Publicado em 5 de fevereiro de 2021 às 16:28
- Atualizado há 5 anos
O diretor-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde), Tedros Adhanom Ghebreyesus, pediu que os países suspendam seus programas de vacinação quando já tiverem protegido profissionais de saúde e mais vulneráveis e permitam que os imunizantes sejam usados em países mais pobres. >
Segundo ele, o fato de que o número de imunizados superou o de casos de coronavírus na última quarta é uma boa notícia, mas esconde uma grande desigualdade.>
Mais de três quartos das inoculações aconteceram em apenas 10 países, que correspondem a 60% do PIB global, com nações como o Reino Unido e o Canadá assegurando doses suficientes para vacinar toda a população. Ao mesmo tempo, mais de 100 países com 2,5 bilhões de pessoas não receberam nenhuma dose até agora, disse o diretor da OMS.>
Para Ghebreyesus, governos têm o dever de proteger suas populações, mas, uma vez que tenham vacinado os mais velhos e os profissionais de saúde, precisam pensar no resto do mundo. "Isso é fundamental porque, enquanto houver uma grande parcela de pessoas sem imunidade, cresce a possibilidade de o vírus sofrer mutações e escapar do efeito das vacinas. E voltaremos à estaca zero.">
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De acordo com o diretor-geral da OMS, o "nacionalismo das vacinas" pode adiar ainda mais o controle da pandemia, já que "o coronavírus não respeita fronteiras". Em estimativas anteriores, a OMS estimou esse atraso custaria aos países ricos US$ 4,5 trilhões (R$ 24 trilhões).>
Ghebreyesus também exortou as companhias farmacêuticas a compartilharem tecnologia e propriedade intelectual e a licenciarem suas vacinas de forma mais ampla, para aumentar a produção mundial.>
Segundo ele, vender os imunizantes a preço de custo, como fizeram os laboratórios, não tem sido suficiente. "As empresas receberam extenso financiamento público, e compartilhar dados e licenças fará muita diferença no combate ao vírus.">
Nesta quinta (4), no entanto, os EUA, a União Europeia e o Reino Unido, entre outros países ricos, bloquearam na OMC (Organização Mundial do Comércio) a discussão de uma proposta de sustar as regras de propriedade intelectual de vacinas e tratamentos contra a Covid-19, feita pela Índia e pela África do Sul.>
Os dois países pediram a suspensão temporária do acordo Trips (Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio), sob o argumento de que isso acelerará o acesso de países mais pobres às vacinas. Segundo eles, as empresas farmacêuticas concederam licenças de produção para um número muito pequeno de fabricantes.>
Dois desses acordos já concluídos são justamente com indústrias indianas e sul-africanas: o da AstraZeneca com o Serum Institute da Índia, o maior fabricante mundial de vacinas, e o da Johnson & Johnson com a Aspen Pharmacare, da África do Sul. Para os defensores da suspensão de patente, países como Cuba, Indonésia, Senegal e Tailândia também teriam capacidade de fabricação e foram deixados de lado.>
Na reunião em que bloquearam a discussão, os países mais ricos argumentaram que isso sufocaria a inovação nas empresas farmacêuticas, por privá-las do incentivo para fazer grandes investimentos em pesquisa e desenvolvimento.>
Segundo eles, a desigualdade no acesso a vacinas deverá ser combatido pela Covax, mecanismo de distribuição global de imunizantes, que planeja distribuir 2 bilhões de doses até o final de 2021. Ghebreyesus, porém, afirmou nesta sexta que um dos efeitos positivos de licenciar as vacinas e tratamentos contra a Covid-19 é justamente permitir que os países pobres dependam menos de doações.>
Uma nova rodada de negociações pode ocorrer na OMC no dia 23 de fevereiro.>
A quebra de patente já foi adotada no Brasil, em 2007, para permitir o uso de um medicamento para tratar doentes de Aids, o Efavirenz, do laboratório americano Merck Sharp&Dohme. Para baratear o remédio, o país optou por genéricos do remédio, fabricados na Índia. A ameaça de quebra de patente já havia rendido descontos em antirretrovirais (que inibem a multiplicação do HIV) em 2001 e 2003.>
Capitão Tom Ghebreyesus também fez uma homenagem a Tom Moore, veterano centenário do Exército britânico que ficou conhecido por arrecadar o equivalente a R$ 241 milhões para hospitais do Reino Unido ao fazer caminhadas beneficentes. Capitão Tom, como foi apelidado, morreu nesta terça (2), de complicações da Covid-19.>
"Capitão Tom nos mostrou o valor dos idosos. Há uma narrativa desconcertante em alguns países de que as pessoas velhas podem morrer. Não. Nenhuma vida é dispensável", afirmou o diretor da OMS, voltando a defender que os idosos e os profissionais de saúde tenham prioridade na imunização.>
Para facilitar a distribuição de vacinas, a OMS também pediu que os laboratórios acelerem a entrega de dados necessários para que os imunizantes sejam avaliados e autorizados para uso emergencial. A inclusão na lista EUL permite que instituições como Covax e Unicef distribuam os produtos para os países mais pobres.>
Outro impacto importante, segundo a responsável pela área de regulação da OMS, Mariângela Simão, é que nações sem estrutura regulatória forte podem se embasar na avaliação e autorização da organização institucional para aprovar os produtos.>
Das 14 vacinas pré-candidatas à autorização da OMS, 4 estão em fase final: as das chinesas Sinovac e Sinopharm, a vacina da AstraZeneca licenciada para o Instituto Serum e a produzida pela própria companhia na Coreia do Sul. Simão afirmou que a entidade recebeu na semana passada os dados que faltavam da operação coreana da AstraZeneca, e que o comitê regulador deve se reunir para analisá-los em meados deste mês.>
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