• Mariana Reis

    Mariana Reis é mestranda em Sociologia Política, Administradora , TEDex, Colunista e Personal Trainer

Muito se fala, nada se faz

Publicado em 07/06/2022 às 20h33
ônibus com acessibilidade

ônibus com acessibilidade. Crédito: Shutterstock

Há duas semanas, escrevi neste espaço sobre a suspensão do serviço Porta a Porta. Agora, me dedico a mais um texto sobre a trágica condução das políticas de transportes para a pessoa com deficiência em nossa cidade. Recebi muitos e-mails e mensagens de quem diz acompanhar o caso e de como está a situação lá na Prefeitura, já que o programa Porta a Porta é municipal. Também é igualmente importante que saibam que existe uma diferença em acompanhar o processo e agir para que essa interrupção do serviço cesse. De todos que me procuraram, ninguém de fato relatou quais ações estão sendo tomadas. Acompanhar estamos todos nós daqui de fora, não acham? De vocês, autoridades, eu espero ação, a prestação efetiva do servir.

Direito não se negocia

Sem transporte público e táxis acessíveis, e tampouco o programa que funcionava há mais de vinte anos, lembrando que o serviço atravessou várias gestões, muitas famílias lutam para manter seus filhos nas atividades diárias. Outras se perdem ou desistem da rotina que tinham antes. Silenciados e entregues à própria sorte, o prejuízo com essa falta se torna cada vez mais desumano. Impedidos de ir à escola ou a outros compromissos, os mais de quatrocentos usuários são entregues ao poder que lhe exclui da liberdade.

Achar que esse é um problema que não diz respeito a você, ou que o sofrimento alheio não é seu, é de perder a aposta na vida compartilhada e nada caminha bem nesse percurso de luzes apagadas. Não existem justificativas para o serviço estar suspenso. Aliás, todas as respostas que vêm dali são para afirmar cada detalhe da incompetência da gestão. Transporte é direito, e direito não se negocia.

Espero pela palavra ação

Parece que estamos debatendo o Porta a Porta como se fosse um papo de botequim, é conversa misturada e cheia de gente a gritar. Ninguém se escuta e ninguém se entende. E claro, todos os argumentos são pautados nas experiências próprias, e isso não torna relevante para tratar de um serviço tão importante, previsto em lei. Parece bem difícil pensar na solução partindo do senso de coletividade. Sistemas sociais opressivos, como o que estamos vendo, nos leva, me incluo nessa, a experimentar a deficiência. São nessas gestões de pouca sensibilidade à diversidade da vida humana que sentimos a verdadeira experiência da desigualdade.

A fala de hoje não é sobre leis e do esforço, que sei, existem por parte de alguns grupos de mães, instituições e pessoas, no que tange a volta do serviço. Mas precisamos falar sobre as causas legítimas das pessoas com deficiência e o quanto certos sentimentos escondem e anulam nossas esperanças e capacidades de superar nossas deficiências. Essa barreira instransponível que encaramos todos os dias, chamada estigma, nos revela a verdadeira atitude humana expressa na hostilidade com que as autoridades atualmente tratam nossas pautas. Por quanto tempo mais ficaremos sem a garantia do direito de ir e vir? Por quanto tempo mais deixaremos no fundo do poço a política de transporte, que um dia lutamos e conquistamos? Será que podemos participar das decisões referentes a nós? Aguardo por essas respostas, caso me procurem.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de HZ.

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