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Diplomata espanhol é condenado por matar esposa a facadas em Vitória

Diplomata espanhol é condenado por matar esposa a facadas em Vitória

Apesar da condenação, Jesús Figón Leo ainda pode continuar em liberdade, uma vez que a Justiça espanhola sinalizou que não prevê júri feito por videoconferência; pena foi de 9 anos e 4 meses

Publicado em 9 de março de 2023 às 18:34

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Jesús Figón Léo é acusado de ter matado a esposa em Jardim Camburi, em maio de 2015
Jesús Figón Léo foi condenado por matar a esposa em Jardim Camburi, em maio de 2015. (Carlos Alberto Silva)

Após dois dias de julgamento, a Justiça capixaba condenou o diplomata espanhol Jesús Figón Leo a 9 anos, 4 meses e 15 dias de reclusão, na noite desta quinta-feira (9), pelo assassinato da esposa Rosemary Justino Lopes. A cabeleireira foi morta com cinco facadas em maio de 2015, no apartamento em que o casal morava, em Jardim Camburi, Vitória.

Ele foi condenado pelo crime de homicídio simples. Anteriormente, havia sido informado que a pena seria de 11 anos e 3 meses, mas o Ministério Público retificou e informou que a mesma caiu para 9 anos e 4 meses porque o acusado "reagiu sob emoção após provocação da vítima".  

"Pelo fato de o júri entender que ele agiu por motivo de violenta emoção logo após a injusta provocação da vítima, aí teve a diminuição de pena. A primeira fase da pena foi 11, e depois teve a causa de diminuição de pena e ela desce", explicou o promotor de Justiça Leonardo Augusto Cezar.

Apesar de a sentença determinar prisão, o diplomata pode continuar em liberdade na Espanha. O país europeu já havia sinalizado para o Brasil que a legislação espanhola não prevê júris inteiros por videoconferência, como foi o caso de Jesús Figón Leo.

Diplomata espanhol é condenado por matar esposa a facadas em Vitória

Como o réu não esteve presente no Fórum de Vitória e participou apenas pela internet, não houve o espelhamento entre os procedimentos e a condenação do diplomata pode não ser aceita pela Espanha. 

"Júri simbólico", diz MP

"É simbólico, gratificante, porque os jurados de Vitória confirmaram a expectativa que nós tínhamos deles, no sentido de que não seria deixado levar qualquer tipo de falácia. Houve a condenação. Por circunstâncias técnicas essa condenação foi justa mas pelas leis brasileiras serem muitíssimo brandas em relação ao direito penal, acabou sendo um resultado possível", disse o promotor Leonardo. 

Ele explicou que ainda há um caminho a ser feito antes da decisão ser comunicada à justiça espanhola. "A comunicação com a justiça espanhola tem que esperar o trânsito em julgado. Ali mesmo na ata a defesa já pediu a lista dos autos para elaborar o recurso, ela já recorreu na ata e pediu o processo. Esse recurso vai para o Tribunal de Justiça (TJ). Além do TJ, temos a possibilidade ainda do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do Supremo Tribunal Federal (STF)."

Além de ter o trânsito em julgado e acabarem todas as possibilidades de recurso no Brasil, ainda é necessário que seja utilizado o convênio de cooperação internacional, quando a documentação será enviada para a Espanha. "Na Espanha, (a justiça) vai fazer análise do procedimento, se está ou não de acordo com a legislação espanhola, e só ao final é que vai se poder executar a pena. Quanto tempo vai demorar isso não se sabe", pontuou.

Aspas de citação

A legislação brasileira, em relação ao direto penal, a como a vítima é tratada, principalmente mulher, nunca deixa a gente satisfeito com os resultados. A gente tem crimes bárbaros que por conta da legislação as penas ao meu ver sempre são injustas porque desprezam totalmente as vítimas. Acho que dever cumprido pelo que foi feito, até porque foi uma mulher e sabemos todo o contexto que existe em relação à violência contra mulher. Mas o sentimento de justiça creio que ainda faltou um pouco.

