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É especialista em Comunicação e Estratégia Política

O que a política pode aprender com o fenômeno Juliette, do 'BBB 21'?

É claro que entretenimento é mais fácil de ser compreendido do que conteúdo político. É por isso que a política precisa ser pop. É preciso ser acessível e ter uma narrativa que represente

  • Ananda Miranda É especialista em Comunicação e Estratégia Política
Publicado em 12/05/2021 às 02h00
Juliette Freire, campeã do
Juliette Freire, campeã do "BBB 21", da Globo. Crédito: Instagram/ Juliette Freire

Finalizada no dia 4 deste mês, a 21ª edição do "Big Brother Brasil" ficou marcada por muitos debates sociais, mas, principalmente, pelo furacão de marketing que, não à toa, ganhou o prêmio de um milhão e meio de reais: a advogada e maquiadora Juliette Freire.

Juliette já é um fenômeno. Com 28 milhões de seguidores apenas no Instagram, a paraibana já tem mais audiência do que figuras amplamente populares, como a funkeira Ludmilla, a apresentadora Xuxa Meneghel ou, para entrar no nosso campo, o apresentador e eterno virtual candidato à Presidência da República Luciano Huck. Na rede social, entre os políticos, a maquiadora ganha de lavada: 10 milhões de seguidores a mais do que o presidente Jair Bolsonaro e 24 milhões a mais do que as redes de LulaJoão Doria e Ciro Gomes juntas.

É claro que, à primeira vista, os campos parecem opostos: política não é entretenimento e vice-versa. Mas essa sentença está errada. A política pode não parecer ser entretenimento, mas, em muitos momentos, é. E é aqui que nossa história começa.

Jingles e peças cinematográficas para o horário eleitoral são artifícios do entretenimento para popularizar a mensagem política que cada candidato carrega. Quanto mais pop, mais gente a mensagem alcança. O jingle da campanha vitoriosa no Recife na última eleição, a do prefeito João Campos (PSB), era no ritmo brega funk. Mais popular do que o brega e que o funk, só misturando esses dois mesmo! Foi um sucesso. 

Mas um jingle chiclete não é o suficiente nem para ganhar uma eleição e, principalmente, para se estabilizar enquanto figura política. Para se destacar em meio a bilhões de conteúdos online, impresso e televisionado, é preciso fixar sua audiência. E Bolsonaro faz isso com maestria usando suas polêmicas. Abusa do artifício, custe o que custar, justamente por saber que é o que torna sua audiência aficionada. Bolsonaro sabe que não tem eleitores, tem fãs – abreviação de fanáticos. O fã também é engrenagem indispensável do universo pop; é o fã que defende e, principalmente, espalha a mensagem do seu ídolo.

E Juliette, onde entra nessa história? Como falei, não basta ser chiclete para se estabilizar. Entendendo isso, os administradores de sua rede destacaram a identidade nordestina e enfatizaram a narrativa de perseguida dentro do reality show. Você pode pensar: "ah, mas outros participantes já fizeram isso". É verdade, mas não com uma equipe de 20 pessoas durante 24 horas dedicadas exclusivamente às redes sociais e a alimentar seus eleitres com conteúdo da jogadora, seus eleitores.

Enquanto Juliette fazia seus comícios, seus administradores cuidavam da campanha nas redes. Era Julliete rindo, Julliete chorando, outros jogadores tramando contra Julliete, Julliete cantando, Juliette falando do Nordeste... Percebendo o potencial de crescimento, famosos de todas as áreas endossaram a jornada da maquiadora, fazendo com que o conteúdo da sister fidelizasse também os seguidores dessas figuras públicas, ampliando ainda mais a base de apoio da jogadora. Juliette explodiu.

É evidente que um conteúdo dedicado ao divertimento é mais leve e mais fácil de ser compreendido do que um conteúdo político. É justamente por isso que a política precisa ser pop. É preciso falar fácil, ter uma narrativa que represente e, principalmente, disseminar conteúdos para seus fãs, digo, eleitores. Isso não quer dizer rebaixar o nível da comunicação política. Pelo contrário, é fazer da estratégia de comunicação ferramenta crucial para, cada vez mais, aprimorar e refrescar nossos quadros políticos.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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