Publicado em 12 de agosto de 2020 às 17:01
Procurando ao mesmo tempo viabilizar o orçamento estadual para 2021 e estabelecer um ponto de comparação com administração de seu adversário Jair Bolsonaro, o governador João Doria (PSDB-SP) elaborou um projeto que visa economizar R$ 8,78 bilhões no ano que vem. >
Se aprovado pela Assembleia Legislativa, para onde foi enviado nesta quarta (12), faltam ainda pouco menos de R$ 2 bilhões para empatar com o rombo previsto de R$ 10,4 bilhões no primeiro orçamento desenhado sob o impacto da pandemia da Covid-19.>
"Nossa ideia é estabelecer cortes sem aumento de imposto", afirmou o articulador do projeto, o vice-governador Rodrigo Garcia (DEM). "Nós não vamos pelo caminho mais fácil, vamos cortar benefícios fiscais e também enxugar a máquina. São Paulo quer dar exemplo.">
O corte na renúncia fiscal vai atingir, segundo o projeto, 20% do volume concedido hoje, como adiantou o jornal O Estado de S.Paulo. Isso significaria a expectativa de R$ 8 bilhões a mais de arrecadação do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).>
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Desse valor, cerca de R$ 3,7 bilhões ficarão livres para o governo investir -o restante é rateado com municípios e respeita vinculações obrigatórias com saúde, educação e outros.>
Principal tributo estadual, respondendo por mais de 65% da receita de arrecadação, o ICMS responderá por R$ 141 bilhões do cofre paulista em 2021. "São Paulo vai puxar a fila, todos terão de fazer isso", afirmou.>
O governo espera que a Assembleia aprove rapidamente o projeto de lei, para que a nova regra possa estar válida em janeiro de 2021 e ser incorporada na proposta do orçamento estadual que será enviada no dia 30 de setembro.>
Isso ocorre porque alterações tributárias precisam obedecer a um prazo de 90 dias de carência para valer.>
Com isso, o estado tenta reverter as contas tenebrosas vigentes para o orçamento de 2021. Sem a medida, o rombo é de R$ 10,4 bilhões, ante receitas totais estimadas de R$ 214,9 bilhões.>
Segundo Garcia, medidas de administração tributária somadas a essa podem chegar a R$ 4,48 bilhões. "Também vamos realocar recursos que hoje estão sobrando em fundos e faltando em outras áreas", afirmou, estimando aí uma economia de R$ 3,72 bilhões ao ano.>
Já a reforma administrativa do governo, politicamente sempre difícil, tem um impacto financeiro menor. Seriam R$ 585,7 milhões anuais com a extinção de dez órgãos, entre eles a CDHU, de habitação, e a EMTU, de trens urbanos.>
Os cortes atingiram 5.600 funcionários públicos contratados pela CLT até 1983, que são passíveis de ser demitidos. Garcia diz que irá negociar provavelmente planos de demissão voluntária.>
Tudo isso visa o pós-pandemia, na esperança vigente no governo paulista de que a Covid-19 que atingiu inclusive Doria possa estar controlada. Neste ano, ainda vale o estado de exceção nas contas, com dinheiro extra entrando por meio da suspensão de pagamento de parcelas de dívida estadual com a União, por exemplo.>
"Hoje o deficit de arrecadação para 2020 está em cerca de R$ 17 bilhões, mas acreditamos que vamos empatar isso ao fim do ano. O problema é olhar para 2021, com previsão de inflação e de crescimento do PIB", afirmou o vice-governador.>
Em abrli, o governo já havia divulgado um pacote de corte de gastos, visando ajudar na chegada dessa conta.>
Politicamente, o projeto de lei tem um alvo certo: Bolsonaro e sua atribulada equipe econômica, que vive dias de "debandada", como afirma o ministro Paulo Guedes.>
Sob pressão pela ala militar e por setores ditos desenvolvimentistas do governo que querem mais gasto para compensar os efeitos recessivos da pandemia, Guedes tem perdido auxiliares em sequência.>
Quando Garcia sublinha que não irá subir imposto em São Paulo, é um recado para as propostas de Guedes. O ministro já quis recriar um tributo nos moldes da CPMF, e agora sua proposta de reforma tributária em etapas enviada ao Congresso prevê fundir a PIS e a Cofins.>
Separadamente, as contribuições somam alíquotas de 9%. Guedes queria inicialmente um novo tributo de 12%. A proposta embute compensação na forma de fim de renúncias fiscais da União, mas o próprio ministro já admite alterá-la.>
Na questão administativa, atacada também pelo plano paulista, a morosidade da reforma federal levou à saída do secretário de Gestão da Fazenda, Paulo Uebel.>
No começo do ano, antes da pandemia, Doria já havia elegido a economia como um dos pilares da preparação de sua eventual campanha para a Presidência em 2022. Agora, a percepção entre aliados do governador é de que o tema será ainda mais central devido à crise.>
Há outros pontos de conflito no campo tributário. Em reunião virtual, secretários de Fazenda ouvidos pela Comissão de Tributação da Câmara dos Deputados nesta quarta (12) criticaram o fatiamento proposto pela equipe de Paulo Guedes.>
Para Henrique Meirelles, secretário da Fazenda de São Paulo, "o fatiamento é muito ruim, o fundamental é reformar o ICMS".>
O consórcio dos secretários defende que haja uma unificação de diversos impostos que inclua o estadual, embora isso seja historicamente nenhuma mexida tributária conseguiu ultrapassar os interesses de cada unidade da Federação.>
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