Publicado em 2 de junho de 2020 às 10:55
Menos de 24 horas depois de a Casa Branca ter ficado completamente às escuras, os manifestantes voltaram à residência oficial do presidente Donald Trump, em Washington, nesta segunda-feira (1º), no quarto dia de protestos na capital americana (e o sétimo no país). >
Com a polícia reprimindo os ativistas e tanques protegendo os arredores da Casa Branca, Trump disse que vai mandar "milhares e milhares" de homens do Exército fortemente armados para as ruas caso os prefeitos e governadores não consigam conter as manifestações contra o racismo que tomaram conta de várias cidades do país na última semana.>
"Meu primeiro dever é defender o país", afirmou, nos jardins da residência oficial, enquanto bombas de gás lacrimogêneo eram jogadas contra manifestantes pacíficos, a poucos metros de onde Trump falava. "Estamos colocando um fim aos tumultos e à falta de lei.">
Em tom firme, o presidente pediu que os governadores e prefeitos usem as forças da Guarda Nacional em número suficiente para conter as ruas.>
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"Se uma cidade ou estado se recusar a tomar as medidas necessárias para defender a vida e a propriedade de seus residentes, então implantarei as forças armadas dos Estados Unidos e rapidamente resolverei o problema para eles.">
Depois das declarações, em um movimento inédito e visto pelos analistas como tentativa de demonstrar força e controle, Trump atravessou os jardins e caminhou até a histórica igreja de St. John, do século 19, que tinha sido parcialmente vandalizada no domingo.>
Ele carregava uma Bíblia e reuniu parte de sua equipe diante de fotógrafos e cinegrafistas.>
Horas antes, sob o sol forte da primavera, pichações, prédios queimados e lojas depredadas remetiam à conflituosa madrugada de protestos contra a violência policial e o racismo em Washigton.>
Depois de manifestações pacíficas durante o dia, o início da noite de domingo (31) foi também o começo da escalada dos confrontos entre policiais e ativistas na capital do país, e as luzes da residência oficial do presidente dos EUA foram apagadas por segurança.>
A dinâmica dos protestos em Washington refletiu a dicotomia entre o dia e a noite nos atos que já atingiram mais de 140 cidades americanas.>
Grande parte das manifestações transcorre de forma tranquila durante o dia, mas o cair da noite divide os grupos e tem mudado o clima em muitas regiões.>
Desde o início da semana passada, milhares de pessoas pedem justiça pela morte de George Floyd.>
Negro e desarmado, o ex-segurança de 46 anos teve o pescoço prensado contra o chão por quase nove minutos pelo joelho de um policial branco em Minnesota. O agora ex-policial Derek Chauvin foi preso na sexta-feira (29) e transferido no domingo para uma prisão de segurança máxima, onde espera julgamento.>
O agente já foi objeto de 18 inquéritos disciplinares, dos quais 16 foram encerrados sem nenhum tipo de punição. Ele foi demitido da polícia logo após o episódio vir à tona.>
Nesta segunda, médicos independentes apontaram que Floyd foi morto por "asfixia mecânica", o que difere do relatório divulgado pela polícia anteriormente.>
A ação, gravada por testemunhas que passavam pelo local, viralizou nas redes sociais e mobilizou o país.>
Os atos contra a violência sistemática da polícia têm escancarado mais uma vez as desigualdades e o racismo estrutural que atravessa as instituições americanas.>
Eles ganham força no momento em que o país sofre com a pandemia do coronavírus, que já matou mais de 100 mil pessoas e mergulhou os americanos -principalmente os negros- em uma combinação de crise econômica e de saúde pública sem precedente.>
Conforme os protestos se alastram, aumentam também os embates entre policiais e manifestantes, ilustrados por cenas de barbárie, que resultaram no aumento de prisões e mortes em diversas cidades.>
No domingo (31), ativistas saquearam lojas e queimaram carros.>
Os policiais reagiram com bombas de gás lacrimogênio, balas de borracha e spray de pimenta.>
Nesta segunda (1º), os ativistas esperavam um roteiro parecido.>
Às 16h (17h de Brasília), centenas de manifestantes estavam na praça Lafayette, em frente à sede do governo americano. Com placas que diziam "black lives matter" (vidas de negros importam) e "I can't breath" (eu não consigo respirar), pediam justiça e vociferavam estar cansados de serem mortos por policiais. Mas não havia confusão.>
Quando uma garrafa cheia de leite foi atirada contra policiais, manifestantes vaiaram e pediram que objetos não fossem arremessados.>
