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Flávio Dino descarta censura prévia em shows de Roger Waters no Brasil

Cantor utilizou símbolos semelhantes à suástica em shows fora do país; ministro afirma que prisão pode ocorrer em caso de apologia do nazismo

Publicado em 10 de junho de 2023 às 14:43

 O ministro da Justiça e da Segurança Pública, Flávio Dino, se pronunciou neste sábado (10) sobre medidas a serem tomadas no caso de Roger Waters, 79, cofundador do Pink Floyd, utilizar símbolos nazistas em apresentações no Brasil. A turnê de despedida do cantor deve passar por Brasília, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte e São Paulo em outubro e novembro deste ano.

"É regra geral que autoridade administrativa não pode fazer censura prévia, sendo possível ao Poder Judiciário intervir em caso de ameaça de lesão a direitos de pessoas ou comunidades", disse Dino por meio de seu perfil no Twitter.

Ministro Flávio Dino descartou censura prévia em shows de Roger Waters no Brasil
Ministro Flávio Dino descartou censura prévia em shows de Roger Waters no Brasil Crédito: Gabriela Biló - 9.mai.23/Folhapress

O ministro destacou um trecho da lei 7.716, de 1999, que classifica "fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo" como crime sujeito à prisão em flagrante, com pena de dois a cinco anos e multa.

Dino ressaltou que a lei vale tanto para quem vive no país quanto para pessoas que o visitam, mas afirmou que a interpretação de um ato como sendo "para fins de divulgação do nazismo", o que seria passível de prisão, exige análise individual dos casos. O ministro também afirmou conhecer o cantor e sua obra "há algumas décadas", e disse ainda não ter recebido petição sobre apologia do nazismo em shows musicais.

"O momento político brasileiro exige ponderação, equilíbrio e capacidade de ouvir a todos. Sou ministro da Justiça do Brasil e não me cabe concordar ou discordar de pedidos sem sequer ler os argumentos dos interessados. Posturas 'canceladoras', supostamente 'radicais' e 'revolucionárias', no atual contexto, só servem para fortalecer a extrema-direita e propiciar o seu retorno ao poder."

Nesta sexta-feira (9), o advogado Ary Bergher, vice-presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), confirmou ao F5 que entrou com uma ação contra Waters para que ele seja impedido de entrar no país e realizar shows. O pedido também solicita que haja escolta policial em eventuais apresentações que o britânico faça no Brasil.

A ação foi motivada pelo cantor ter vestido um uniforme em estilo semelhante ao nazista em um show em Berlim, no dia 17 de maio, de cor preta e com braçadeiras vermelhas. Na quarta-feira (6), o Departamento de Estado dos Estados Unidos se manifestou sobre esta apresentação do cantor, considerando-a como "profundamente ofensiva ao povo judeu" e acusando o britânico de ter um histórico de uso de retóricas antissemitas.

Waters, por sua vez, disse que a apresentação durante a qual vestiu um sobretudo preto com um emblema semelhante à suástica foi uma declaração contra o fascismo, a injustiça e o fanatismo, e chamou as críticas de "dissimuladas e politicamente motivadas". Em seu Twitter, ele disse que a representação de "um demagogo fascista desequilibrado" tem sido uma característica de seus shows desde "The Wall".

Roger Waters na turnê 'Us + Them Tour', em Vancouver, em 2017
Shows Roger Waters no Brasil, no fim de 2023, estão causando polêmica Crédito: Shutterstock

A polícia de Berlim está investigando Waters por suspeita de "incitação ao ódio público". Deborah Lipstadt, enviada especial dos EUA para monitoramento e combate ao antissemitismo, chamou o show de "distorção do Holocausto" e republicou um tuíte do coordenador da Comissão Europeia para o combate ao antissemitismo em que ele denunciava o cantor.

Em nota, o Departamento de Estado reforçou o comentário de Lipstadt e disse que o show em Berlim "continha imagens profundamente ofensivas ao povo judeu e minimizava o Holocausto". "O artista em questão tem um longo histórico de uso de alegorias antissemitas" para difamar o povo judeu."

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