Leonardo Augusto Cezar
Promotor de Justiça
Aspas de citação

Defesa entrou com recurso

De acordo com o advogado Jovacy Peter Filho, a defesa já entrou com recurso. "Obviamente a gente respeita a decisão dos jurados, o empenho de todos, mas existem pontos na decisão que são questionáveis, e o devido processo legal exige que a gente possa amadurecer a decisão e ter uma decisão ao final, se essa for o entendimento da justiça, uma decisão ajustada para a circunstância do caso", detalhou. 

"A defesa entendeu, sustentou durante esses dois dias não haver provas suficientes para a condenação. Mais uma vez respeitando a decisão dos jurados, mas o juízo de condenação exige um nível de convicção e certeza que não estão presentes nas provas que foram apresentadas nos autos. Havendo dúvida, e essa é uma regra constitucional, o benefício da dúvida é pela absolvição e não pela acusação, então a defesa entende que havia uma dúvida razoável que seria suficiente para absolvição", disse o advogado.

Dois dias de julgamento 

O julgamento do diplomata ocorreu quase oito anos após o crime e começou às 10h da manhã de quarta-feira (8). O primeiro dia de júri durou cerca de 13 horas e três das cinco testemunhas de defesa previstas foram ouvidas pela Corte, sendo uma vizinha do prédio onde o casal morava, um delegado aposentado que foi até o apartamento no dia do ocorrido e a filha do diplomata, que foi ouvida pela internet.

A defesa de Jesús informou que uma quarta testemunha de defesa não foi localizada na Espanha, e a quinta não compareceu. O diplomata não era obrigado a participar, mas esteve presente virtualmente e assistiu a todo o júri, sendo sabatinado do início da tarde até as 22h.

Nesta quinta-feira (9) ocorreu o debate, em que os promotores de Justiça tiveram 1h30 para defender a tese de homicídio, argumentando que o diplomata matou a facadas a esposa. Os advogados receberam o mesmo tempo para a defesa, mantendo a tese de que a cabeleireira teria atendado contra a própria vida. 

Rosemary Justilo Lopes morta a facadas em 2015
Rosemary Justilo Lopes, morta a facadas em 2015. (Pesquisa A Gazeta )

O crime

Ex-Conselheiro de Interior da Embaixada da Espanha no Brasil, Jesús Figón Leo é acusado de matar a esposa Rosemary Justino Lopes, de 56 anos, no apartamento do casal, em Jardim Camburi, Vitória.

Ele se apresentou espontaneamente à polícia e contou que matou a mulher após uma discussão durante a madrugada. Eles eram casados há quase trinta anos. Ele trabalhava na Embaixada da Espanha, em Brasília, mas passava alguns dias na residência que tinha com a capixaba em Vitória.

O delegado Adroaldo Lopes, responsável pelo caso na época, explicou que estava em casa quando recebeu a ligação de um delegado aposentado, amigo de Jesús, relatando o homicídio. Esse delegado aposentado recebeu um telefonema de Jesús em que ele contava que tinha matado a mulher.

De imediato, o delegado aposentado fez contato com um advogado e ambos foram até a casa de Jesús verificar o caso. “Chegando ao local, ele adentrou ao imóvel, verificou a presença de um corpo, e me telefonou, dizendo que estava indo para a delegacia”, disse Adroaldo.

À polícia, Jesús alegou que a esposa sofria de depressão e era alcoólatra. “No dia de ontem (ocasião da data do crime) ela teria feito excessiva ingestão de bebida alcoólica e durante a madrugada eles tiveram uma briga. Ela pegou uma faca para atacá-lo, ele tomou a faca e efetuou os golpes”, disse Adroaldo na época.

A defesa tentava um último recurso e manifestava que Figón não havia matado a esposa, alegando que Rosemary Justino Lopes teria tirado a própria vida.

Errata Correção
9 de março de 2023 às 18:44

Anteriormente, havia sido informado que a pena seria de 11 anos e 3 meses, mas o Ministério Público retificou e informou que a mesma caiu para 9 anos e 4 meses. Título e texto foram atualizados.

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