 milhão de doses permanece no estado. Nesta segunda (18), o governo de São Paulo promete iniciar a imunização em seis hospitais do estado.>
Doria afirmou também que por conta própria vai enviar 50 mil doses da Coronavac aos trabalhadores de saúde do Amazonas, independentemente da cota do estado no plano federal.>
O governador se disse atônito com declarações de Pazuello. Doria citou uma fala do ministro de que a Coronavac foi comprada com dinheiro do SUS. "A vacina só está no Brasil porque foi investimento de São Paulo. Ainda não há um centavo do governo federal", disse o governador.>
A vacinação significa um trunfo político de Doria sobre Bolsonaro - o governador aposta no imunizante como principal arma política para concorrer à eleição presidencial de 2022.>
A distribuição de doses para outras cidades, que já receberam em muitos casos seringas, envolve uma logística com 30 caminhões.>
Estimada em R$ 5,8 milhões, ela teve o custo reduzido para R$ 3,6 milhões porque duas empresas de transportes rápido, a líder de mercado Braspress e a West Cargo, aceitaram fazer o serviço de graça.>
Neste domingo, o governo de São Paulo lançou o site www.vacinaja.sp.gov.br para agilizar a campanha de vacinação.>
A ideia é que todas as pessoas aptas a receber a vacina do Butantan façam uma espécie de pré-cadastro, na tentativa de evitar aglomerações.>
Enquanto Doria falava em São Paulo, Pazuello batia boca com ele à distância, numa entrevista coletiva no Rio. Chamou o início da vacinação pelo tucano de estratégia de marketing.>
"Nós poderíamos iniciar por marketing a primeira dose em uma pessoa, mas em respeito a todos os brasileiros o Ministério da Saúde não fará isso, não faremos jogada de marketing", disse Pazuello, no Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia.>
Ele afirmou que o governo federal determinou por medida provisória que a coordenação do plano nacional de vacinação seja executada pelo Ministério da Saúde, em plano apresentado ao STF, lançado de maneira solene no Palácio do Planalto, por todos os governadores.>
"Quebrar essa pactuação é desprezar a igualdade entre os estados e todos os brasileiros construída ao longo de nossa história com o programa nacional de imunização. Quebrar isso é desprezar a lealdade federativa. Não permitam movimentos políticos e eleitoreiros se aproveitando da vacinação", criticou o ministro.>
Sem mencionar o nome de Doria, ele disse que o único objetivo da pasta tem que ser salvar mais vidas e não "fazer propaganda própria".>
Na última sexta (15), o Ministério da Saúde solicitou urgência para a entrega das 6 milhões de doses do Butantan, por enquanto com o governo de São Paulo.>
Além disso, a Fiocruz aguarda a chegada de 2 milhões de doses de vacina da AstraZeneca, que ainda estão em negociações com a Índia para que seja autorizada a entrega, segundo o próprio Pazuello.>
"É provável que a gente coordene essa entrega no começo da semana", disse o ministro. Ele afirmou que a Índia começaria sua vacinação no sábado (16).>
Ele apontou que todas as doses do Butantan são do Ministério da Saúde.>
"Todas, inclusive a que foi aplicada agora [em Calazans], é uma questão jurídica. Tudo que tem no estado de São Paulo é contratado e pago pelo Ministério da Saúde e o contrato é de exclusividade, 100% das doses", disse o ministro.>
Pazuello reafirmou que a coordenação do plano nacional de imunização é do Ministério de Saúde por força de lei. Disse ainda que está pactuado com os governadores que todas as doses recebidas serão distribuídas de forma proporcional aos estados.>
"Qualquer movimento fora dessa linha está em desacordo com a lei", declarou.>
Pazuello disse que nesta segunda (18), a partir das 7h, o Ministério da Saúde vai iniciar a distribuição da vacina para todos os estados, com apoio do Ministério da Defesa, com deslocamento aéreo.>
"Amanhã farei uma entrega simbólica aos estados e depois a FAB inicia a distribuição. Cada estado tem o seu plano logístico, são pactuados conosco, mas são dos estados, que fazem a distribuição dentro dos municípios", afirmou o ministro.>
Ele disse que São Paulo pode fazer sua vacinação, mas que ela deve acontecer em todos os estados. Segundo ele, a vacinação será igualitária e simultânea "qualquer movimento fora a isso está em desacordo com a lei".>
Pazuello mentiu ao dizer que o ministério tem as vacinas "em mãos", uma vez que a da AstraZeneca ainda não chegou ao país.>
"O Ministério da Saúde tem em mãos, neste instante, as vacinas, tanto do Butantan quanto da AstraZeneca [em parceria com a Fiocruz].">
Declarou ainda que o Butantan tem, no momento, produzido algo em torno de 900 mil doses e mais cerca de 1,5 milhão em fase final, chegando próximo de 3 milhões de doses feitas no Brasil.>
Porém, o instituto ainda não pediu aprovação de uso emergencial para as doses produzidas no país.>
"A aprovação da Anvisa é para as 6 milhões de doses importadas. O Butantan ainda tem que pedir e comprovar as suas ações para conseguir a utilização de uso emergencial para as doses produzidas no Brasil", disse o ministro.>
Pazuello confirmou que, no que depender do governo federal e do Ministério da Saúde, a vacina não será obrigatória e não confirmou se vai participar da vacinação.>
"Quando chegar o meu momento de tomar a vacina, se a estratégia for essa, eu tomo agora. Mas está um pouco longe ainda", disse Pazuello.>
Bolsonaro não havia se manifestado sobre a aprovação das vacinas pela Anvisa até a noite deste domingo (17).>
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