Publicado em 26 de junho de 2020 às 07:48
Um anúncio marcado para as 12h desta sexta-feira (26) definirá se a província e a cidade de Buenos Aires terão um novo "lockdown" devido ao rápido aumento de casos na região metropolitana da capital do país. >
Até a noite desta quinta (25), o presidente Alberto Fernández, o governador da província de Buenos Aires, Axel Kicillof - ambos kirchneristas -, e o chefe de governo da cidade de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta - do partido do ex-presidente Mauricio Macri -, ainda não tinham chegado a um acordo.>
No começo de maio, a Argentina havia começado a flexibilizar a quarentena obrigatória imposta em 20 de março. Em mais de dez províncias, onde quase não há mais a circulação do vírus, a vida praticamente voltou ao normal, inclusive com a reabertura do comércio, de bares e restaurantes e do turismo interno.>
Porém, o que mais preocupa as autoridades é que, dos 49.851 casos reportados até agora no país, de acordo com dados compilados pela Universidade Johns Hopkins, 97% estão na província de Buenos Aires e na cidade de Buenos Aires, que tem status de província.>
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As cifras de infecções quadruplicaram desde 10 de maio, quando bancos e um maior número de setores do comércio - shoppings seguem fechados, e restaurantes atuam apenas por meio de delivery - tiveram permissão para reabrir.>
Essa flexibilização incluiu, ainda, a autorização para que crianças saíssem de casa uma vez por semana, acompanhadas de um adulto e durante uma hora. Atividades físicas ao ar livre também foram liberadas, entre 20h e 8h, para evitar os horários comerciais.>
Fernández, isolado na residência de Olivos após ministros e funcionários terem recebido diagnóstico de coronavírus, quer voltar a um estrito "lockdown" por pelo menos 15 dias, a partir de segunda-feira (29).>
Só que a decisão envolve também Kicillof, favorável à retomada da quarentena dura, e Larreta, para quem a economia local não resistirá à medida. Ele também argumenta que a população está num nível tão alto de esgotamento que o movimento pode resultar num agravamento das tensões sociais.>
Nos últimos fins de semana, houve protestos pelo fim da quarentena. Alguns deles foram organizados por apoiadores da oposição, que vê nas medidas atos autoritários e deu ao governo o apelido de "infectadura".>
Outros atos são compostos por trabalhadores informais, que recebem auxílio do governo, muitas vezes insuficiente para cobrir todas as necessidades.>
As notícias econômicas não são boas. Cerca de 30% dos restaurantes e bares da cidade já fecharam suas portas para sempre. Outros 40% tentam sobreviver, mas dizem estar prestes a entrar na mesma situação. A queda do comércio chegou a 98%, e a pressão dos lojistas sobre Larreta é grande.>
Além disso, o Fundo Monetário Internacional informou na quarta (24) que a Argentina deve ter uma queda de 10% do PIB em 2020. E, para piorar o quadro, as quatro primeiras tentativas de renegociar a dívida externa de US$ 65 bilhões (R$ 348,48 bilhões) com parte dos credores não frutificaram.>
Para financiar os gastos de contenção dos efeitos da Covid-19, o governo vem emitindo dinheiro, o que causa mais inflação. Há, também, a proibição, por decreto federal, de demitir, suspender ou reduzir pagamentos de funcionários durante a pandemia, e uma onda de demissões no futuro aparece no horizonte.>
Já há consenso, entretanto, em controlar ainda mais a mobilidade urbana. Só poderão usar o transporte público profissionais de saúde e trabalhadores do setor de comércio de alimentos, por exemplo.>
E haverá mais impedimentos para que pessoas que vivem na província de Buenos Aires entrem na cidade.>
Por outro lado, a escolha de que comércios e indústrias recém-abertos deverão fechar novamente está em discussão desde segunda-feira com a equipe de infectologistas. A decisão deve ser anunciada na sexta.>
Larreta insiste em seguir com a abertura comercial, porém com protocolos estritos, e é contra o fim dos passeios com crianças e as saídas para atividades físicas.>
Já o presidente quer continuar privilegiando a saúde em detrimento da economia. Mas, nesta semana, seu secretário de Assuntos Estratégicos, Gustavo Béliz, o aconselhou a avaliar as demais variantes, já que sua aprovação popular caiu de 70% para 61%, de acordo com pesquisa do instituto Poliarquía, e, no exterior, já há um clima de desconfiança diante da dificuldade de o país fechar um acordo com credores.>
A postura populista ao impor as restrições, segundo Béliz, estaria gerando clima de desconfiança entre investidores. Junto com a projeção desastrosa do PIB pelo FMI, o risco-país aumentou, e agências como Fitch e S&P rebaixaram a nota da Argentina.>
Para completar, as ações argentinas nas bolsas também vêm caindo. Todas essas variantes estão sobre a mesa para Fernández, Kicillof e Larreta.>
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