Publicado em 26 de agosto de 2023 às 08:00
Como parte de sua campanha mundial em prol do leite materno, a ONU (Organização das Nações Unidas) fez um apelo para que empresas públicas e privadas em todo mundo permitam que mulheres amamentem seus bebês em seus locais de trabalho. >
Segundo a ONU, os bebês que não são amamentados têm 14 vezes mais chances de morrer antes de completar um ano de vida do que que os bebês que recebem leite materno. >
A campanha da ONU quer que as mães tenham garantido o direito à licença maternidade, a intervalos regulares na jornada de trabalho para amamentarem seus filhos, além de contarem com uma sala exclusiva para amamentação no ambiente de trabalho.>
Alguns mitos envolvendo amamentação ainda persistem, desestimulando muitas mães a darem o peito para os filhos. A reportagem consultou dois especialistas para derrubar alguns desses mitos bem comuns.>
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Catriona Waitt é médica do departamento de Farmacologia Clínica e Saúde Global da Universidade de Liverpool e pesquisadora visitante da Faculdade de Ciência da Saúde Makerere, de Kampala, em Uganda.>
Alastair Sutcliffe é médica pediatra na University College London.>
Dra. Waitt: Esta é uma questão difícil de abordar pois é perfeitamente normal que inicialmente as mães fiquem com os bicos dos seios um pouco doloridos até se acostumarem. Entretanto, a amamentação não deve em si ser algo dolorido. Caso a dor persista pode ser sinal de que haja infecção no local ou de que o bebê não esteja acoplando a boca ao seio como deve.>
É normal que haja algum desconforto e pode ser que seja preciso fazer algum ajuste na posição de mãe e bebê, especialmente se for o primeiro filho ou a primeira experiência do tipo. Se a dor for grande e persistente o problema deve ser conversado com o médico pediatra, com a enfermeira ou a parteira que preste apoio. >
Dra. Sutcliffe: Qualquer coisa que estimule as mães a amamentar deve ser considerada boa para a saúde geral já que traz amplos benefícios. Qualquer restrição artificial imposta ao comportamento humano natural, como por exemplo impor um limite rígido de tempo, não tem base científica. >
Mas com certeza existem vários benefícios da mãe oferecer o peito ao bebê imediatamente. >
O maior de todos é obviamente o aspecto da nutrição. Amamentar também ajuda a iniciar o processo de contração do útero, que pode evitar ou pelo menos retardar, o sangramento do útero, comum no pós-parto. >
Nos primeiros dias após o parto, o corpo da mãe produz o colostro, uma substância rica em proteína. É essa importante substância que dá início ao período lácteo. >
Dra. Waitt: Esta é uma das primeiras perguntas feitas por mães no mundo todo. Os remédios que eu tomo afetam meu bebê? >
Na verdade, a quantidade de componentes químicos que chegam até o bebê é miníma. Caso um médico prescreva algum medicamento, você pode e deve questionar se aquilo terá algum impacto no seu bebê, mas muito provavelmente a resposta será que não causará nenhum dano ao seu filho ou filha. >
Na maioria dos casos o que um bebê precisa é de uma mãe saudável. Os medicamentos que normalmente são ministrados às mães contra infecções, contra dor e antidepressivos não causam nenhum mal ao bebê. >
Os remédios que não devem ser tomados durante a amamentação são bem poucos. Geralmente são associados a tratamentos específicos e mais sérios como por exemplo contra o câncer. >
Outros medicamentos, entretanto, devem ser tomados somente após criteriosa avaliação de riscos e benefícios. Qualquer mulher cujo médico lhe tenha prescrito algum medicamento deve poder pedir o esclarecimento que quiser.>
Os que requerem cuidados são alguns de venda livre, como remédios para resfriado e gripe que contêm descongestionantes — eles podem reduzir o suprimento de leite. >
E sempre tome cuidado com medicamentos fitoterápicos porque você nunca sabe exatamente o que contêm, e muitos deles não foram devidamente estudados.>
Dra. Waitt: Não há nada que não se deva comer durante a amamentação. No entanto, a composição exata do seu leite materno é influenciada pela sua dieta. >
Em alguns casos, uma mulher pode notar um padrão. Por exemplo, notei com um de meus filhos que, se eu bebesse um suco cítrico, como suco de laranja, o bebê ficava muito irritado.>
Às vezes, você pode perceber um padrão em que seu bebê reage a algo que pode ser influenciado por sua dieta. Mas não há nada que deva ser prejudicial ou medicamente incorreto e que precise ser evitado.>
Dra. Waitt: Isso ão é absoluto. No entanto, grande parte da produção de leite materno é basicamente regulada pela oferta e demanda. O corpo de uma mulher é incrivelmente feito para que produza leite suficiente para o bebê. >
Conforme o bebê suga o mamilo, ele aciona hormônios para produzir a quantidade certa de leite. Portanto, se você amamentar um bebê pequenino, um enorme ou mesmo gêmeos, seu corpo sempre produzirá leite suficiente.>
Se você começar a dar fórmula, esse ciclo de reciprocidade é interrompido. Seu corpo não está recebendo sinais suficientes de que o bebê precisa de mais. Se você está tendo dificuldades com a produção de leite e começa a introduzir a fórmula, isso pode lhe dar um alívio de curto prazo, mas pode começar a piorar o problema.>
Por outro lado, se você está tendo uma noite terrível, ou está doente e exausta e seu parceiro dá ao bebê alguma fórmula para você descansar em algumas ocasiões, isso não significa que você não possa amamentar. Então, basicamente, não é algo absoluto, mas pode ser inútil.>
Dra. Sutcliffe: Não, isso é um mito. As únicas circunstâncias em que alguém não amamentaria é se tivesse HIV ou hepatite. Esses vírus podem ser transmitidos através da lactação, o que enfrentamos tragicamente no passado.>
Na maioria dos casos, é seguro continuar amamentando quando as mães estão doentes, pois seus corpos produzem anticorpos que também protegem o recém-nascido. É extremamente raro ver uma doença em um bebê transmitida por uma mãe que amamenta.>
Dra. Waitt: A Organização Mundial da Saúde recomenda que você amamente exclusivamente por seis meses e depois introduza nutrição complementar, mas continue amamentando pelo tempo que desejar. Não há um tempo recomendado para parar.>
Em alguns países de alta renda, como o Reino Unido, a maioria dos bebês é totalmente desmamada entre um e dois anos. Enquanto em outros países de baixa renda, como Uganda, a amamentação continua até crianças de dois a três anos. Um problema global é que muitos países não têm licença maternidade suficiente para permitir que as mães amamentem exclusivamente de acordo com as recomendações da OMS.>
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