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É engenheiro agrônomo, doutor em Entomologia e professor do curso de Agronomia da Faesa

Preservação da biodiversidade requer agricultura mais sustentável

Ainda é preciso avançar muito no setor, levando cada vez mais em consideração três pilares: ser ambientalmente correto, socialmente justo e economicamente viável

  • Renan Batista Queiroz É engenheiro agrônomo, doutor em Entomologia e professor do curso de Agronomia da Faesa
Publicado em 13/05/2021 às 14h00
Plantio de Café
Café capixaba mostra que é possível aumentar produção, preservando o meio ambiente. Crédito: Divulgação

Brasil possui a maior biodiversidade do mundo, com biomas que apresentam elevada riqueza natural e variedade de espécies. O país lidera mundialmente em número de espécies de plantas e anfíbios já descritos, além de ocupar o segundo lugar em espécies de mamíferos e anfíbios, e o terceiro em aves, répteis e peixes já descritos. Cerca de 700 novas espécies de animais são descobertas todo ano no nosso país. Mas como aumentar a produção agrícola sem colocar em risco a continuidade e a diversidade de todas essas espécies naturais?

Para ser sustentável, a agricultura precisa melhorar a produtividade agrícola, aumentar a eficiência no uso de insumos, aumentar a segurança dos trabalhadores, diminuir os impactos ambientais e reduzir custos de produção. Ainda se faz necessário avançar muito em sustentabilidade nessa área, levando cada vez mais em consideração os pilares: ser ambientalmente correto, socialmente justo e economicamente viável.

De acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), teremos em 10 anos um incremento de 600 milhões de pessoas no mundo, com uma demanda de 20% a mais de alimento. O Brasil, pela sua capacidade de produção agrícola pode contribuir com cerca de 44% dessa demanda. Isso é uma oportunidade e ao mesmo tempo um enorme desafio, pois essa produção precisa ser sustentável.

Hoje, o consumidor de alimentos, cada vez mais esclarecido, quer saber de onde vem o produto, em quais condições ele foi produzido, se houve uso de trabalho escravo, se tem resíduos de pesticidas. Ou seja, a alimentação segura só será possível a partir da rastreabilidade dos produtos agrícolas. E esse é um caminho sem volta!

Tomando como base a realidade agrícola do nosso Estado, o Espírito Santo tem como principal produto o café, conilon ou arábica. Os municípios capixabas que são os maiores produtores de café conilon estão localizados em torno da maior reserva natural do Estado, a Reserva Natural da Vale, que possui cerca de 23 mil ha conservados. Isso demonstra que é possível produzir e aumentar a produção agrícola, preservando o meio ambiente. Reconhecendo essa produção sustentável, recentemente o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) concedeu o selo de Indicação Geográfica (IG) ao Café Montanhas do Espírito Santo, na categoria de Denominação de Origem (DO).

Só é possível dar continuidade a esses avanços em sustentabilidade investindo cada vez mais em pesquisa e inovação. Precisamos de estratégias de manejo e conservação de solos, além do uso eficiente dos recursos hídricos, componentes fundamentais para a agricultura. Sem contar as questões que envolvem as mudanças climáticas, cujos fatores estão cada vez mais frequentes a nível local.

Para se ter ideia, num período de sete anos, o Espírito Santo foi de um extremo a outro: passou pelo maior volume de chuvas já registrado, em 2013, e pela maior seca, entre os anos de 2015 e 2017. A lição que podemos tirar disso é que se tivéssemos formas eficientes de conservar e reservar água, todo o volume de chuvas de 2013, que foi para o mar, poderia ter sido utilizado na estiagem severa sofrida nos anos subsequentes. O uso eficiente da água é primordial para uma agricultura sustentável.

Diante de todas essas questões e desafios que se impõem à sustentabilidade na agricultura, sintetizo em uma frase que ouvi certa vez de um cafeicultor do sul de Minas Gerais: “A terra nos foi concedida para usarmos e devolvê-la melhor do que pegamos”. E essa é uma responsabilidade da qual não podemos nos eximir.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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