Publicado em 6 de junho de 2021 às 11:05
A uma semana do Dia dos Namorados, celebrado em 12 de junho, muitos casais aproveitam a tecnologia para estreitar os laços afetivos em tempos de isolamento social, imposto pela pandemia de Covid-19. Para manter um relacionamento a distância é necessário ter muita tranquilidade, transparência e criatividade. >
Ciúme, ansiedade e desconfiança podem atrapalhar quem está longe um do outro. Especialistas afirmam que há maneiras de se manter uma relação saudável e cheia de paixão, mesmo com o distanciamento físico e, em alguns casos, até geográfico. Para eles, é possível se sentir realizado estando separado a alguns quilômetros (ou um oceano) da pessoa amada. >
A distância entre a corretora e bacharel em direito Lilian Aparecida de Campos Tavares, 52, e o namorado, o economista francês Pierre Innocenti, 66, é de um oceano. Eles estão juntos há sete anos, mas até hoje não se encontraram. A pandemia fez os planos do primeiro encontro ficarem sem data definida. >
"No fim de 2020 ele se declarou e disse que queria casar e vir para São Paulo. Estava no meio da pandemia. Ele já tomou a segunda dose da vacina e eu a primeira. Mas não conseguimos nos ver. Ele virá em novembro. Por enquanto ficamos no vídeo", afirma Tavares. >
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Apesar da distância, Pierre já conheceu toda a família da corretora e se diz pronto para dar um próximo passo, mesmo sem nunca tê-la visto. "Se não fosse pela pandemia, eu suponho que já estaria casado com ela. Sou uma pessoa vivida e não tenho tempo a perder. Lilian é uma mulher muito positiva", diz o francês. >
A corretora diz que gostar de uma pessoa sem nunca ter tido contato físico é um desafio. Quando Pierre Innocenti puder vir ao Brasil, ele deve ficar hospedado na casa dela, na zona norte de São Paulo. Ela quer conhecê-lo melhor, pessoalmente, para, quem sabe em março de 2022, subir ao altar. >
A engenheira civil Tamires Didonet, 29, também mantém um relacionamento a distância. Moradora de São Paulo, ela namora o vendedor e empresário Gustavo Marim, 27, que vive em Birigui (a 500 km da capital paulista). Desde março de 2020, início da pandemia, que as idas de uma cidade a outra estão bem mais complicadas. >
"Nos víamos a cada 15 dias. Com a pandemia, não dá para pegar ônibus, os pais dele têm problema de saúde, os meus também e evitamos nos ver", diz Didonet. "Quando começou a melhorar [a pandemia], ele veio para cá após três meses. Fui para lá meses depois." >
A expectativa da chegada de uma terceira onda de Covid-19 preocupa o casal. O distanciamento social, porém, ajudou a fortalecer a relação, segundo Didonet, pedida em casamento em setembro de 2020. A questão, agora, é saber quando poderá ser a data. Mais uma incógnita na vida e na relação do casal. >
"Espero que dê para fazer tudo em novembro. Mas, talvez, a festa fique para o ano de 2022. Não sei se até o final do ano todos vão estar vacinados", diz Tamires. Na avaliação dela, a chave para manter o namoro de três anos vivo e sem crises é a conversa. >
"A pior parte é a saudade, pois já começamos a namorar a distância. No primeiro ano, a gente ainda batia cabeça, pois os dois queriam estar juntos. Os dois amadureceram e temos mais certeza do que queremos. Com desconfiança ninguém consegue viver." >
Para o psicólogo e psicanalista Ronaldo Coelho, a pandemia forçou as pessoas a serem mais criativas e a se reinventarem para que aquilo que era mais importante e fundamental: a parceria. "As relações entre os casais se transformou, não necessariamente para pior. É possível que tenham desenvolvido um modo de estar consigo mesmo que passou a ter valor fundamental tanto quanto estar com o companheiro (a)." >
É o caso da estudante de rádio, TV e Internet Julia Machado Rodrigues, 21, que vive em São Paulo e namora o estudante de engenharia de produção Guilherme Pizani Rosa, 20, de Uberaba (MG) -são mais de oito horas de viagem. >
"Queremos sempre tentar fazer o outro se sentir especial. No aniversário dele, mandei flores até Uberaba. Tentei enviar aqueles carros de caixa de som para gritar o nome dele pela cidade, mas não rolou", lembra Rodrigues, que também adora mandar comida para o amado. >
Segundo a estudante, a maior dificuldade são as amizades diferentes. Ela diz, porém, que um bom diálogo resolve tudo. "Você está em lugar diferente do outro. Os amigos não enxergam a namorada ali e complica. A gente namora e não é uma prisão. Rola confiança, tem que ter papo sério sem esconder nada." >
Adepta das chamadas de vídeo, Rodrigues afirma que os dois gravam filmes quando se encontram para ver depois e, assim, matar a saudade. "Nosso amor se fortaleceu na pandemia. Teve o lado ruim, mas teve o lado de ficar perto da família, com mais tempo para pensar no que queremos." >
Juntos há cerca de um ano e meio, o cantor Vitor Kley, 26, e a atriz portuguesa Carolina Loureiro, 28, namoram a distância e ficaram quatro meses sem se ver. Por causa do agravamento da pandemia de Covid-19, o governo de Portugal decidiu suspender todos os voos com origem ou destino no Brasil. >
A saudade apertou, mas isso não os fez desistir da relação. Pelo contrário. "Foi triste e doeu muito. No início da pandemia eu estava com passagem comprada para Portugal e no mesmo dia que eu viajaria começou um lockdown por lá. Dessa forma, tivemos de aderir a algumas táticas", afirma Kley. >
O distanciamento motivou a produção da música "O Amor É o Segredo". No clipe, ambos aparecem separados durante a quarentena. A letra fala da saudade que os dois sentiam um do outro em tempos difíceis. >
Segundo o artista, eles dormem juntos todas as noites. "Ligamos nosso vídeo pelo celular e deixávamos rolando direto. E dormimos juntos, eu na minha cama e ela na dela. Se um acorda no meio da noite consegue ver o outro." >
Vitor Kley afirma, ainda, que estreitou os laços com a parceira. Eles jogam videogame online e tocam violão, juntos, depois que ele a ensinou de forma virtual. "Tudo isso estará no nosso livro da vida. Fomos fazendo várias coisas para amenizar a saudade e ocupar a mente." >
Após 77 dias de suspensão, o governo de Portugal autorizou a volta dos voos comerciais com o Brasil. A liberação, em abril passado, vale apenas para viagens consideradas essenciais. Vitor Kley diz que vai passar o Dia dos Namorados com Carolina Loureiro --vinho e churrasco estão no planejamento do cantor para a celebração a dois. >
"Diria que isso tudo fortaleceu nossa relação, independentemente do tempo e do caos, estamos sempre juntos mesmo com distância. Isso nos faz crer no nosso amor", diz o gaúcho de Porto Alegre (RS). >
"Às vezes, nós passamos por momentos terríveis na pandemia e só queremos um abraço. Mas é preciso ver se a pessoa está na mesma vibração que você para termos equilíbrio mental. Assistam série juntos e ensinem coisas novas a distância." >
O neurocirurgião e neurocientista Fernando Gomes, do Hospital das Clínicas de São Paulo, afirma que a ocitocina, também conhecida como o hormônio do prazer e do amor, é liberada pelo contato físico. Porém, fazer contatos a distância é uma maneira inteligente de manter o vínculo afetivo. >
"Quando não é possível estar presente fisicamente, o que é importante para manter esse vínculo são mensagens de textos, áudios e até ligações de vídeo. Isso gera poderes ainda maiores dentro do cérebro", diz Gomes. Ele alerta que o amor e o respeito são fundamentais para solidificar qualquer relacionamento. "Se os dois realmente se amam, podem estar distantes 24 horas por dia que não percebem a pandemia." >
A sexóloga Débora Pádua afirma que a criatividade também se implica no sexo a distância. Para isso, é preciso que ambas as pessoas se respeitem e confiem uma na outra. O carinho, mesmo que de longe, é importante para manter a chama da paixão acesa, segundo a especialista. >
"Muitos casais experimentaram chamadas de vídeo e brincadeiras pelo celular. Isso se tornou mais frequente. Dá para ter uma vida sexual, mas sem transmitir e contrair coronavírus. Agora as mulheres estão sem o tato, mas têm a audição. Homens estão tentando ficar mais criativos", diz Pádua. >
Psicóloga e autora do livro "Relacionamentos Amorosos na Era Digital" (R$ 44,21, págs. 138, Ed. dos Editores), Adriana Nunan alerta para o cuidado de golpes. "Principalmente pessoas que nunca tenham se visto e se conhecido pela internet. Cuidado ao criar expectativas muito grandes. Se alguém pedir dinheiro, saia." >
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