Publicado em 30 de junho de 2025 às 08:53
Um júri formado por oito homens e quatro mulheres começa a deliberar, nesta segunda-feira (30), em Nova York, sobre o destino do rapper e empresário Sean "Diddy" Combs. O produtor de sucessos do hip-hop, de 55 anos, é acusado de extorsão, tráfico sexual e de transportar pessoas para atos de prostituição, crimes que podem somar décadas de prisão.>
Mas, após sete semanas de depoimentos de 34 testemunhas, analistas jurídicos não consideram a condenação garantida. O crime mais fácil de provar seria o do transporte de garotos de programa para participar das orgias que Combs chamava de "freak-offs", já que há recibos de despesas como passagens aéreas. A condenação por tráfico sexual impõe uma pena mínima de dez anos.>
Já o crime de extorsão, que pode até resultar em prisão perpétua, oferece o maior desafio à promotoria por causa de uma lei americana aprovada nos anos 1970, conhecida pelo acrônimo RICO Racketeer Influenced and Corrupt Organizations Act, algo como lei de organizações corruptas e influenciadas por extorsionistas.>
"A lei foi redigida para combater a máfia americana e o crime organizado," afirma à reportagem o ex-promotor federal Mark Chutkow. "A Justiça não conseguia chegar aos chefões quando a polícia prendia criminosos que cumpriam suas ordens, em ações isoladas. O estatuto foi criado para 'costurar' a rede de atos criminosos sob a organização e chegar ao mandante.">
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Os promotores federais de Nova York acusam Combs de ter controlado uma organização criminosa por 20 anos. A aplicação da lei RICO foi testada em criminosos sexuais no julgamento do rapper R. Kelly, que cumpre 31 anos de prisão. A defesa de Kelly recorreu da sentença, alegando que as acusações eram um abuso da lei, perdeu e, na segunda-feira passada (23), a Suprema Corte dos Estados Unidos recusou examinar um apelo final.>
"Suspeito que o objetivo dos promotores era garantir a condenação por tráfico sexual", diz Chutkow, "e recorreram à RICO para que fossem admitidas no tribunal múltiplas provas de má conduta.">
O ex-promotor lembra que o comediante Bill Cosby e o produtor de cinema Harvey Weinstein, ambos condenados por múltiplos crimes sexuais, tiveram sucesso em seus recursos pela inclusão de várias vítimas num mesmo julgamento. O uso da ampla lei americana sobre extorsão seria uma forma de blindar um veredito de vitória da Justiça federal.>
Combs só pode ser condenado por unanimidade por cada acusação. Basta um jurado discordar e o caso resultaria em júri suspenso, com a grande probabilidade de ele ser acusado e julgado novamente.>
Os argumentos finais da acusação, na semana passada, duraram mais de cinco horas, o que analistas apontaram como um teste da capacidade de concentração do júri, imerso no caso por dois meses.>
Chutkow acha que os promotores foram articulados e lembra que o juiz admitiu quase todas as provas apresentadas como sinal da força do indiciamento inicial, em setembro passado, logo após a prisão do rapper.>
Mas o ex-promotor hesita em fazer prognósticos. Considerou fortes os argumentos finais de Marc Agnifilo, o experiente líder do time de defesa de Combs, que chegou a provocar risos entre os jurados, andando de um lado para o outro.>
Acha que foi importante, desde o começo, Agnifilo admitir que Combs cometeu violência doméstica um crime excluído de punição pela Justiça federal. O advogado ressaltou aos jurados que não era por este crime que seu cliente estava no banco dos réus.>
A questão de consentimento também paira sobre o julgamento desde o começo. Tanto a cantora Cassie Ventura, testemunha-chave que viveu com o rapper por mais de dez anos, quanto a testemunha que usou o pseudônimo de Jane a última namorada do músico antes da sua prisão não cortaram contato depois dos primeiros supostos incidentes de violência.>
Por isso, diz Chutkow, foi tão importante exibir várias vezes, até o final, o vídeo do espancamento de Ventura no corredor de um hotel. Um fator de incerteza nas previsões para o veredito é o peso dos vídeos dos "freak-offs" vetados à imprensa na opinião final dos jurados. No registro de 2016, que veio a público no ano passado, Diddy bate em Ventura no corredor de um hotel, no momento em que a cantora tentava fugir de uma dessas orgias.>
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