Ufes na guerra incessante contra a desinformação

Universidade integra a Rede Nacional de Combate à Desinformação, que busca minimizar os danos dos novos fluxos comunicacionais

Publicado em 03/10/2020 às 10h00
Presidente dos Estados Unidos Donald Trump
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Crédito: Official White House Photo by Andrea Hanks
  • Edgard Rebouças

    É professor da Ufes, coordenador do Observatório da Mídia e membro-fundador da RNCD

“Fake news!”. Com esta simples expressão, o atual presidente dos Estados Unidos respondeu à primeira pergunta que lhe fizeram sobre a reportagem publicada no The New York Times a respeito de seu histórico de sonegação fiscal. Simples assim! A partir dessa resposta, todo o trabalho de apuração e descrição detalhada das contas do então “empresário de sucesso”, segundo os que acreditam nele, não passaria de uma obra de ficção, criada pelos jornalistas do mais prestigiado jornal do planeta com a intenção de prejudicá-lo.

Este caso, bem como suas analogias no Brasil, serve para ilustrar um fenômeno que já vimos discutindo há algum tempo – inclusive em artigos publicados aqui em A Gazeta -, que está relacionado a conceitos de verdade factual, desinformação intencional, mentira e informação fraudulenta. Também é muito adequado para mostrar o quão necessária foi a recente criação da Rede Nacional de Combate à Desinformação (RNCD) – www.orcd.org .

No Brasil, há uma máxima cretina de que “sobre política, religião e futebol, não se discute”. Como assim? Por que não? Talvez por isso esses três setores estejam como estão. Nestes tempos de incertezas, o que a sociedade mais precisa é exatamente de se informar e se posicionar conscientemente sobre os temas ditos polêmicos. Senão, muitos vão continuar à sombra da maioria silenciosa e acreditando no mentiroso da vez.

As iniciativas de checagem de informações intencionalmente falsas, como as reunidas na RNCD, vieram para aprimorar o que observatórios de mídias já faziam nas últimas décadas em relação a coberturas jornalísticas que favorecem interesses políticos e/ou empresariais em detrimento do interesse público; desrespeitos aos direitos humanos em programas televisivos e publicidades abusivas e/ou enganosas. No entanto, com a proliferação do acesso e utilização dos dispositivos midiáticos portáteis, a relação que antes era apenas de recepção ganhou novas possibilidades de fluxos comunicacionais.

O problema é que tal “democratização” não serviu apenas para que a sociedade tivesse mais oportunidades de acesso a conteúdos diversificados, processos de ensino/aprendizagem diferenciados ou que emancipasse o receptor passivo como um emissor em potencial. Enfim, tudo aquilo que foi prometido pelos primeiros entusiastas da internet. O que ocorreu foi algo semelhante ao que alguns pioneiros das Ciências da Comunicação descobriram, na década de 1940: que o excesso de informações superficiais disponíveis nas mídias de massa estava tornando os espectadores mais apáticos, ao invés de mais ativos; e chamaram isso de “disfunção narcotizante”.

O necessário documentário “O dilema das redes”, lançado pela Netflix há poucas semanas, mostra um pouco dessa discussão que já vem sendo travada por pesquisadores há quase cem anos. Isso mesmo: um século! Desde as primeiras análises sobre o uso das técnicas de propaganda empregadas na I Guerra Mundial.

Até mesmo Adolf Hitler, em seu livro “Minha Luta”, de 1925, cita as expressões “propaganda” por 180 vezes e “mentira” por mais 56. Isso para falar como os governos inglês, francês e norte-americano se valeram desses artifícios para vencerem (e venderem) o conflito, e como a Alemanha deveria aprender com eles. O resultado foi visto anos depois, com a ascensão do nazismo e ao longo da II Guerra. Como se vê, há uma série de proeminentes políticos que seguem a mesma escola: dizem-se vítimas de notícias falsas nas eleições e em seus governos, mas são mestres na arte da desinformação intencional.

Como a disfunção narcotizante e as técnicas de propaganda, a infodemia gerada pelo excesso e pela disseminação acelerada de informações sobre a Covid-19, por exemplo, ao invés de levar a sociedade a esclarecimentos, acaba gerando mais incertezas. Tudo graças a leviandades, perversidades e ao uso político da tragédia.

A Rede Nacional de Combate à Desinformação tem como objetivo minimizar esses danos. Reunindo instituições e especialistas comprometidos com a ciência e com a verdade factual, sem achismos ou colorações partidárias, a RNCD convida toda a sociedade a participar desse desafio. A cada informação recebida, antes de compartilhar, reflita, confira e, se necessário, denuncie.

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