• Mariana Reis

    Mariana Reis é mestranda em Sociologia Política, Administradora , TEDex, Colunista e Personal Trainer

Na direção dos mesmos direitos

Publicado em 16/06/2022 às 13h44
Motorista, carro, dirigir

Pessoas com deficiência tem dificuldades na hora de comprar um carro. Crédito: Pixabay

Para algumas pessoas, a compra de um carro é quase sempre um evento importante. Entre a ansiedade e a alegria, se define o modelo ideal, a cor preferida, valor que cabe no bolso até chegar ao momento do tal test drive. Agora, imagina uma pessoa com deficiência que decide comprar um carro? Acrescente ao processo de aquisição do veículo uma grossa camada de burocracia, muito vai e vem, muita roda de cadeira para gastar. São tantas etapas a cumprir que a felicidade custa a aparecer.

E quando o assunto é o test drive? Aí a distância entre desejo e certeza fica muito inalcançável. Isso porque não existe no Espírito Santo, estado onde vivo, nenhuma concessionária com carro adaptado para a pessoa com deficiência fazer a voltinha dos sonhos com o modelo que deseja comprar. Acredita?

Test-drive ainda é sonho

Minha experiência se deu nesta semana, senti na pele o que é testar sem dirigir. E sempre foi assim. Nunca existiu um carro com adaptação nas lojas. Combinei com o vendedor que solícito trouxe o carro até minha casa para fazer o teste. Resolvi perguntar, mesmo sabendo a resposta: Está adaptado? Com cara de espanto e desolado, respondeu: Não.

Antes de entrar, olhei o porta-malas e constatei que não teria problemas quanto à minha cadeira de rodas. Me transferi imediatamente e com facilidade para o carona para apreciar o carro. Se para o cego, o bom seriam os olhos, para o cadeirante o bom seria caminhar, para os surdos, os ouvidos, no test drive o bom seria dirigir. Como tomar a melhor decisão se não consigo saber o desempenho do carro, como é a transferência da cadeira para o banco do motorista, e outras informações sobre o produto que quero comprar?

Promover a acessibilidade é simples

Se para as demais pessoas essa avaliação se dá na prática, para as pessoas com deficiência, no caso física, ficam apenas as hipóteses. Sem poder experimentar o carro, a desistência quase sempre é o caminho. Ou o risco é a opção. Quando falamos em inclusão de pessoas com deficiência, muitos ainda relacionam o assunto à pena, migalhas e caridade. Ah, já tem o desconto dos impostos, e isso basta, você deve estar pensando. Sobre esse tema, dos descontos, podemos falar também. Aliás, tem sido um imbróglio desde o ano passado.

Foram centenas de anos em que a pessoa com deficiência viveu em isolamento, exclusão e invisibilidade e não é fácil – ainda – mudar. E pensar que pessoas com deficiência têm o direito de fazer test-drive para avaliar sua compra, deve ser algo tão fora da gestão das concessionárias, quanto é para nós inadmissível tal conduta. E olha que é tão rápido resolver isso. Promover a acessibilidade é bem mais simples do que parece.

Alô, concessionárias

Listei alguns itens que se avalia quando se faz, na prática, um test-drive: direção, câmbios, motor, suspensão, freios, visibilidade, se a cadeira cabe no porta-malas, posição do motorista, ar-condicionado, inovação, respeito, equiparação de oportunidade, direitos, dignidade, acolhimento, autonomia e felicidade.

Tenho certeza que esses itens, caso estejam presentes no teste, ainda que necessitem de ajustes, permanecerão para sempre na agradável experiência da compra do carro novo e dos sonhos.

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Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de HZ.

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