Publicado em 14 de novembro de 2023 às 08:00
Uma massa de ar excepcionalmente quente vem fazendo com que boa parte do Brasil enfrente temperaturas mais altas que o normal.>
De acordo com a empresa de meteorologia MetSul, as previsões indicam que as temperaturas previstas para esta semana e a próxima deverão superar consideravelmente as médias históricas de temperatura máxima em todas as cinco regiões do país, com um alto potencial para quebras de recordes.>
A Climatempo fez previsão 38°C para tarde de ontem na cidade de São Paulo. Se essa temperatura se confirmar, ou se a máxima alcançar 37,9°C, será quebrado o recorde histórico de calor na cidade, que atualmente é de 37,8°C, marca registrada em 17 de outubro de 2014.>
No Rio de Janeiro, a máxima prevista nesta segunda deve entrar na casa dos 40°C. De acordo com o Alerta Rio, serviço de meteorologia da Prefeitura do Rio, a sensação térmica foi de 52,7°C em Guaratiba, na Zona Oeste da cidade, às 8h desta segunda. >
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No Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, estados que devem ser mais afetados, é possível que os termômetros marquem 45ºC. >
Sgundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), há mais de 2,5 mil municípios afetados pela onda de calor. Destes, 1.413 estão sob aviso de perigo e 1.138 cidades estão na classificação de grande perigo. >
De acordo com o site de meteorologia MetSul, em muitas áreas, a temperatura no decorrer da semana ficará entre 10ºC e 15ºC acima das médias históricas. "Isso vai levar às máximas fora do comum e sem precedentes em grande número de localidades do Centro do Brasil", diz o site.>
De acordo com a Climatempo, esta será a quarta onda de calor que o Brasil vive no segundo semestre deste ano e poderá ser mais forte do que as onda de calor de agosto, setembro e de outubro de 2023.>
Embora algumas regiões do Brasil frequentemente experimentem altas temperaturas durante o mês de novembro, e os brasileiros estejam geralmente mais adaptados ao calor em comparação com populações de países europeus que enfrentaram desafios semelhantes nos últimos meses, a situação é particularmente perigosa devido à sua extrema intensidade.>
Estar exposto - especialmente nos horários de pico do calor, entre 12 e 16 horas - pode causar alterações no organismo que oferecem risco à saúde, principalmente para grupos com saúde mais frágil, incluindo idosos, pessoas com comorbidade, e crianças pequenas.>
Quando o corpo está em estresse térmico, ou seja, é exposto a temperaturas extremas, ele passa por uma série de adaptações fisiológicas para regular a temperatura interna. >
No caso da exposição ao calor, primeira reação do organismo é dissipar calor através do suor e da dilatação dos vasos sanguíneos periféricos para liberar calor para o ambiente.>
No entanto, em temperaturas muito altas, especialmente quando também está úmido, o mecanismo de resfriamento do suor pode se tornar ineficaz, levando ao superaquecimento corporal, insolação e possíveis danos aos órgãos.>
"Quando estamos expostos a temperaturas mais elevadas, ocorrem adaptações no nosso corpo. A frequência cardíaca aumenta como um mecanismo compensatório, assim como a pressão arterial", explica Lucas Albanaz, clínico geral, coordenador da clínica médica do Hospital Santa Lúcia, de Brasília, e mestre em ciências médicas. >
Outro risco, alerta o médico, é a desidratação devido ao aumento da sudorese. A depender da temperatura, complementa o médico Alexander Daudt, os sinais vão de câimbra (por falta de eletrólitos, eliminados no suor), a sede intensa e fadiga.>
"Outros sintomas mais graves, como tontura, náuseas ou vômitos também podem aparecer. Se a pessoa não conseguir aliviar esse calor, o quadro pode evoluir para choque térmico, com confusão mental, convulsões, e seguindo para a falência de múltiplos órgãos e óbito", explica ele, que é coordenador do Núcleo de Medicina de Estilo de Vida do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre.>
De acordo com o relatório do The Lancet, nos últimos 20 anos o aumento da mortalidade relacionado com o calor excessivo em pessoas com mais de 65 anos aumentou em 53,7%.>
Apenas na Europa, em 2022, ocorreram 61.672 mortes atribuíveis ao calor entre 30 de maio e 4 de setembro de 2022, segundo uma análise recente publicada na Nature Medicine.>
Os riscos são maiores para pessoas com comorbidades, pessoas idosas, especialmente aquelas com saúde fragilizada, crianças (por ainda estarem com o organismo em formação), trabalhadores que precisam se expor ao sol (como vendedores ambulantes), e aqueles que fazem uso de medicações que por algum motivo os tornem mais vulneráveis ao calor.>
"É o caso de pacientes que tomam remédios diuréticos, por exemplo. Eles naturalmente já perdem mais água, e precisam de cuidado extra com hidratação", aponta Daudt.>
"A palavra de ordem é hidratação, que deve ser feita principalmente pela ingestão de líquidos. Também é indicado hidratar a pele, com cremes, as narinas, com soro fisiológico, e os olhos, com colírio. Essas partes do corpo também são afetadas", diz Albanaz.>
Abaixo, destacamos dicas oferecidas pelos especialistas consultados na reportagem e divulgadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS):>
Mantenha sua casa fresca>
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Cuidados em caso de mal-estar
As temperaturas do planeta vêm se elevando nas últimas décadas. Especialistas apontam que esse fenômeno, conhecido como aquecimento global, é causado pelo acúmulo crescente de dióxido de carbono e outros gases causadores do efeito estufa na atmosfera, graças à queima de combustíveis fósseis e ao desmatamento.>
Quanto maior a quantidade de dióxido de carbono e outros gases na atmosfera, pior o impacto para a vida na Terra. Esses gases são responsáveis por absorver a radiação solar refletida pela superfície do planeta, o que faz com que o calor fique retido na atmosfera.>
Assim, o mundo fica cada vez mais quente, acelerando mudanças climáticas e aumentando o risco de eventos climáticos extremos, como as ondas de calor intensas vistas agora no Hemisfério Norte, além de incêndios naturais, monções e enchentes.>
Com as temperaturas aumentando em toda a Terra, há, segundo os especialistas, duas palavras de ordem: mitigação e adaptação.>
A mitigação envolve medidas a longo prazo para proteger o planeta.>
Na edição de 2022 da Conferência das Partes, encontro da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP26, quase 200 países assinaram o compromisso de tentar garantir o cumprimento da meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C.>
O objetivo do acordo é reduzir as emissões muito rapidamente, diminuindo-as em 50% até 2030, e alcançar emissões líquidas zeradas dos gases de efeito estufa antes da metade do século, seguido pela remoção significativa de dióxido de carbono da atmosfera na segunda metade do século.>
"No entanto, não estamos caminhando nessa direção, pois as emissões em 2022 foram as mais altas registradas desde o final do século 18, com a evolução industrial, principalmente crescendo muito nos últimos 50 a 60 anos em todo o mundo", avaliou o climatologista Carlos Nobre, ex-presidente do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas e doutor em meteorologia pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, em uma reportagem da BBC News Brasil publicada em julho.>
"Portanto, a situação do clima é extremamente arriscada, mesmo que tenhamos sucesso total no acordo de Paris [acordo prévio que foi aperfeiçoado na COP26].">
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