Publicado em 13 de maio de 2020 às 19:27
Cento e três dias depois que o primeiro caso de coronavírus foi registrado na Espanha, só 5% da população teve contato com o patógeno até agora, mostram dados iniciais de um estudo com quase 65 mil espanhóis. >
O resultado corrobora declarações de especialistas em epidemias, de que é um erro deixar a transmissão sem controle para tentar atingir a chamada "imunidade de rebanho".>
O termo é usado em saúde pública para designar a porcentagem de uma população que precisa ser vacinada para que todos possam ser considerados protegidos (quando a maioria das pessoas está imunizada, cai muito o risco de alguém ainda suscetível entrar em contato com o patógeno).>
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No caso do coronavírus, a estratégia não faz sentido não só por que ainda não se sabe com que força e por quanto tempo anticorpos garante a imunidade mas também porque estamos muito distantes de uma porcentagem segura de pessoas já infectadas.>
O estudo da Espanha não é o primeiro a indicar uma porcentagem baixa de presença do vírus, mas é significativo porque o país foi um dos mais afetados no mundo. Entre as nações com mais de 1 milhão de habitantes, ela apresenta o maior número de casos confirmados de Covid-19 por 100 mil habitantes: (579,8, seguida pela Irlanda, com 473,9).>
Depois dos Estados Unidos, a Espanha é também o país com maior número absoluto de resultados positivos nos testes para coronavírus: 271.095. Ainda assim, sem controle a doença poderia alcançar outros 95% de sua população, de acordo com os números divulgados nesta quarta (13).>
No mundo, já há mais de 90 estudos semelhantes, segundo Maria van Kerkhove, líder técnica da OMS. São exames feitos para detectar a presença no sangue de anticorpos, produzidos pelo corpo para combater e vencer o coronavírus. Quando o exame dá positivo, indica que o indivíduo já teve contato com o patógeno, mesmo que sem sintomas --a doença passou despercebida para uma em cada quatro pessoas (26%), segundo os pesquisadores espanhóis.>
De acordo com Maria, a porcentagem de infectados que desenvolveram defesas encontrada nos trabalhos já feitos varia de 1% a 10%, dependendo da metodologia e do tipo de teste feito.>
A pesquisa espanhola está sendo realizada pelo Instituto de Saúde Carlos 3º, com uma amostra aleatória e representativa da população. Na primeira fase, são 64.217 participantes.>
Os resultados mostram uma variação de até sete vezes entre as diferentes províncias. Em Madri, uma das regiões mais atingidas, a prevalência encontrada foi de 11,3% (quase 9 entre 10 habitantes não teve contato com o coronavírus).>
Ilhas como as Canárias, por sua vez, ou a região de Astúrias têm só 2% dos habitantes com anticorpos. Os dados são de pessoas com antígenos IgG, que demoram mais para aparecer e indicam que a pessoa não tem mais infecção ativa.>
Os testes detectam também os IgM, anticorpos produzidos na primeira resposta do organismo ao coronavírus, a partir do sexto dia desde o começo dos sintomas.>
O estudo mostra que, apesar de ter a quarta maior taxa de testes entre os grandes países europeus (5.278/100 mil habitantes, atrás de Lituânia, Dinamarca e Portugal), a Espanha encontrou apenas um décimo dos casos de contágio em seu território.>
Os 5% de prevalência significam que houve até agora na Espanha 2,35 milhões de casos, dos quais 27.104 resultaram em mortes: uma taxa de mortalidade de 1,15% por pessoa infectada.>
Entre as crianças, o estudo encontrou números menores: 1,1% para os menores de 1 ano, 2,2% para os de 1 a 4 anos e 3% para os que tinham de 5 a 9 anos. Não houve diferença significativa entre outras faixas de idade, nem entre homens e mulheres.>
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