Publicado em 1 de outubro de 2020 às 07:39
O Brasil não se uniu a embaixadores de 44 países e representantes de 6 organizações internacionais que enviaram nesta semana carta aberta ao governo da Polônia pedindo respeito aos direitos dos LGBT no país. >
Entre os signatários estão embaixadores de países cujo governo atual é conservador, como a Índia e os Estados Unidos.>
A embaixadora americana, Georgette Mosbacher, divulgou a iniciativa em rede social, sob a frase "os direitos humanos não são uma ideologia "eles são universais".>
Da América do Sul, Argentina e Venezuela assinaram.>
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O ministério de Relações Exteriores da Bélgica, país que coordenou a carta, afirmou que apenas a Embaixada do Brasil poderia responder por que não se juntou à iniciativa.>
Questionado na manhã de segunda (28), o Ministério das Relações Exteriores do Brasil confirmou na terça por telefone que havia recebido as perguntas e afirmou "estar analisando" a questão.>
Não houve resposta até as 16h40 desta quarta (30).>
Embora os termos da carta estejam de acordo com princípios gerais da diplomacia brasileira em relação aos direitos humanos, o país adotou um discurso conservador desde a eleição de Jair Bolsonaro.>
Na atual gestão, diplomatas receberam instruções oficiais do comando do Itamaraty para reiterar ?o entendimento do governo brasileiro de que a palavra gênero significa o sexo biológico: feminino ou masculino? durante negociações em foros multilaterais, revelou a Folha de S.Paulo no ano passado.>
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, faz parte dos chamados "ministros ideológicos" do governo, nos quais se inclui também o atual titular da Educação, Milton Ribeiro, que relacionou a homossexualidade a "famílias desajustadas".>
A carta assinada por 50 diplomatas alerta para ?os problemas que afetam a comunidade gay, lésbica, bissexual, transgênero e intersex (LGBTI) e outras minorias na Polônia que enfrentam desafios semelhantes?.>
Os embaixadores pedem o ?fim da discriminação, em particular a baseada em orientação sexual e identidade de gênero?, em áreas como educação, saúde, questões sociais, cidadania, serviço público e obtenção de documentos.>
Segundo o texto, é preciso "defender as comunidades que precisam de proteção contra ataques verbais e físicos e discurso de ódio".>
O governo belga afirmou que o objetivo não é "apontar o dedo a culpados", mas "reafirmar princípios universais de direitos humanos".>
A União Europeia tem recebido reclamações crescentes contra a coalizão de direita que governa a Polônia, liderada pelo partido conservador Lei e Justiça (PiS).>
Os principais avanços contra os direitos LGBT têm vindo do ministro da Justiça, Zbigniew Ziobro, do ultraconservador Polônia Solidária.>
Ele defende que a Polônia deixe a Convenção de Istambul (sobre o combate à violência contra as mulheres, disseram fontes do governo) e quer proibição expressa ao casamento gay.>
Ziobro também pressionou para que cidades que se declaram "livres de LGBT" recebessem uma compensação financeira por terem perdido fundos da União Europeia.>
Desde maio do ano passado, cerca de 100 municípios poloneses, de um total de 900, assinaram declarações semelhantes, de hostilidade aos não heterossexuais.>
Antes de ser reeleito, em julho deste ano, o presidente polonês, Andrzej Duda, enviou à Assembleia um projeto de emenda à Constituição que proíbe a adoção de filhos por casais do mesmo sexo, mesmo que a criança seja filha biológica de um dos parceiros.>
Na última semana, uma petição assinada por 340 mil pessoas foi entregue à comissária responsável por igualdade, Helena Dalli, alertando para o desrespeito aos direitos dos LGBT no país centro-europeu.>
Na semana anterior, o Parlamento Europeu aprovou uma resolução pedindo à Comissão (Poder Executivo da União Europeia) que condicione o repasse de fundos à Polônia ao fim das discriminações.>
A presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, também condenou em discursos as "zonas livres de LGBT", chamando-as de "zonas livres de humanidade".>
Em agosto, quando uma ativista LGBT foi presa, o Parlamento Europeu pediu sanções contra a Polônia "pelas violações generalizadas e persistentes do Estado de direito, dos direitos fundamentais e dos valores da UE".>
Em rede social, o ministro-adjunto de Relações Exteriores polonês, Pawel Jablonski, afirmou que as "zonas livres de LGBT" não existem no país e acrescentou a tag "#fakenews".>
"Ao mesmo tempo, gostaríamos de lembrar que, de acordo com a Constituição da República da Polônia, o casamento é a união de uma mulher e um homem", acrescentou o vice-ministro.>
Segundo ele, essa declaração não é discriminação, mas "uma expressão de respeito pelos valores que os poloneses professam".>
Jablonski, porém, declarou apoio à carta dos embaixadores, dizendo que "a lei polonesa protege todas as pessoas em igual grau".>
"Ninguém deve ser discriminado por motivos políticos, sociais ou econômicos - ou por qualquer outro motivo.">
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