Publicado em 7 de outubro de 2020 às 07:37
A criatividade dos traficantes foi além de encontrar novas rotas num mundo bloqueado pela Covid-19 e chegou às próprias drogas, mostra relatório da União Europeia. >
A cada semana, um narcótico antes desconhecido é descoberto pelo sistema de alerta do Centro de Monitoramento Europeu de Drogas e Adição (EMCDDA, na sigla em inglês): em 2019 foram 53 as moléculas ou preparações que apresentam risco suficiente para entrarem no relatório, divulgado no dia 22.>
Durante a pandemia, com casas noturnas fechadas e festas proibidas, houve queda no consumo de drogas chamadas sociais, como o ecstasy, mas o centro detectou "maior procura por substâncias novas, como benzodiazepínicos", possivelmente impulsionada pela escassez das mais conhecidas.>
Entre as descobertas da última década, as mais sintetizadas foram as canabinoides, que emulam o efeito da maconha - em sua versão vegetal, a droga é a mais consumida entre todas: 1 em cada 10 adultos tinha usado cânabis na França e na Espanha, nos 12 meses anteriores ao levantamento europeu.>
>
Mas as inovações são amplas, e chegam às ruas europeias todos os anos mais de dez classes diferentes das chamadas NPS (novas substâncias psicoativas), entre elas os opioides, causadores de quase 90% das 8.300 mortes anuais por overdose registradas no continente.>
Em 2019, foram detectados pela primeira vez oito novos opioides sintéticos não controlados, alguns de grupos novos.>
Por serem muito mais potentes, as versões sintéticas facilitam o tráfico, afirma Rachel Christie, analista da área no EMCDDA: volumes menores equivalem a muito mais doses.>
Um exemplo é o carfentanilo, traquilizante para elefantes 80 vezes mais potente que a heroína, afirmou ela ao jornal Folha de S.Paulo.>
A tendência mais recente foi a das catinonas, conhecidas como "sal de banho" e semelhantes às anfetaminas. No último ano, elas foram 36% das NPS apreendidas, deixando as canabinoides, com 28%, em segundo lugar.>
As 53 novas drogas identificadas se juntam a outras 740 já monitoradas pelo EMCDDA desde 1997. Mais de 400 ainda estavam no mercado no último ano.>
Embora registrem as apreensões e identificações de NPS, só 11 países europeus acompanham seu consumo, que apresenta índices bem menores que o de drogas tradicionais.>
Nos 12 meses anteriores à pesquisa, a porcentagem de pessoas de 15 a 34 anos que havia usado uma nova substância variou de zero, na Suécia, a quase 2%, na Polônia.>
Canabinoides sintéticos foram consumidos por 0,3% dos jovens espanhóis e 0,6% dos italianos, e cresceram relatos de uso de óxido nitroso (gás hilariante) e de novas benzodiazepinas.>
Além disso, foram encontrados três laboratórios produzindo catinonas dentro da União Europeia, na Espanha, na Holanda e na Polônia.>
Por não estarem descritas, reguladas nem controladas, as NPS circulam despercebidas por mais tempo, o que levou à criação de uma rede de 30 sistemas nacionais (os 27 países-membros da UE, mais Reino Unido, Turquia e Noruega) com a Europol.>
Também foi incluída a Agência Europeia de Medicamentos, já que muitas novas drogas são moléculas que estavam sendo desenvolvidas como medicamentos, mas não foram aprovadas pelos órgãos reguladores.>
Em outros casos, como no das benzodiazepinas, as novas moléculas são vendidas como versões falsas de medicamentos ansiolíticos regulares (como alprazolam e diazepam). Desde 2015, 21 dessas substâncias foram descobertas pelo centro.>
O sistema de alerta internacional é acionado quando a polícia de um país apreende uma substância não identificável e suspeita que seja uma droga.>
Se as análises confirmarem que é um novo narcótico e ele estiver circulando em quantidade significativa, passa a ser computado como uma NPS, e o centro repassa suas características a todos os outros países, para que eles também sejam capazes de rastreá-las e apreendê-las.>
As novas substâncias preocupam principalmente por causa da potência. Canabinoides, por exemplo, por serem mais baratos e mais fortes que a maconha, se espalharam por prisões europeias e chegaram a provocar mortes.>
A potência também é uma preocupação do centro em relação à cânabis botânica: haxixe e maconha têm agora o dobro de THC (substância psicotrópica presente na cânabis) do que há uma década, afirma o relatório.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta