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Chefe de milícia integrava 'núcleo' de grupo de Flávio Bolsonaro, diz MP

Chefe de milícia integrava "núcleo" de grupo de Flávio Bolsonaro, diz MP

Segundo investigação, o ex-PM e miliciano Adriano da Nóbrega era "executivo" de organização criminosa e participou de plano para esconder família de Fabrício Queiroz

Publicado em 20 de junho de 2020 às 13:32

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Pela primeira vez desde o início das investigações sobre o gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio, o Ministério Público Estadual encontrou provas de que pessoas ligadas ao senador mantinham contato com o miliciano Adriano Magalhães da Costa da Nóbrega, chefe da milícia Escritório do Crime, no período em que este era procurado pela Justiça. O chefe do grupo criminoso teria participado da elaboração de um plano de fuga da família do ex-assessor Fabrício Queiroz e integrava, segundo o MP, "o núcleo executivo da organização criminosa" supostamente liderada pelo atual senador.

Ex-capitão da PM Adriano Magalhães da Nóbrega, suspeito no caso Marielle
Ex-capitão da PM Adriano Magalhães da Nóbrega, suspeito no caso Marielle. (Polícia Civil/Divulgação)

Até então, as relações de Adriano com o gabinete de Flávio haviam acontecido no período em que, de acordo com as investigações, ainda não era pública a associação do ex-capitão com o crime organizado. Flávio, por exemplo, havia homenageado o então policial na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Também o visitara na cadeia, quando ele respondia a um processo por homicídio. Por fim, empregou a mãe de Adriano, Raimunda Veras Magalhães, e a ex-mulher dele, Danielle Mendonça da Costa, como funcionárias fantasmas em seu gabinete na Alerj, segundo a investigação.

No caso de Raimunda, o Ministério Público apresentou à Justiça provas de que ela nunca esteve na Alerj. Examinando os deslocamentos de seu telefone celular, foi possível verificar que o aparelho jamais se aproximou do prédio em que ela devia trabalhar. Raimunda é sócia de uma pizzaria com o filho. Da conta da pizzaria saíram R$ 69,2 mil para Fabrício Queiroz.

Tanto Raimunda quanto Danielle pertenceriam ao suposto esquema de "rachadinha", na qual parte do dinheiro pago aos assessores do gabinete seria apropriado pelo então deputado estadual Flávio Bolsonaro.

No pedido de prisão de Queiroz apresentado à 27.ª Vara Criminal, o Ministério Público do Rio afirma que o capitão Adriano "se valia de parentes para integrar o núcleo executivo da ORCRIM (organização criminosa)". O documento estima que ele repassou mais de R$ 400 mil para contas administradas por Queiroz, acusado de ser o operador financeiro da organização.

Prisão de Fabrício Queiroz em Atibaia, interior de São Paulo(Divulgação/ Policia Federal)

OPERAÇÃO

As pistas que ligavam o chefe da milícia ao esquema da rachadinha surgiram em outra investigação do Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Eram dados extraídos do telefone celular apreendido com Danielle na casa do miliciano durante a Operação Intocáveis.

No WhatsApp da ex-mulher do criminoso – que morreu em tiroteio com a polícia baiana em 9 de fevereiro deste ano – foram achadas conversas com Queiroz. Segundo os promotores, ela tinha ciência de que era funcionária fantasma e temia a origem ilícita do dinheiro. Por fim, dizem os investigadores, Queiroz e Adriano "tentaram embaraçar a investigação", mandando Danielle faltar no depoimento no MP. Eles enviaram um advogado para conversar com ela, "deixando claro que a organização criminosa, além de poder pressionar e intimidar as testemunhas dos fatos, estaria abordando as pessoas intimadas e articulando a combinação de teses defensivas fantasiosas entre os autores e partícipes dos crimes".

Tudo isso antes de Adriano ter sua prisão decretada. O caso mais grave ocorreu depois e foi descoberto com a apreensão do celular da mulher de Queiroz, Márcia Oliveira Aguiar, ocorrida em 18 de dezembro de 2019.

Naquele dia, conforme o relatório do MP, ela pretendia embarcar para São Paulo, onde ia se esconder com Queiroz, que era mantido na casa do advogado Frederick Wassef, em Atibaia. Para não ser descoberto, Queiroz desligava o celular quando entrava na região de Atibaia - Márcia era orientada pelo "Anjo", o homem que monitorava Queiroz, a fazer o mesmo.

O plano, segundo o MP, começara a ser traçado um mês antes, em reunião na cidade do interior paulista entre Queiroz, o advogado Luis Gustavo Botto Maia, que defende Flávio Bolsonaro, e o Anjo. Eles aguardavam o julgamento pelo Supremo Tribunal Federal sobre o compartilhamento de dados do Coaf e temiam uma decretação de prisão. Mensagens de Queiroz à mulher mostram que o ex-assessor mandou Márcia procurar Raimunda, que estava escondida em uma casa na cidade de Astolfo Dutra, em Minas.

Era necessário conversar pessoalmente com a mãe do miliciano, que se escondia em Minas por orientação de Queiroz e de Botto Maia. O advogado do senador também participaria do encontro. Os três iam esperar a chegada da mulher de Adriano, que levaria ao miliciano um recado de Botto Maia.

Quando estavam na cidade, Márcia mandou foto dela com o advogado para Queiroz. Ele, então, segundo a promotoria, advertiu a mulher "para apagar sua localização, a fim de dificultar eventual rastreamento, o que mais uma vez ressalta a natureza clandestina do encontro e o provável caráter ilícito da proposta que estaria sendo encaminhada a Adriano". Depois, novo encontro entre os quatro ocorreu no Rio, no dia 17, quando a mulher do miliciano voltou da Bahia e transmitiu pessoalmente a reposta do foragido ao advogado do senador.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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