Publicado em 9 de abril de 2020 às 12:01
Faz um mês que a quarentena total entrou em vigor na Itália e não há dúvidas de que foi eficiente para enfraquecer a difusão do coronavírus no país. Nesta quarta (8), o número de casos subiu 2,8%, ante um percentual que beirava os 25% quando as medidas de contenção social mais duras foram anunciadas.>
Ainda que seja alto e doloroso, o registro de mortes está estável (outras 542 nesta quarta), e a ocupação de leitos segue caindo (menos 233).>
Trinta dias depois, 60 milhões de pessoas seguem impedidas de andar na rua sem motivo e quase toda a economia está paralisada. Mas é possível ver luz no fim do túnel, como dizem as autoridades sanitárias. O cenário permite imaginar: como a Itália vai sair da quarentena total? Quando vai voltar ao normal?>
A resposta depende da pergunta. Para a segunda, ainda não é possível fazer previsão. Cientistas concordam que, sem vacina ou terapia eficaz disponíveis, "o normal" não existirá no curto prazo. Já para a primeira questão, estão sendo desenhadas estratégias.>
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A principal é pensar em etapas. Segundo o primeiro-ministro Giuseppe Conte, a Itália se encontra na fase um, a mais aguda no combate à covid-19. Em seguida, virão a fase dois, de convivência com vírus, e a três, quando será concretizada a saída da emergência.>
De acordo com o virologista Giovanni Maga, diretor do laboratório de virologia molecular do Conselho Nacional de Pesquisas, para declarar uma área completamente livre de uma epidemia viral, é preciso que a distância do último caso notificado seja superior ao período de incubação.>
No caso do Sars-CoV-2, seriam necessárias três semanas para que se pudesse decretar o fim da epidemia em um local. "Claramente não podemos esperar chegar a esse ponto na Itália, porque precisamos de meses. O que deve ser feito é programar uma saída gradual da quarentena, quando o número de novos casos cai de maneira muito significativa e quando há uma diminuição importante de internados.">
Diante disso, explica, é possível aumentar progressivamente o grau de liberdade, consentindo a retomada de algumas atividades e, ao mesmo tempo, mantendo medidas de prudência como uso de máscaras, distância de segurança e presença limitada de pessoas em locais fechados.>
Oficialmente, a quarentena está prevista para terminar na segunda (13). O governo, por meio de um comitê técnico-científico, afirma que avalia diariamente o andamento dos contágios para planejar o futuro. Há uma preocupação com a Páscoa, que coincide com o início da primavera e, tradicionalmente, com uma semana de férias escolares.>
Não será assim agora. "É fundamental no período de Páscoa continuar respeitando rigorosamente as medidas de distanciamento social e as de prevenção. Não podemos cometer erros nos próximos dias", disse, nesta terça (7), Domenico Arcuri, um dos comandantes das ações do governo na emergência sanitária.>
Segundo projeções matemáticas lideradas pelo economista Franco Peracchi, do Instituto Einaudi e da Universidade de Georgetown (EUA), de acordo com os dados divulgados diariamente pelo governo italiano, é possível prever quando o número de novos casos confirmados estará perto de zero. Na segunda-feira (6), a data nacional estava entre os dias 10 e 12 de maio.>
No entanto, a grande variação entre as regiões mais ou menos afetadas permite esperar que o relaxamento da quarentena, além de ser gradual, pode não ser nacional. Enquanto a previsão de zero novos casos está calculada para o dia 16 de abril na Úmbria, no centro, esse marco só deverá ser atingido na Lombardia, no norte, em 13 de maio, quase um mês depois. >
Domenico Arcuri
Comandante das ações do governo na emergência sanitária na Itália"Seguramente a transição será feita zona por zona, avaliando pontualmente o estado da epidemia para decidir medidas específicas para cada área", afirma Maga. Segundo o especialista, um dos instrumentos mais eficazes na fase dois será a realização de exames de anticorpos para saber quantas pessoas foram infectadas e, portanto, desenvolveram algum tipo de imunidade. >
Como na maioria dos países, o número real de contaminados da Itália não é conhecido, porque os exames para identificar casos positivos só são realizados em pacientes com sintomas. Estima-se que o total, oficialmente de 139 mil infectados, seja dez vezes maior. >
A adoção do teste de imunidade, em estudo no Ministério da Saúde, pode ter duas finalidades na fase dois. Uma, no âmbito da saúde pública, é pesquisar, com indicadores demográficos e geográficos, quanto do país foi contaminado. Segundo o jornal La Repubblica, cerca 100 mil testes poderão ser realizados com esse objetivo. "É muito útil para entender quantas pessoas pegaram o vírus", explica Maga. >
Diferentemente do exame molecular usado para identificar casos positivos, o teste de imunidade não precisa ser feito em laboratório, é mais barato e mais rápido. Por isso, o acesso é muito mais amplo, inclusive na esfera privada. >
Nesta terça, o grupo italiano DiaSorin anunciou o lançamento, para o fim do mês, de um kit de teste sorológico para detectar imunidade para covid-19. Em fase de certificação na Europa e nos EUA, o produto deverá custar cerca de 5 euros (R$ 28) e liberar o resultado em até uma hora. >
Surge então um dilema ético sobre a realização em massa dos testes de anticorpos e a exigência do que vem sendo chamado de "passaporte" de imunidade. O que fazer com um funcionário que não tem anticorpos e pode, então, ficar doente a qualquer momento? >
"Esse é um dos aspectos mais delicados. Se uma pessoa não tem anticorpos talvez possa voltar ao trabalho, mas com mais proteção e atenção. Mas usar o teste como critério para permitir as pessoas de fazerem coisas é uma decisão política. Na minha opinião, deve ser estudado bem para não criar discriminação." >
Além disso, assim como o vírus, também a sua imunidade é desconhecida. Não há consenso sobre quanto tempo ela dura ou se impede uma pessoa de se infectar de novo. De toda forma, até o surgimento de vacina ou terapias eficaz, o teste é alternativa para identificar situações de risco. >
Outra ferramenta em avaliação pelo Ministério da Saúde da Itália é o monitoramento por aplicativo dos cidadãos, rastreando casos suspeitos e positivos assintomáticos. >
Como declarou a Organização Mundial da Saúde(OMS), a saída da quarentena não terá a mesma receita para os países. Na Itália, os primeiros segmentos a voltar ao trabalho devem ser fábricas, obras e serviços essenciais. Semanas depois, seria liberada a circulação em ruas e parques, ainda que sob regras de segurança. >
Ficaria para depois a reabertura de restaurantes, bares e cabeleireiros, que viriam antes de academias, discotecas e eventos esportivos. As escolas devem receber alunos só depois do verão, em setembro. >
"É bastante razoável imaginar que ainda poderá haver momentos de contenção. Depende do risco de a epidemia voltar", alerta Maga. >
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