Publicado em 22 de março de 2023 às 10:23
Dois anos após o lançamento de Cidade Invisível, a segunda temporada da série de Carlos Saldanha estreia na Netflix nesta quarta-feira, 22. Os novos episódios se passam em Belém e, além de um elenco mais diverso, a narrativa traz a cosmologia indígena para o centro da trama.>
Na história, Eric, vivido por Marco Pigossi, surge em um santuário natural, protegido por indígenas e procurado por garimpeiros ilegais, no Pará. Ele descobre que Luna e Cuca, interpretadas por Manu Dieguez e Alessandra Negrini, estavam morando nas proximidades com o objetivo de trazê-lo de volta à vida.>
Luna desaparece depois de seu encontro com o pai. Desesperado para reencontrá-la, Eric descobre que pode retirar poderes das entidades e passa a usar isso para tentar proteger a filha, sequestrada por pessoas ligadas ao garimpo ilegal.>
A primeira temporada, que se passava no Rio de Janeiro, recebeu algumas críticas de ativistas indígenas que alegavam falta de representatividade no elenco e na história, que se propunha retratar o folclore brasileiro.>
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"Cidade Invisível vem justamente da ideia de contar essa história em várias cidades. Eu queria começar contando na Amazônia, mas não tive a oportunidade. Recebemos as críticas de coração aberto e essa inclusão é sempre positiva", explica Carlos Saldanha.>
A diretora Graciela Guarani também comenta que, diferentemente da primeira temporada, os novos episódios retratam "histórias vivas". "Temos histórias reais da cosmologia indígena, que diferem do folclore. A personagem da Mula Sem Cabeça é um folclore, de fato, mas há outros personagens que são inspirados em mais de 300 povos com mais de 200 línguas", disse.>
DESCONSTRUÇÃO>
Dentre as novas personagens, três principais entidades se destacam nessa trama: Maria Caninana, feita por Zahy Tentehar; Matinta Perera, interpretada por Letícia Spiller; e a Mula Sem Cabeça, que ganha vida através de Simone Spoladore.>
Letícia revela que, para a construção da bruxa que se transforma em pássaro, ela precisou desconstruir sua imagem: "Foi muito rico e emocionante poder trazer a energia da floresta e essa ancestralidade feminina". E continuou: "Prezo muito a investigação das minhas personagens. Então, foi muito bom poder desconstruir essa Letícia que o público está acostumado a ver nas novelas".>
Simone revela que também passou por um processo de desconstrução, porém foi em relação ao que se conhece da Mula Sem Cabeça. "Na lenda, ser a Mula é uma maldição e eu queria que minha personagem assumisse essa força da natureza e entendesse que ser uma entidade é uma bênção - porque, nessa temporada, as entidades são chamadas para salvar a floresta", explica. >
Já a personagem Maria Caninana, a mulher que se transforma em uma cobra grande, foi construída por Zahy de forma mais pessoal. "Eu estava com muita sede de fazer algo que fugisse do estereótipo do que é interpretar uma pessoa indígena. Isso me ajudou na desconstrução dessa cobra e eu acho que essa sede de vingança me ajudou bastante", afirma. "Meu desafio era não pensar no indígena sofrido, exterminado. A personagem me deu uma bagagem muito boa para eu me sentir muito poderosa, para eu usar como uma vingança no bom sentido", explica.>
Mesmo os personagens que se mantêm da primeira para a segunda temporada, Eric, Cuca e Luna, passaram por mudanças nesse período de dois anos que também é retratado na série.>
"O Eric volta completamente diferente. Como ele retorna antes da hora, isso traz muitas consequências para a narrativa, mas o fio condutor da história é o amor pela filha e isso se mantém", explica Marco Pigossi.>
Manu comenta que o fato de Luna passar esses dois anos sem o pai também faz com que sua personagem tenha uma nova perspectiva. "Ela quer encontrar o pai dela e, agora, não é que esteja mais rebelde, mas acho que ela está mais determinada", compara.>
Já a Cuca chega nos novos episódios de forma mais humanizada. "Ela volta contracenando muito com a Manu, então mostramos esse lado maternal mais aflorado", diz Alessandra Negrini, que também opina sobre a nova trama. "A série está muito mais profunda, tem mais presença da água e isso quer dizer emoção e profundidade. A gente tá mergulhando mais nas questões, tendo a floresta e a questão indígena como protagonistas", acrescenta a atriz.>
Ainda que essa profundidade das personagens e o protagonismo da floresta sejam novidades na história, Carlos Saldanha enfatiza que a relevância de sua obra continua a mesma: eternizar a cultura brasileira que, por muito tempo, só foi transmitida através da oralidade.>
"A ideia é fazer um resgate do que nós temos de importante e que estava perdido. As lendas do folclore são passadas de boca a boca. Se as pessoas não falarem mais, ninguém mais vai saber quem é o Curupira ou a Cuca. Nessa história, houve um resgate das raízes brasileiras, de uma forma moderna, para uma geração que não cresceu com isso.">
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