Publicado em 13 de abril de 2020 às 19:49
Enquanto o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, equilibra-se na corda bamba, autoridades que ocupam o mesmo cargo em outros países também enfrentam pressão durante a pandemia do novo coronavírus, mas por outros motivos. >
Mandetta trava uma queda de braço com o presidente Jair Bolsonaro ao defender o isolamento social para conter o avanço da pandemia e ver com restrições o uso da cloroquina. Em outras nações, responsáveis pela área da Saúde deixaram o cargo ou foram criticados justamente por descumprir medidas de distanciamento ou por não reagirem à altura da crise.>
Na Escócia, por exemplo, a diretora médica do país, Catherine Calderwood, renunciou após ser flagrada viajando durante o período de isolamento social do Reino Unido, que impede esse tipo de deslocamento. Na semana passada, ela foi fotografada pelo jornal The Scottish Sun em Earlsferry, a cerca de 70 km de Edimburgo, onde mora. A diretora chegou a ser advertida pela polícia escocesa.>
No domingo (12), o número de mortes no Reino Unido passou de 10 mil. O primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Boris Johnson, recebeu alta após contrair a doença e ficar internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).>
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Em situação semelhante, o ministro da Saúde da Nova Zelândia, David Clark, deixou o cargo à disposição por ter quebrado as medidas de isolamento e levado a família à praia durante a pandemia. >
A primeira-ministra, Jacinda Ardern, entretanto, rejeitou o pedido de demissão por considerar que o momento é atípico. Em nota, a premiê reforçou que o que ele fez foi errado e que a Nova Zelândia espera e merece mais de Clark.>
Com as medidas restritivas, a Nova Zelândia tem conseguido controlar a propagação, com pouco mais de mil casos confirmados e apenas uma morte. >
Na Romênia, o ministro da Saúde, Victor Costache, renunciou ao cargo no dia 26 de março, em meio a críticas por falta de equipamentos em hospitais. O ministro pediu demissão 10 dias após o país decretar estado de emergência. A Romênia registrou mais de 4 mil casos e cerca de 200 mortes decorrentes da doença.>
Alguns dias antes, o ministro da Saúde holandês, Bruno Bruins, pediu demissão após desmaiar durante uma discussão sobre a covid-19 com parlamentares. Ele disse que o mal-estar ocorreu por trabalho intenso nas últimas semanas e que não sabia quanto tempo levaria para se recuperar. A estratégia holandesa é de "isolamento seletivo", com foco em pessoas que fazem parte do grupo de risco. Até quinta-feira passada, o país registrava mais de 20 mil casos e quase 3 mil mortes.>
Para o professor de Administração Pública da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Álvaro Guedes, os responsáveis pela área de saúde ganham notoriedade durante a crise simplesmente por cumprirem o seu papel e por fazerem aquilo que se espera.>
"Em um ambiente de tanta turbulência, quem faz o que precisa ser feito ganha notoriedade. Por contraste, acaba aparecendo, porque está em um ambiente de pessoas que não fazem aquilo que se espera", comentou Guedes.>
No Brasil, Mandetta tem sido alvo de fritura após contrariar o presidente em diversas ocasiões. Após Bolsonaro aumentar as críticas ao ministro e dizer que iria usar a "caneta" contra integrantes de sua equipe que "viraram estrela", o ministro disse que não deixaria o cargo por vontade própria. "Médico não abandona o paciente", afirmou ele em entrevista no dia 6.>
Três dias depois, em uma "live" no Facebook, Bolsonaro rebateu. "Médico não abandona paciente, mas o paciente troca de médico", afirmou, sem citar o nome de Mandetta.>
Nos Estados Unidos, as divergências entre o presidente Donald Trump e parte de sua equipe técnica também são escancaradas quase diariamente durante as coletivas de imprensa da Casa Branca sobre o tema.>
O diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas, Anthony Fauci, integrante da força-tarefa do governo americano para conter a pandemia, é tido por especialistas como a voz da sensatez nos pronunciamentos feitos pela equipe. Fauci já desmentiu Trump na frente do próprio presidente ao falar, por exemplo, sobre a cloroquina. Ele frisa que não há eficácia comprovada no uso do medicamento, que tem sido defendido por Trump, e pede cautela na utilização da droga no tratamento do covid-19.>
Apesar das diferenças explícitas, Fauci já afirmou em entrevista que nunca viveu uma situação em que Trump se negou a adotar as políticas de enfrentamento ao vírus sugeridas pela equipe médica depois de convencido de que são as medidas mais seguras à população.>
Desde o meio de março, Trump vem defendendo as políticas de distanciamento social extremo. O presidente dos EUA demorou a assumir a responsabilidade na crise, o que tem sido apontado por epidemiologistas como uma das razões para que os EUA tenham se tornado o epicentro mundial da pandemia. Mais de 22 mil pessoas morreram no país em decorrência da covid-19 e o pico do problema ainda nem chegou, segundo modelos estatísticos usados pelas autoridades americanas.>
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