Publicado em 29 de julho de 2022 às 19:25
Nesta quinta-feira (28), a cantora Anitta anunciou por meio das suas redes sociais o lançamento de um perfume unissex para a região íntima. Batizado de Puzzy, o produto estará disponível em três fragrâncias e, de acordo com a cantora, tem como objetivo proporcionar bem-estar e qualidade de vida sexual. >
Especialistas ouvidos pela reportagem, porém, não recomendam o uso de desodorantes ou perfumes para genitálias. A ginecologista Amanda Lino, da clínica Neo Vita, em São Paulo, explica que há dois problemas ligados a cosméticos íntimos, sendo o primeiro relacionado à regulação da flora vaginal. Isso ocorre porque esse ambiente possui uma das principais formas de proteção contra infecções: o pH.>
"Ele [o pH] é ligeiramente ácido. E é exatamente essa acidez que protege e inibe a proliferação de bactérias. Quando usamos um cosmético nessa região, pode ocorrer um desbalanceamento da flora, que leva à perda desse mecanismo de proteção", alerta Amanda.>
Por meio da assessoria, a Cimed, farmacêutica responsável pelo desenvolvimento do Puzzy, informou que o perfume foi formulado com o pH equilibrado e compatível com a região íntima externa, de modo a não interferir nas condições do pH vaginal natural.>
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Segundo a empresa, foram realizados estudos que comprovaram que a flora vaginal não é alterada durante o uso do produto, além de ser ginecologicamente e dermatologicamente testado. A Cimed também afirma que o processo de desenvolvimento durou cerca de um ano, quando realizaram estudos clínicos que confirmaram a segurança de uso do produto. O Puzzy possui aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).>
De acordo com a ginecologista Amanda, o outro problema está ligado ao desejo de acobertar o odor natural da vagina. A profissional relata que essa é uma queixa que recebe com frequência nos atendimentos do dia a dia.>
"É uma questão que vem acompanhada de uma carga mais cultural porque, infelizmente, a sexualidade feminina ainda tem uma série de tabus. Para muitas mulheres, a vagina é um órgão sujo. Temos que lembrar às pacientes que esse órgão tem um odor característico e normal", diz. "Vagina tem cheiro de vagina, não de rosa".>
Mas se uma paciente desejar alterar esse cheiro, há algum outro risco para a saúde? Sim. O odor também é uma maneira de os médicos identificarem se há alguma infecção no local, já que doenças como candidíase e vaginose possuem um cheiro específico. Ao utilizar este produto o diagnóstico pode ser mais difícil.>
Apesar de perfumes íntimos ainda não serem populares no Brasil, os sabonetes íntimos são comuns. Especialistas alertam que eles também não são recomendados para a higiene vaginal devido ao risco de alteração do pH. "Além disso, a vagina tem um mecanismo de autorregulação e autolimpeza. O sabonete íntimo pode até ser utilizado na região da vulva, mas na vagina, que é a parte de dentro, não recomendamos passar nada". >
A ginecologista reforça que a vagina tem um odor natural, mas a alteração é um sinal de alerta para buscar ajuda profissional. A candidíase, por exemplo, é caracterizada por um odor parecido com o de água sanitária. Já a vaginose bacteriana, além da mudança no cheiro, vem acompanhada de um corrimento branco pastoso.>
"Secreções diferentes, sangramento depois da relação sexual, coceira, dor. Tudo isso, acompanhado do odor diferente, chama nossa atenção. Nesses casos, a paciente precisa procurar um médico", finaliza a profissional.>
Por ser unissex, Puzzy também pode ser utilizado pelo público masculino. Mas especialistas ficam com o pé atrás quanto ao uso desse tipo de produto por homens devido ao risco de reações alérgicas - tanto no usuário como no seu parceiro.>
De acordo com o urologista Leonardo Seligra Lopes, do departamento de Andrologia, Reprodução e Sexualidade daSociedade Brasileira de Urologia, a região genital masculina, tanto externa como interna, é sensível e suscetível a alterações no pH, que também protege contra infecções.>
"Faço um paralelo com outros itens usados na relação sexual, como gel íntimo e preservativos. Sempre recomendamos que sejam à base de água, com menor quantidade de perfume possível e pH neutro", afirma.>
Lopes diz que, assim como a genitália feminina, o pênis tem um odor característico e não é necessário mudar isso. "Sempre reforçamos que a higiene adequada com água e sabonete já é suficiente", conclui o urologista.>
Além da vagina e do pênis, o perfume também pode ser utilizado no ânus. Para o proctologista Fábio Guilherme Campos, membro titular da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, trata-se de uma novidade, já que até então não existia um cosmético no Brasil com esse objetivo.>
"Eu não sei a composição química dele, mas sempre há o risco de desencadear alergias no local. Na região anal existe uma mucosa que pode se irritar dependendo do produto", afirma Campos. O proctologista conta que não é comum recomendar produtos além de água e sabonete para alterar o cheiro dessa área, tanto em homens como mulheres.>
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