Publicado em 26 de abril de 2021 às 18:06
Por unanimidade, o Conselho de Ética da Câmara Municipal do Rio de Janeiro determinou, nesta segunda-feira (26), abertura de processo pela cassação do vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho, preso há duas semanas sob suspeita de ter matado o menino Henry Borel, de 4 anos.>
O conselho afirmou que a decisão se baseia "em extenso conjunto probatório, que aponta no sentido da prática, no caso, de atos atentatórios ao decoro parlamentar pelo representado".>
"Após tomar conhecimento do teor das investigações e do conjunto probatório reunido no inquérito policial -que indicam a presença de elementos suficientes de autoria e materialidade da prática, em tese, de monstruoso crime pelo representado, não restou outro caminho ao Conselho de Ética desta Casa senão apresentar representação e requerer a instauração do respectivo processo ético-disciplinar contra o senhor vereador Dr. Jairinho, por conduta atentatória ao decoro parlamentar", afirmou relatório da comissão.>
O processo pode consumir de 60 a 80 dias. Os sete integrantes do Conselho de Ética entraram com uma representação conjunta.>
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O regimento interno da Câmara determina que o processo de cassação contra um vereador seja iniciado por uma representação deliberada pelo Conselho de Ética ou ainda por uma representação assinada por 22 vereadores.>
A representação é então analisada pela Mesa Diretora em até três dias úteis e depois encaminhada à Comissão de Justiça e Redação, que tem mais cinco dias para estudá-la. Após aprovado, o processo volta para o Conselho de Ética, que sorteia um relator e cita o vereador em até cinco dias.>
O político então tem dez dias para apresentar sua defesa à comissão, que em seguida inicia a fase de instrução do processo com prazo de 30 dias, prorrogáveis por mais 15. Depois disso, o relator tem cinco dias para divulgar seu parecer, pela representação ou pelo arquivamento.>
O conselho tem mais cinco dias para deliberar sobre a decisão. Se a maioria absoluta dos membros concordar com a denúncia, o processo é incluído na ordem do dia e votado abertamente no plenário da Casa, sendo necessários dois terços dos votos para a perda do mandato.>
Jairinho chegou a integrar o Conselho de Ética da Câmara, mas foi afastado ao ser preso, em 8 de abril. Nesta segunda (19), ele também foi retirado da presidência da Comissão de Justiça e Redação após o Solidariedade formalizar a sua expulsão do partido.>
Também nesta segunda-feira (26), os advogados de Monique Medeiros, mãe de Henry, apresentaram à polícia uma carta em que ela afirma ter sido drogada por Jairinho na madrugada em que seu filho faleceu após ter sofrido agressões.>
Na carta, de 29 páginas, Monique diz que naquele dia 8 de março colocou o menino para dormir após ele acordar três vezes. Quando o casal cansou de assistir a uma série, por volta da 1h30, o vereador disse para irem para o quarto dormir.>
Segundo essa nova versão, Jairinho ligou a televisão num canal qualquer, baixinho, ligou o ar condicionado, deu a ela dois medicamentos que estava acostumado a dar. "Dizia que eu dormia melhor, mas eu não o vi tomando. Logo, eu adormeci", escreveu ela na carta.>
O advogado de Jairinho, Braz Sant'Anna, afirma que "a carta da Monique é uma peça de ficção, que não encontra apoio algum nos elementos de prova carreados aos autos". Ele, porém, afirmou que só falará sobre a tese da defesa após a denúncia.>
Após protocolarizar a carta da cliente, a defesa da mãe de Henry divulgou uma nota afirmando que "um inquérito policial não pode ser encerrado com contradições internas".>
"Se existiram várias novas audições de pessoas que já tinham prestado declarações e alteraram seus depoimentos, maior razão ainda deveria ter a autoridade policial para ouvir novamente Monique", insistem.>
Ainda segundo a nota dos advogados de Monique, "a defesa requereu que a Anvisa e o órgão fiscalizador estadual competente sejam instados a fornecer relatório de todas as eventuais receitas médicas subscritas pelo indiciado Jairinho".>
O Conselho de Ética da Câmara Municipal recebeu uma cópia do inquérito do caso, que é sigiloso, na última terça (20) e começou a analisá-lo no dia seguinte.>
Após ler o inquérito, que ainda não foi concluído formalmente pela 16ª delegacia (Barra da Tijuca), Chico Alencar afirmou à reportagem que, na sua visão, "esse procedimento, confirmadas as fortíssimas suspeitas, é totalmente incompatível com o decoro parlamentar e com o exercício de qualquer função pública".>
Ele diz que o relatório está dividido em duas partes, uma sobre a combinação de versões entre os envolvidos para supostamente proteger o autor do crime e a outra sobre o crime em si, contendo os laudos periciais, as contradições iniciais e os novos depoimentos.>
Ele afirma que, mesmo para leigos, tudo indica que a conclusão das investigações levarão ao indiciamento do parlamentar por homicídio duplamente qualificado, por motivo torpe e contra pessoa indefesa, como o delegado Henrique Damasceno já havia indicado no dia da prisão.>
A interpretação de Alencar é de que o documento retrata Jairinho como uma pessoa supostamente dotada de "dupla personalidade" e fria, que não demonstrou abalo "em diferentes contatos imediatamente após o crime". Ele cita a tentativa do vereador de agilizar o enterro de Henry com um "prestigiado conselheiro do hospital", para evitar o exame do corpo.>
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