Publicado em 27 de janeiro de 2020 às 15:12
Com o avanço da epidemia de coronavírus, que já matou mais de 80 pessoas e alcançou 4 dos 5 continentes, biofarmacêuticas têm anunciado planos para o desenvolvimento de vacinas com apoio de universidades, grupos globais de saúde e dos governos dos Estados Unidos e da China.>
Três desses projetos são financiados pela Cepi (Coalizão de Inovações em Preparação para Epidemias), uma parceria entre organizações públicas, privadas, filantrópicas e civis, lançada em Davos em 2017.>
Entre os envolvidos estão as biofarmacêuticas Moderna e Inovio, a Universidade de Queensland (Austrália) e o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA.>
De acordo com comunicado da Cepi, esses programas vão aproveitar as plataformas de resposta rápida para o desenvolvimento de vacinas já financiadas pela entidade, que adotam tecnologias que podem ser adaptadas para uso contra diferentes patógenos, inserindo novas sequências genéticas ou de proteínas.>
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A Universidade de Queensland (Austrália), por exemplo, anunciou na sexta (24) que tem uma nova tecnologia chamada de grampo molecular para o rápido desenvolvimento da vacina contra o coronavírus. Segundo Paul Young, diretor da Escola de Química e Biociências Moleculares da universidade, ela poderá estar pronta para testes clínicos em até seis meses.>
Já Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos NIH (Institutos Nacionais de Saúde dos EUA), estimou que os primeiros ensaios clínicos para uma vacina possam ter início em abril.>
Avançar do sequenciamento do vírus até os testes iniciais com humanos em apenas três meses seria um recorde na criação de uma vacina pela agência, segundo ele.>
Isso se deve principalmente à rapidez com que cientistas chineses conseguiram identificar a sequência genética do novo coronavírus, que foi publicada em poucos dias.>
Com o código genético em mãos, os pesquisadores puderam começar a trabalhar imediatamente no desenvolvimento de candidatas às vacinas, sem precisar de uma amostra do vírus.>
"Dada a rápida disseminação global do vírus coronavírus, o mundo precisa agir rapidamente e em união para combater essa doença", afirmou Richard Hatchett, CEO da Cepi, em comunicado.>
Uma retrospectiva da história recente de outras epidemias de doenças infecciosas, como ebola, zika e Sars (síndrome respiratória aguda grave) mostra que essas vacinas enfrentaram um caminho longo e desafiador.>
No surto de Sars, em 2003, houve uma corrida semelhante para o desenvolvimento de vacinas. Mais de 15 anos depois, ainda não há nada aprovado.>
A primeira vacina contra o ebola, aprovada no mês passado nos EUA, surgiu após cerca de 20 anos de pesquisa e quatro anos de testes clínicos.>
Os NIH ainda estão testando uma série de candidatas a vacina contra o zika, vírus transmitido por mosquitos que começou a se espalhar amplamente em 2015.>
Segundo pesquisadores, isso ocorreu em parte porque os esforços de saúde pública ajudaram a impedir a propagação do vírus, tornando a vacina pouco necessária.>
Outro desafio é encontrar fontes de financiamento que sejam mantidas mesmo quando a epidemia arrefecer, disse à Business Insider Maria Elena Bottazzi, co-diretora do Centro de Desenvolvimento de Vacinas do Hospital Infantil do Texas.>
Para ela, a natureza reacionária desse tipo de financiamento é uma de suas maiores preocupações para o desenvolvimento futuro de vacinas.>
Bottazzi conta que sua equipe estava desenvolvendo uma vacina contra a Sars quando a Mers (síndrome respiratória do Oriente Médio) eclodiu.>
Isso levou a uma mudança no financiamento para se concentrar na Mers, às custas do desenvolvimento da candidata à Sars.>
Com o coronavírus, ela aposta que o desafio será o mesmo quando algumas candidatas a vacina passarem para a fase dos testes clínicos.>
"Os obstáculos científicos são os mais baixos", disse ela. "Cientificamente, podemos nos movimentar rapidamente. Os maiores obstáculos são como mobilizar os recursos e criar as parcerias para levar essa vacina ao ponto de entregá-la à população.">
Botazzi estimou que o desenvolvimento de uma vacina contra o coronavírus com potencial para chegar ao mercado pode levar de um a três anos. >
Moderna, empresa de biotecnologia com sede em Cambridge (Massachusetts), é outra empresa que anunciou planos de desenvolver uma vacina experimental contra o coronavírus.>
O CEO da empresa, Stéphane Bancel, reconheceu que ainda há incógnitas sobre a doença que provavelmente criarão desafios aos testes clínicos.>
"Ainda não temos certeza sobre o tempo de incubação do vírus nem por quanto tempo as pessoas ficam doentes", disse Bancel ao Business Insider. "Isso tem implicações muito grandes para a modelagem [de uma vacina candidata] que você faz.">
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