Publicado em 3 de junho de 2020 às 11:10
Donald Trump deu um ultimato, mas não arrefeceu os protestos contra a violência policial e o racismo nos EUA. >
O presidente americano ameaçou na segunda-feira (1º) mandar às ruas milhares de soldados do Exército caso prefeitos e governadores não consigam conter as manifestações que atingem pelo menos 140 cidades do país.>
Apesar do tom agressivo, os atos continuaram durante e depois do discurso de Trump, resultando em mais uma madrugada tensa, com pelo menos cinco policiais baleados e centenas de pessoas presas em vários estados.>
Nesta terça-feira (2), as manifestações que pedem justiça pela morte de George Floyd completam uma semana em Minneapolis e, de lá, espalharam-se pelos EUA e, agora, também ganham tração fora do país.>
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Além de atos em Sydney e Paris nesta terça e em Amsterdã, Londres, Berlim, Barcelona e Cidade do México nos últimos dias, representantes da União Europeia e da ONU apoiaram os protestos.>
Aos 46 anos, Floyd foi morto na segunda-feira (25) depois de ter o pescoço prensado contra o chão por quase nove minutos pelo joelho de um policial branco. O agora ex-agente Derek Chauvin foi preso na sexta-feira (29) e transferido para uma prisão de segurança máxima, onde espera julgamento.>
A ação, gravada por testemunhas, viralizou nas redes sociais e mobilizou o país, gerando protestos pacíficos e conflitos entre ativistas e policiais.>
Na noite de segunda, diante da Casa Branca, o presidente tentou refletir sua retórica. Colocou tanques blindados, soldados e a cavalaria para avançar sobre manifestantes.>
Para tentar sinalizar força e controle, queria atravessar a praça onde aconteciam os atos e posar para uma foto em frente à histórica igreja de St. John, que tinha sido parcialmente vandalizada no domingo.>
A ação do presidente foi criticada por diversos líderes religiosos da cidade, inclusive por integrantes da própria St. John que, antes da dispersão forçada, distribuíam água e alimentos aos ativistas.>
"O presidente posou com a Bíblia e usou uma de nossas igrejas, sem a nossa permissão, como apoio para dar uma mensagem que vai contra os ensinamentos de Jesus e contra tudo o que nossa igreja defende. Estou indignada", disse a bispa Mariann Budde.>
Outra crítica pesada veio do chefe da polícia de Houston, Art Acevedo. Em uma entrevista à CNN, ele se dirigiu à Trump, falando em nome dos chefes de polícia de todo o país: "Se você não tem algo construtivo a dizer, cale a sua boca. Porque você está colocando homens e mulheres nos seus 20 e poucos anos em risco. Não se trata de dominar, e sim de conquistar corações e mentes".>
Nesta terça, as grades que protegiam a sede do governo americano eram maiores que as de segunda, e o efetivo policial também estava muito mais reforçado do que o dos últimos dias em toda a cidade.>
As medidas, porém, não alteram a dinâmica dos protestos, que começaram na terça ainda mais numerosos que os atos de segunda-feira.>
Grupos de milhares de pessoas se dirigiam à Casa Branca perto das 18h, uma hora antes do início do toque de recolher estipulado na cidade.>
Na noite anterior, manifestantes seguiram nas ruas na madrugada e houve pichações e depredações de lojas e restaurantes, além de dezenas de prisões na capital.>
Um morador na região de Logan Circle, a cerca de 3 quilômetros da residência oficial de Trump, chegou a abrigar 70 ativistas dentro de sua casa para esperar a passagem da polícia, que reprimia os atos.>
Além de Washington, a madrugada de terça também teve confrontos em outras cidades.>
Em Nova York, pouco depois das 23h (0h em Brasília), quando o toque de recolher entrou em vigor, mais de cem pessoas se reuniram de maneira pacífica diante do Barclays Center, no Brooklyn, e se ajoelharam para homenagear as vítimas da violência dos últimos dias. Os policiais observaram a distância.>
Houve também cenas de saques, tumulto e prisões na cidade, e o prefeito Bill de Blasio decidiu adiantar o toque de recolher para 20h (21h de Brasília) nesta terça. A medida durará até domingo (7).>
"Apoiamos os protestos pacíficos, mas agora é o momento de voltar para casa. Há pessoas que estão nas ruas nesta noite não para protestar, e sim para destruir propriedades e provocar danos a outros. Essas pessoas estão sendo detidas, suas ações são inaceitáveis", disse o democrata.>
Ainda na madrugada de terça, quatro policiais foram hospitalizados em St. Louis, no estado de Missouri, após levarem tiros em meio a confrontos com manifestantes. Eles não correm risco de morrer.>
Outro policial foi baleado em Las Vegas, onde ao menos dois incidentes envolvendo troca de tiros durante protestos são investigados.>
Em Los Angeles, manifestantes atearam fogo a um centro comercial. Em Oakland, também na Califórnia, mais de 40 pessoas foram presas por desrespeitar o toque de recolher, e um policial já havia sido morto na cidade na semana passada.>
Segundo levantamento da agência Associated Press, mais de 5.600 pessoas foram presas desde o início dos protestos.>
Os atos têm seguido de forma pacífica durante o dia, mas à noite grupos se dividem, e o clima muda em diversas regiões.>
Apesar das críticas dos conservadores, que pedem ainda mais repressão policial diante das cenas de confronto, analistas afirmam que ações como a queima de viaturas de polícia ou a depredação de delegacias, por exemplo, caso não atinjam pessoas, têm simbolismo e podem ser tratadas como uma forma de luta política.>
Às vésperas da eleição de novembro, opositores a Trump aproveitaram esta terça para criticar o presidente.>
A presidente da Câmara, Nancy Pelosi, e o líder democrata no Senado, Chuck Schumer, emitiram comunicado conjunto.>
"Em um momento em que nosso país clama por unificação, este presidente o está dilacerando. Lançar gás lacrimogêneo em manifestantes pacíficos, sem provocação, só para que o presidente pudesse posar para fotos do lado de fora de uma igreja desonra todos os valores que a fé nos ensina", diz o texto.>
O chefe de diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, afirmou em discurso televisionado que a organização está "chocada" e "horrorizada" com a morte de Floyd.>
A alta comissária da Nações Unidas para os direitos humanos, Michelle Bachelet, disse em comunicado que os protestos nos EUA jogam luz não só sobre a violência policial contra pessoas negras, mas também sobre a desigualdade histórica vivida por essa população no acesso a saúde, educação e ao mercado de trabalho.>
Já o virtual candidato democrata à Presidência, Joe Biden, prometeu tomar medidas, caso seja eleito, para enfrentar o racismo e a violência policial, além de tentar unificar o país. Disse que lidar com essas questões é "trabalho para uma geração" e que levará mais tempo do que um mandato presidencial, mas que não se pode esperar mais para começar.>
Mesmo que não consiga abarcar integralmente essas questões, Biden afirmou que não "negociará no medo e na divisão". "Não vou acender as chamas do ódio. Vou procurar curar as feridas raciais que há muito atormentam este país - não usá-las para obter ganhos políticos.">
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