LAB Audiovisual CineMarias vão produzir curtas com base em denúncias e experiências com a violência de gênero
LAB Audiovisual CineMarias vão produzir curtas com base em denúncias e experiências com a violência de gênero. Crédito: Zanete Dadalto / Arco

Mulheres vão produzir filmes a partir de denúncias de violência de gênero

Até 26 de julho, participantes do LAB Audiovisual CineMarias vão produzir curtas com base em denúncias e em experiências próprias de violência contra a mulher. Obras serão lançadas durante mostra nacional de cinema feminino

Tempo de leitura: 6min
Publicado em 21/07/2022 às 12h56

Lei Maria da Penha marcou a importância do combate à violência de gênero e, para reforçar esse debate urgente e o protagonismo de identidades femininas nas telas, o LAB Audiovisual CineMarias promove, até o dia 26 de julho, oficinas de roteiro, direção e edição para 30 mulheres da Grande Vitória.

As alunas estão criando roteiros de três filmes-poesia inspirados em suas próprias experiências e em seus desejos de ver, no futuro, outros desfechos para essas histórias de violência presentes no Espírito Santo e no Brasil.

As produções também se inspiram no livro “Cartas à Maria da Penha”, obra financiada com recursos de emenda parlamentar, resultado de um projeto mais amplo com oficinas de escrita criativa que nasceu da inquietação da organizadora e idealizadora do material, Daniela Barreto Andolphi, com o alto índice de mulheres vítimas de violência familiar da Grande Terra Vermelha, Vila Velha.

Com a capacitação, as alunas têm a oportunidade de aprender técnicas da área do audiovisual, trabalhando de forma poética e artística com profissionais reconhecidas do circuito capixaba e nacional.

A cineasta Joyce Prado, que possui importantes contribuições para o cinema nacional, veio a Vitória para aplicar a oficina “Existo porque resisto”, onde as alunas vivenciam, na prática, a experiência de um set de cinema e estúdio de gravação explorando uma série de habilidades que existem em torno do audiovisual para construção de narrativas, mensagens, posicionamentos e formas de reivindicação que elas querem trazer para o curta.

“A ideia principal das oficinas é conversar sobre quais são as potências que o audiovisual tem da transmissão de conhecimento, da reivindicação por direitos, do registro e dos conflitos do que é contemporâneo, como o direito das mulheres e a vivência de pessoas negras e trans, vistas como minorias”, destaca Prado.

Para as produções, foi escolhido o cinema de poesia por unir elementos reais e experimentais de ficção e de poesia, permitindo, assim, que um assunto tão delicado e sensível possa ser abordado com uma linguagem livre, sem perder o caráter importante da denúncia.

“É uma maneira de unir duas potentes linguagens, pensando no que consegue potencializar do poema no audiovisual e o que consegue potencializar do audiovisual a partir do poema, tendo em vista, também, que o poema traz em sua grande maioria um lugar de primeira pessoa, potencializando as narrativas, e conseguindo traduzir tão bem o relato de vivências sob as perspectivas de cada um dos projetos”, afirma a cineasta.

Os filmes-poesia serão lançados durante a 1ª Mostra Cinemarias – Corpo é território, que acontece de 1º a 3 de setembro, no Cine Metrópoles, na Ufes, com exibição de curtas capixabas e nacionais dirigidos por identidades femininas. As duas mostras são competitivas e terão premiação para o melhor filme e direção.

CINEMA PARA GRUPOS DE RISCO

O LAB é voltado para mulheres cis, trans, travestis e pessoas não-bináries, com idades entre 18 e 35 anos. As inscrições para a etapa formativa do CineMarias foram realizadas entre 2 e 21 de junho e contaram com aproximadamente 100 inscritas. A comissão avaliadora selecionou as 30 jovens que receberão bolsa-auxílio de até R$ 600 para participarem das atividades e estudarem cinema pela primeira vez.

Foram selecionadas mulheres residentes da Grande Vitória e, prioritariamente, moradoras de comunidades atendidas pelo programa Estado Presente ou inscritas no CADÚnico. Desse grupo, também foram priorizadas Pessoas com Deficiências (PCDs) e que já sofreram algum tipo de violência ou mesmo acionaram a Lei Maria da Penha.

Os dados evidenciaram que, entre as inscritas, 69,6 % já sofreram algum tipo de violência (física, sexual, patrimonial ou moral), 68,5% se autodeclara negra (pretas e pardas) e a maioria possui renda de até um salário mínimo (66,3%).

POTENCIAL EMPODERADOR E CRIATIVO

Maytê Hensso, aluna do LAB 2022 e também produtora cultural e bailarina com projeto aprovado pela Secult ES, enxerga potencial empoderador e criativo do curso.

