Publicado em 30 de junho de 2023 às 14:17
BRASÍLIA - A ministra Cármen Lúcia foi a responsável por dar o voto que formou maioria nesta sexta-feira (30) para tornar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) inelegível em julgamento no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).>
A magistrada fez uma defesa enfática dos colegas de STF (Supremo Tribunal Federal) que protagonizaram embates com o ex-mandatário e disse que Bolsonaro fez "achaque a ministros" do Supremo.>
"A crítica feita a qualquer servidor público acontece e faz parte, o que não se pode é um servidor público, em espaço público, com equipamento público e transmissão pública fazer achaques contra ministros do Supremo como se não estivesse achacando a própria instituição e a democracia é feita com um judiciário independente", disse.>
Cármen afirmou, ainda, que os ministros Luís Roberto Barroso, Edson Fachin e Alexandre de Moraes, que foram atacados por Bolsonaro, têm notório saber jurídico e que as críticas não têm embasamento.>
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Ela aceitou a inclusão no processo da minuta do golpe encontrada na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres. Cármen afirmou, porém, que não é preciso analisar outros fatos além da reunião com embaixadores em que Bolsonaro desacreditou as urnas eletrônicas para declarar a inelegibilidade do ex-presidente.>
"O que está aqui não é um filme, o que está em apreciação é uma cena, aquilo que aconteceu e pelo qual não se controverte nos autos. Ocorreu, portanto, essa reunião e nessa reunião, num monólogo, o primeiro investigado, que era presidente da República, a menos de três meses das eleições, que se cuidava ali de uma exposição basicamente sobre alguns temas, todos eles relativos à eleição. Esse é o objeto" disse.>
A magistrada rejeitou a tese da defesa de que a Justiça Eleitoral não teria atribuição para analisar o caso.>
"A Justiça Eleitoral é competente por determinação constitucional e legal, porque estamos aqui a tratar de uma ocorrência comprovada e não contestada que teria de alguma forma tisnado a normalidade e legitimidade do pleito eleitoral", disse.>
O voto de Cármen é o quinto do julgamento, em uma corte que tem sete ministros. Ele deu o voto que formou maioria para tornar o ex-presidente inelegível até 2030, quando terá 75 anos.>
Depois dela, o ministro Kassio Nunes Marques iniciou seu voto. Ainda falta Alexandre de Moraes, presidente da corte.>
Nesta quinta-feira (29), Cármen já tinha saído em defesa do relator da ação, o ministro Benedito Gonçalves.>
Ela interrompeu Raul Araújo, que lia um voto contrário à inelegibilidade de Bolsonaro e dizia não haver conexão entre a ação e a minuta de golpe encontrada pela Polícia Federal na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres.>
A ação contra Bolsonaro foi apresentada pelo PDT e foca reunião ocorrida em julho do ano passado com embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada. Na ocasião, a menos de três meses da eleição, o então presidente fez afirmações falsas e distorcidas sobre o processo eleitoral, alegando estar se baseando em dados oficiais, além de buscar desacreditar ministros do TSE.>
"Não me pareceu que no voto do ministro relator tivesse nenhuma referência, nem de autoria e nem de responsabilidade, do primeiro investigado [com a minuta golpista]", disse Cármen.>
O primeiro investigado, como é chamado na ação, é Bolsonaro. "Eu por exemplo, no meu voto, nem uso este dado. Fiz um voto apenas da cena que é o objeto do cuidado [a reunião com embaixadores]", acrescentou.>
Raul rebateu e disse que houve "farta referência" à minuta no voto de Benedito.>
O processo no TSE mira Bolsonaro e Walter Braga Netto, ex-ministro que foi candidato a vice na chapa derrotada do PL à Presidência em 2022. Já foi formada maioria, porém, contra a inelegibilidade de Braga Netto, os quatro ministros que já votaram tiveram esse entendimento.>
Dois dos ministros que votaram nesta quinta, Floriano de Azevedo Marques e André Ramos Tavares são professores da USP e assumiram o cargo em maio, em uma mudança na composição da corte influenciada pelo presidente do TSE, Alexandre de Moraes.>
Na terça (27), o relator havia afirmado não ser possível fechar os olhos para discursos antidemocráticos com mentiras e discursos violentos, criticando ainda a banalização do golpismo e destacando a epopeia de ataques do ex-presidente com uso da imagem das Forças Armadas.>
Benedito defendeu que seu voto seja encaminhado ao TCU (Tribunal de Contas da União) e para inquéritos criminais em curso no STF (Supremo Tribunal Federal) para apurar se cabem investigações contra Bolsonaro pelas condutas em debate para além da Justiça Eleitoral.>
O advogado do ex-presidente, Tarcísio Vieira de Carvalho, já admite recorrer ao STF em caso de derrota na corte eleitoral.>
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