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Professora da Ufes lança livro sobre ameaça das bactérias resistentes

Professora da Ufes lança livro sobre ameaça das bactérias resistentes

Graça Mattede diz que problema tem a ver com uso indiscriminado de antibióticos e causam estragos como o surto que atingiu crianças de uma creche em Vila Velha no início deste ano

Publicado em 7 de novembro de 2019 às 19:14

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Escherichia coli, bactéria comum no homem que causa grandes estragos à saúde. (Flickr)

A palavra antibiótico tem origem grega e significa “contra a vida”. Não contra a vida humana, claro. Mas sim contra as bactérias. Graças a ele, inúmeras doenças deixaram de ser letais. No entanto, essas substâncias que tanto ajudaram na sobrevivência na humanidade são vistas agora como uma ameaça grave.

Em junho deste ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou uma campanha que convoca governos a adotar medidas para conter a resistência de bactérias a medicamentos, a chamada resistência antimicrobiana. Uma das causas desse problema de saúde pública é o consumo inadequado de antibióticos.

“O antibiótico não é só o medicamento da farmácia. Ele está nos vegetais, sob a forma de agrotóxicos. Usamos na carne animal nos criadouros, como nas aves. E vai parar no homem, que excreta pelas fezes, urina. Isso vai para o esgoto, que vai parar onde? No mar. É um ciclo”, destaca a microbiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e da Emescam, Graça Mattede.

Com a experiência de quem está há 50 anos estudando o assunto, a professora é a autora do livro “Terapêutica Antimicrobiana”, no qual ela destrincha o assunto para acadêmicos e para leigos também. O livro será lançado no Congresso Regional de Análises Clínicas do Sudeste, que acontece junto com o 4º Encontro de Análises Clínicas do Espírito Santo, nesta sexta e sábado (8 e 9), no Centro de Convenções de Vitória.

Confira o bate-papo com a autora:

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    O problema é que os antibióticos foram usados de forma indiscriminada. Isso mudou nos últimos anos. Antes, tomava-se antibiótico por tudo, por qualquer problema. Mas eles viraram uma preocupação para pesquisadores no mundo todo. O medicamento combate as bactérias, fazendo com que o organismo selecione aquelas que não morrem, as resistentes. Só as bactérias sensíveis morrem. Essas bactérias armazenam um gene que passa por modificações estruturais. Estudos mostram que já são encontradas bactérias em ambientes gelados, como no Alasca, com essa resistência, como as que são encontradas nos hospitais. É o caso da Escherichia coli lá no gelo, nas profundezas do mar do Alasca.

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    Exatamente. Descobriu-se que uma bactéria se comunica com a outra por sinais. Elas são inteligentes. Uma ajuda a outra, passando o gene de resistência para a outra. O antibiótico só mata as “bobinhas”. As resistentes vão ficando. O antibiótico não é só o medicamento da farmácia. Ele está nos vegetais, sob a forma de agrotóxicos. Usamos na carne animal nos criadouros, como nas aves. E vai parar no homem, que excreta pelas fezes, urina. Isso vai para o esgoto, que vai parar onde? No mar. É um ciclo.

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    Acham que é só lá porque ainda não estão pesquisando por aqui. A Escherichia coli é uma bactéria que vive nos intestino de todos nós. Uma espécie dela está sendo selecionada. E ela pode se multiplicar de forma muito rápida: em 12h ou 18h você já tem uma colônia muito grande. Ou seja, ela coloniza mais rápido, se divide mais rapidamente e passa resistência também de forma mais rápida. E tem uma aderência muito grande à mucosa da pele, à mucosa intestinal. Faz um estrago como o que atingiu aquelas crianças na creche em Vila Velha este ano.

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    Sim.. Temos vários tipos de Escherichia coli. É uma bactéria comum. Mas quando é selecionada e fica multirresistente, pode ser fatal. O problema dessa bactéria é que ao ter contato com antibiótico, ela libera uma toxina, levando o paciente a uma síndrome que destrói as hemácias e prejudica os rins. É a chamada síndrome hemolítico-urêmica. Essa toxina é estudada no mundo inteiro.

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    Sim. Ela fica como de “stand-by”. Quando há um desequilíbrio, começa a se proliferar.

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    O caminho é nos comunicarmos mais. Precisamos mostrar esse mundo “invisível”. As pessoas não conhecem as bactérias. Não sabem por que têm que lavar a mão depois de irem ao banheiro. O cuidado é a prevenção. Tem que haver higiene. Não dá para contar só com antibiótico.

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