"Assim vocês não ajudam", disse no megafone Arianna Evans, 23, formada em ciência política.>
Os gritos eram disparados em frente a uma fileira de pelo menos 70 policiais, que posicionaram grades de proteção em um cordão de isolamento, desta vez a quase dois quarteirões da Casa Branca.>
Eram homens do Serviço Secreto, da Guarda Nacional e do Exército americano.>
Pouco antes das 18h, o ato havia quase dobrado de tamanho, o efetivo policial foi ainda mais reforçado e outras garrafas foram arremessadas contra os agentes. Eles revidaram com bombas de gás, causando correria e gritos.>
Após o aumento da segurança oficial nas laterais da praça em frente à Casa Branca, ativistas entraram em confronto com policiais, que reagiram com cassetetes, e duas pessoas foram feridas na cabeça. Faltava meia hora para começar o toque de recolher, e o número de pessoas nas ruas só crescia.>
Em poucos minutos, a confusão aumentou, e os policiais avançaram com bombas, encurralando os manifestantes, que se ajoelhavam no chão para evitar o confronto.>
Na primeira vez em que os manifestantes por Floyd se postaram diante da residência oficial do presidente, na sexta-feira (29), houve princípio de tumulto quando um grupo tentou derrubar as grades que estavam a poucos metros da sede do governo.>
Segundo o jornal The New York Times, o presidente Donald Trump e sua família foram levados a um abrigo subterrâneo, usado geralmente durante ataques terroristas, e lá ficaram por uma hora.>
No sábado e no domingo, a situação piorou. Os protestos cresceram em número de pessoas que marchavam de dia e também na intensidade dos confrontos que se estenderam durante a noite.>
A prefeita de Washington, a democrata Muriel Bowser, declarou toque de recolher às 23h do domingo, assim como pelo menos outras 40 cidades do país, mas isso não impediu que os atos entrassem pela madrugada.>
Mais de 4.400 pessoas foram presas em todo o país desde quinta-feira, segundo a agência de notícias AP, sob acusações de roubo e descumprimento do toque de recolher.>
Nesta segunda, a prefeita de Washington decretou o recolhimento mais cedo, às 19h, acrescentando que a cidade está se preparando "para vários dias de manifestações.">
Parte dos policiais na capital e no restante do país tem agido também contra jornalistas, atingidos por balas de borracha e spray de pimenta enquanto estão trabalhando e devidamente identificados.>
Trump alimenta a retórica raivosa contra a imprensa e o que chama de esquerda radical e anarquistas, em um movimento que atrela o discurso da ordem à polarização, no habitual aceno a seus eleitores conservadores.>
Enquanto o presidente insufla a repressão violenta aos protestos, os confrontos se repetem, além de Washington, em cidades como Nova York, Filadélfia, Santa Monica, San Diego, Los Angeles, Atlanta, Chicago, Boston, Louisville e Minneapolis, onde Floyd foi morto na segunda (25).>
Foi ali que ativistas viram um caminhão-tanque avançar sobre um grupo de pessoas no domingo. Era a quinta noite seguida com incêndios, saques e vandalismo em Minneapolis.>
Segundo a agência Reuters, o motorista foi retirado do veículo e espancado, mas ninguém ficou gravemente ferido.>
Em Louisville, no estado de Kentucky, um homem levou um tiro e morreu durante a tentativa da polícia de dispersar pessoas em um estacionamento.>
Os policiais afirmam que foram atacados primeiro e, então, a Guarda Nacional revidou à bala.>
Um policial na Califórnia e um manifestante em Michigan já haviam sido mortos na semana passada e, a eles, uniram-se novas vítimas.>
Ao menos 27 estados, mais a capital americana, convocaram a Guarda Nacional para ajudar a reprimir protestos. A medida é considerada extrema e, em Minnesota, por exemplo, foi tomada na semana passada pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial.>
Em Nova York, a polícia prendeu cerca de 350 pessoas entre a noite de sábado e a madrugada de domingo, e 30 policiais tiveram ferimentos leves. Já na noite de domingo, foram cerca de 200 presos, principalmente nos distritos de Manhattan e Brooklyn, e pelo menos sete policiais ficaram feridos.>
O prefeito Bill de Blasio afirmou que a conduta dos policiais está sendo investigada e que serão examinados vídeos que mostram veículos da polícia avançando sobre uma multidão de manifestantes que jogava entulho contra um dos carros, no bairro do Brooklyn.>
A filha do prefeito chegou a ser detida pela polícia por participar de uma assembleia ilegal na noite de sábado, mas foi liberada.>
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