“O LAB Audiovisual CineMarias tem se tornado um ambiente onde é possível encontrar mulheres potentes com o desejo de sobrepujar a estrutura operante a partir da experiência visual. A troca valiosa que tem ocorrido nos encontros nos une ao tempo que nos colocamos, cada uma com sua identidade e modo de fazer e pensar. Assim, acredito que a evocação das Marias para esse encontro é uma forma de, pelo visual, sensibilizar o olhar para perceber os espectros das diversas feminilidades presentes na sociedade capixaba. Um convite a refletir sobre essas corporeidades e seus atravessamentos sociais.”, afirma.

No dia 13 deste mês, as alunas participaram de uma roda de conversa sobre os tipos de abusos e mecanismos da Lei Maria da Penha. “É preciso que a mulher saiba e tenha ferramentas para conhecer a aplicabilidade e extensão da lei, podendo ter conhecimento dos seus direitos para combater as violências e agressões físicas, psicológicas e tantas outras sofridas diariamente”, afirmou Andréa Magalhães, delegada do Plantão Especializado de Atendimento à Mulher em Vitória, convidada para participar do primeiro dia de acolhimento presencial, tirando dúvidas das participantes a respeito da Lei nº 11.340/2006 e sobre o direito da mulher.

LAB Audiovisual CineMarias vai produzir curtas com base em denúncias e experiências com a violência de gênero. Obras serão lançadas durante mostra nacional de cinema feminino
LAB Audiovisual CineMarias promove oficinas de roteiro, direção e edição para 30 mulheres da Grande Vitória. Crédito: Zanete Dadalto / Arco

Para a coordenadora Estadual de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar do Tribunal de Justiça do Espírito Santo, juíza Hermínia Azoury, também presente na roda de conversa, o CineMarias consegue “abordar de forma tão lúdica uma temática tão triste”, afirmando para as jovens a importância de que elas sejam multiplicadoras dessa temática de combate a violência por meio do cinema. Também participaram do momento a analista do judiciário do TJES Inês Veltri, Lucilene Mol Roberto e a psicóloga clínica hospitalar Alessandra de Freitas Dias de Jesus do Instituto Psicologia para Todos.

Em 2021, houve um total de 1.319 feminicídios no país, recuo de 2,4% no número de vítimas registradas em relação ao ano anterior. Já a taxa de mortalidade por feminicídio foi de 1,22 mortes a cada 100 mil mulheres, ficando o Espírito Santo entre os oitos Estados com maiores taxas no país com 1,7, superior à média nacional. Os primeiros foram Tocantins e Acre, ambos com média de 2,7 casos, seguidos de Mato Grosso do Sul (2,6), Mato Grosso (2,5), Piauí (2,2), Rondônia (1,8), e Pernambuco e Espírito Santo, ambos com 1,7. Os dados são do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

CRONOGRAMA DAS ATIVIDADES

Produção de filmes

  • 21/07 - Oficina de direção e produção de filmes-poesia "Existo Porque Resisto" com Joyce Prado, que atua como diretora, roteirista e também é a fundadora da Oxalá Produções, empresa focada em conteúdos sobre a cultura e comunidade afro-brasileira e diaspórica
  • Local e horário: Ufes (campus Goiabeiras em Vitória) - 12h às 18h
  • 25 e 26/07 - Somos todas montadoras - introdução ao pensamento da edição
  • Local: FAESA (unidade da Av. Vitória) - 12h às 18h

1ª Mostra CineMarias - Corpo é Território

  • O CineMarias também realiza entre 1º e 3 de setembro a 1ª Mostra CineMarias - Corpo é Território, no Cine Metrópolis (Ufes), um festival de cinema feminino que propõe uma reflexão sobre a memória social da mulher a partir das experiências de seu corpo individual e coletivo nos espaços que ela ocupa.
  • A mostra conta ainda com a formação "A Tela Por Elas", workshops e masterclasses de criação gratuitos com profissionais reconhecidas do cinema e da TV nacional.
  • Todas as atividades são gratuitas e as inscrições para a formação, assim como a íntegra da programação de filmes e rodas de debates serão divulgadas um mês antes do evento, no início de agosto nas redes sociais do projeto.

Divulgação da programação do LAB Audiovisual CineMarias 2022

  • Realização do LAB Audiovisual e da Oficina “Existo Porque Resiso”: até 26 de julho
  • Vagas: 30
  • Público: mulheres cis, trans, travestis e pessoas não-bináries, de 18 a 35 anos, prioritariamente residentes nos bairros abrangidos pelo Programa Estado Presente do Governo do Estado do Espírito Santo ou inscritas no CADÚnico.
  • Ações: LAB Audiovisual com bolsas para sensibilização e capacitação básica (cursos de roteiro, direção e montagem, e oficina prática de filmes-poesia). Atividades educativas sobre direito e violência contra a mulher, dramaturgia e representação feminina na TV, no cinema e na mídia. O valor da bolsa para as participantes é de R$ 600

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