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Publicado em 8 de maio de 2022 às 07:00
Matias é um menino de sorte. Prestes a nascer, ele terá o privilégio de ter duas mães. A cantora Thainá Lopez e a psicóloga Ana Paula Becker, que estão juntas há 10 anos, passaram por um processo de fertilização in vitro que deu positivo na primeira tentativa, após seis meses de tratamento. E, no Dia das Mães, assim como muitas outras mulheres grávidas, vivem a expectativa da chegada do primeiro filho e a esperança após dois anos intensos de pandemia. Irão descobrir as dores e delícias da maternidade. >
"Quando iniciamos o processo, já imaginávamos que, até o nascimento, a pandemia já estaria mais controlada, pois já tínhamos nos vacinado. A nova onda nos preocupou que talvez isso não acontecesse, mas felizmente estamos novamente em uma situação mais controlada, ainda seguindo os cuidados como o uso de máscara e álcool", conta a mamãe Ana. >
Quando souberam da gravidez, elas tiveram reações bem diferentes. Thainá se emocionou com a concretização da gravidez. Ana Paula precisou de algumas semanas (e exames) para a ficha realmente cair. "Por muitos anos, conversamos a respeito, mas não tínhamos o desejo de ter filhos. Com o passar do tempo, percebemos que havia chegado o momento. E foi numa conversa, enquanto lanchávamos em casa, que a decisão veio. Sentíamos que faltava alguém conosco e naquela conversa nos olhamos e falamos: 'vamos ter um bebê?'", lembra Thainá. Ali começava a jornada.>
Foi realizada a avaliação médica de ambas para compreenderem as possibilidades, e o casal optou por seguir com o método Ropa, que permite que as duas mulheres participem ativamente de todo o processo de gravidez, pois uma das mães passa pela estimulação ovariana e fornece os óvulos, e a outra mãe recebe o embrião e leva a gravidez adiante. Thainá foi quem recebeu as injeções hormonais para a fase de coleta de óvulos e Ana Paula é quem está gestando o bebê. "Nosso processo foi tão rápido que acredito que a ansiedade maior foi após a confirmação da gravidez, com tudo que precisamos estudar e preparar para a chegada de um filho. Ansiedade mesmo, bem forte, está batendo agora. Afinal, falta pouco para termos nosso menino nos braços e um novo mundo se abrirá para nós", diz Ana. >
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Esse novo mundo também será um presente para elas. Duas mães vivendo a dupla maternidade e ajudando milhares de outras famílias homoafetivas a se reconhecerem também. >
Inclusive, para as pessoas que insistem em perguntar como a configuração da família será explicada no futuro para o filho: "Matias vai crescer e conhecer o mundo a partir de uma família com duas mães, então acreditamos que será natural para ele. No contato com outras pessoas e famílias, irá conhecer outras realidades. Então, explicaremos que o que deve formar uma família é o amor e o respeito, e não o gênero", diz Thainá.>
As mamães também acreditam que a chegada do bebê vai trazer a esperança de contribuir para a construção de uma nova geração mais livre, mais respeitosa e empática às diferenças e liberdades individuais. E que a 'vida materna' vai servir para deixá-las ainda mais apaixonadas uma pela outra. É como já diz a música escrita pela mãe Thainá: “e quando mais um chegar, pra juntar com tanto amor, aí mesmo que não vai passar”. >
A médica Renata Bortolini está acostumada a lidar com a beleza de seus pacientes. Agora, ela vive algo inédito: a boniteza de estar grávida de Davi. Tudo começou a mudar depois de um jantar com amigos em Vitória. Na volta para casa, no carro, ela sentiu vertigem e náuseas como se estivesse em uma montanha-russa. "Nesse momento, tive certeza de que estava grávida. E, ao confirmar, foi uma surpresa boa que nós recebemos com muita alegria".>
Ela conta que, por ficar grávida durante a pandemia, escolheu ter cuidados especiais. "Quando eu faço uma escolha, tenho consciência que não é só para mim, que escolho para o Davi também e respeito muito isso. Como a Covid ainda é uma doença recente, fiquei mais reclusa, evitei locais com maior risco para o contágio e continuei mantendo as precauções no trabalho". Outras coisas também já mudaram, como o instinto materno que já faz ela sentir uma força que não conhecia. "Mas também me tornei mais emotiva e tranquila".>
Casada com o advogado Lucas Nascimento, ela sabe que a vida passará por novos desafios. "Mas eu sinto que estamos mais unidos e que além da paixão do namoro surgiu um amor diferente de antes, um tipo de carinho especial entre nós dois. Ele está se revelando um paizão desde o dia em que descobrimos a gravidez, faz questão de participar das consultas, dos exames e de todos os cuidados para a chegada do bebê". >
Com uma rotina corrida, já que além do consultório também é professora, ela conta que se organizou para participar do crescimento do filho de perto e retornar em poucos meses ao trabalho. "Ter uma boa rede de apoio será fundamental para voltar a lecionar aos alunos da pós-graduação em dermatologia e atender os meus pacientes no consultório". >
Renata conta que apesar de algumas inseguranças, culpas e julgamentos acontecerem, ela procura trocar essas palavras por conhecimento e organização, para poder oferecer o melhor ao filho. "Converso com ele desde que descobri a gestação, falo sobre o amor e o perdão, canto, rezamos juntos e conto sobre como estamos nos preparando para receber ele aqui fora", conta a médica que está no sétimo mês de gestação.>
Foram três testes de farmácia negativos até Vitória Oliveira se descobrir grávida. E a emoção foi grande quando recebeu a confirmação. No consultório médico, ao lado do marido, Eduardo, ouviu o som do coração do bebê. "Foi o melhor som que ouvi na minha vida, o meu mundo parou naquele momento. Ele também estava com os olhos cheios de água, foi o melhor dia de nossas vidas". >
A gravidez não planejada foi uma surpresa para os pais, mesmo sendo uma desejo futuro de ambos. "A ficha demorou a cair, porém aceitamos e acolhemos a maternidade e a paternidade desde o dia que descobrimos", diz ela, que já deu nome à criança: Cecília.>
Aos 8 meses de gestação, ela conta que sentiu muito medo durante a pandemia. "Testei positivo para o Covid com quatro meses de gestação. Agradeci por já estar vacinada e não ter tido nada muito grave, porém senti muito medo", lembra. >
O medo agora é passado. No momento, ela vive a ansiedade com a chegada da primeira filha. Durante todos esses meses, ela tem descoberto novos sentimentos e emoções. "Todos os dias é um sentimento novo e descubro algo que nem sabia que poderia sentir. É uma mistura de medo, gratidão, amor, insegurança e esperança", conta. >
O nascimento de uma Cecília traz esperança e bons desejos.>
Mãe de primeira viagem, assim como as outras personagens da matéria, o medo de Vitória é o parto. "Por mais que eu esteja me preparando muito para esse momento, dá um pouco de medo por se algo que nunca passei. Quando a bebê nascer, acho que terei medo de não conseguir ser tudo que ela precisa. São uns medos bobos. Mas, para quem é mãe de primeira viagem, são aterrorizantes. Apesar disso, será algo esperançoso, cuidadoso e muito desafiador". >
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