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Ameaça de Trump gera efeito rebote e atos ganham força

Ameaça de Trump gera efeito rebote e atos ganham força

Manifestações que pedem justiça pela morte de George Floyd espalharam-se pelos EUA e países do exterior

Publicado em 3 de junho de 2020 às 11:10

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Pessoas marcham em direção à Trafalgar Square, no centro de Londres, na Inglaterra, neste domingo, 31 de maio     de 2020, para protestar contra a morte     de George Floyd
Pessoas marcham em direção à Trafalgar Square, no centro de Londres, na Inglaterra, neste domingo, 31 de maio de 2020, para protestar contra a morte de George Floyd. (MATT DUNHAM)

Donald Trump deu um ultimato, mas não arrefeceu os protestos contra a violência policial e o racismo nos EUA.

O presidente americano ameaçou na segunda-feira (1º) mandar às ruas milhares de soldados do Exército caso prefeitos e governadores não consigam conter as manifestações que atingem pelo menos 140 cidades do país.

Apesar do tom agressivo, os atos continuaram durante e depois do discurso de Trump, resultando em mais uma madrugada tensa, com pelo menos cinco policiais baleados e centenas de pessoas presas em vários estados.

Nesta terça-feira (2), as manifestações que pedem justiça pela morte de George Floyd completam uma semana em Minneapolis e, de lá, espalharam-se pelos EUA e, agora, também ganham tração fora do país.

Além de atos em Sydney e Paris nesta terça e em Amsterdã, Londres, Berlim, Barcelona e Cidade do México nos últimos dias, representantes da União Europeia e da ONU apoiaram os protestos.

Aos 46 anos, Floyd foi morto na segunda-feira (25) depois de ter o pescoço prensado contra o chão por quase nove minutos pelo joelho de um policial branco. O agora ex-agente Derek Chauvin foi preso na sexta-feira (29) e transferido para uma prisão de segurança máxima, onde espera julgamento.

A ação, gravada por testemunhas, viralizou nas redes sociais e mobilizou o país, gerando protestos pacíficos e conflitos entre ativistas e policiais.

Na noite de segunda, diante da Casa Branca, o presidente tentou refletir sua retórica. Colocou tanques blindados, soldados e a cavalaria para avançar sobre manifestantes.

Para tentar sinalizar força e controle, queria atravessar a praça onde aconteciam os atos e posar para uma foto em frente à histórica igreja de St. John, que tinha sido parcialmente vandalizada no domingo.

A ação do presidente foi criticada por diversos líderes religiosos da cidade, inclusive por integrantes da própria St. John que, antes da dispersão forçada, distribuíam água e alimentos aos ativistas.

"O presidente posou com a Bíblia e usou uma de nossas igrejas, sem a nossa permissão, como apoio para dar uma mensagem que vai contra os ensinamentos de Jesus e contra tudo o que nossa igreja defende. Estou indignada", disse a bispa Mariann Budde.

Outra crítica pesada veio do chefe da polícia de Houston, Art Acevedo. Em uma entrevista à CNN, ele se dirigiu à Trump, falando em nome dos chefes de polícia de todo o país: "Se você não tem algo construtivo a dizer, cale a sua boca. Porque você está colocando homens e mulheres nos seus 20 e poucos anos em risco. Não se trata de dominar, e sim de conquistar corações e mentes".

Nesta terça, as grades que protegiam a sede do governo americano eram maiores que as de segunda, e o efetivo policial também estava muito mais reforçado do que o dos últimos dias em toda a cidade.

As medidas, porém, não alteram a dinâmica dos protestos, que começaram na terça ainda mais numerosos que os atos de segunda-feira.

Grupos de milhares de pessoas se dirigiam à Casa Branca perto das 18h, uma hora antes do início do toque de recolher estipulado na cidade.

Na noite anterior, manifestantes seguiram nas ruas na madrugada e houve pichações e depredações de lojas e restaurantes, além de dezenas de prisões na capital.

Um morador na região de Logan Circle, a cerca de 3 quilômetros da residência oficial de Trump, chegou a abrigar 70 ativistas dentro de sua casa para esperar a passagem da polícia, que reprimia os atos.

Além de Washington, a madrugada de terça também teve confrontos em outras cidades.

Em Nova York, pouco depois das 23h (0h em Brasília), quando o toque de recolher entrou em vigor, mais de cem pessoas se reuniram de maneira pacífica diante do Barclays Center, no Brooklyn, e se ajoelharam para homenagear as vítimas da violência dos últimos dias. Os policiais observaram a distância.

Houve também cenas de saques, tumulto e prisões na cidade, e o prefeito Bill de Blasio decidiu adiantar o toque de recolher para 20h (21h de Brasília) nesta terça. A medida durará até domingo (7).

"Apoiamos os protestos pacíficos, mas agora é o momento de voltar para casa. Há pessoas que estão nas ruas nesta noite não para protestar, e sim para destruir propriedades e provocar danos a outros. Essas pessoas estão sendo detidas, suas ações são inaceitáveis", disse o democrata.

Ainda na madrugada de terça, quatro policiais foram hospitalizados em St. Louis, no estado de Missouri, após levarem tiros em meio a confrontos com manifestantes. Eles não correm risco de morrer.

Outro policial foi baleado em Las Vegas, onde ao menos dois incidentes envolvendo troca de tiros durante protestos são investigados.

Em Los Angeles, manifestantes atearam fogo a um centro comercial. Em Oakland, também na Califórnia, mais de 40 pessoas foram presas por desrespeitar o toque de recolher, e um policial já havia sido morto na cidade na semana passada.

Segundo levantamento da agência Associated Press, mais de 5.600 pessoas foram presas desde o início dos protestos.

Os atos têm seguido de forma pacífica durante o dia, mas à noite grupos se dividem, e o clima muda em diversas regiões.

Apesar das críticas dos conservadores, que pedem ainda mais repressão policial diante das cenas de confronto, analistas afirmam que ações como a queima de viaturas de polícia ou a depredação de delegacias, por exemplo, caso não atinjam pessoas, têm simbolismo e podem ser tratadas como uma forma de luta política.

Às vésperas da eleição de novembro, opositores a Trump aproveitaram esta terça para criticar o presidente.

A presidente da Câmara, Nancy Pelosi, e o líder democrata no Senado, Chuck Schumer, emitiram comunicado conjunto.

"Em um momento em que nosso país clama por unificação, este presidente o está dilacerando. Lançar gás lacrimogêneo em manifestantes pacíficos, sem provocação, só para que o presidente pudesse posar para fotos do lado de fora de uma igreja desonra todos os valores que a fé nos ensina", diz o texto.

O chefe de diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, afirmou em discurso televisionado que a organização está "chocada" e "horrorizada" com a morte de Floyd.

A alta comissária da Nações Unidas para os direitos humanos, Michelle Bachelet, disse em comunicado que os protestos nos EUA jogam luz não só sobre a violência policial contra pessoas negras, mas também sobre a desigualdade histórica vivida por essa população no acesso a saúde, educação e ao mercado de trabalho.

Já o virtual candidato democrata à Presidência, Joe Biden, prometeu tomar medidas, caso seja eleito, para enfrentar o racismo e a violência policial, além de tentar unificar o país. Disse que lidar com essas questões é "trabalho para uma geração" e que levará mais tempo do que um mandato presidencial, mas que não se pode esperar mais para começar.

Mesmo que não consiga abarcar integralmente essas questões, Biden afirmou que não "negociará no medo e na divisão". "Não vou acender as chamas do ódio. Vou procurar curar as feridas raciais que há muito atormentam este país - não usá-las para obter ganhos políticos."

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