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Publicado em 14 de novembro de 2021 às 02:00
O cinema capixaba passa por uma ótima fase. A firmação se constata com o sucesso de longas como "Os Primeiros Soldados", de Rodrigo de Oliveira, exibido nos festivais de Mannheim-Heidelberg (Alemanha) e de Goa (India), um dos mais relevantes da Ásia, e "A Matéria Noturna", de Bernard Lessa, premiado como Melhor Filme na Mostra Futuro Brasil, voltado para projetos em finalização, do 52º Festival de Brasília, e vencedor da Menção Honrosa do recém-encerrado Olhar de Cinema, em Curitiba/PR. >
Segundo longa-metragem de Lessa, vindo logo após "A Mulher e O Rio" (2019), "A Matéria Noturna" conseguiu outro "feito" em suas conquistas recentes. Será exibido fora de competição na noite de abertura do Festival de Cinema de Vitória, que, pela segunda vez, acontece virtualmente, a partir de 23 de novembro.>
Em entrevista a "HZ", o realizador capixaba fala da oportunidade de abrir uma mostra que é tradicionalmente conhecida por apoiar produções independentes e que apostam em experimentações narrativas, como é o caso de "A Matéria...".>
"Tenho uma relação afetiva com o festival, um dos responsáveis por minha formação cinéfila. Há uns quatro anos, mais ou menos, a seleção de longas-metragens vem dando uma identidade mais experimental à mostra, o que é muito positivo", analisa o diretor, lamentando que, por conta da Covid-19, o FCV não possa acontecer em formato presencial.>
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"'A Matéria Noturna' é um filme sensorial, mas, ao mesmo tempo, dialoga com o 'físico'. É uma produção mais presencial que sensitiva. A projeção e exibição nos cinemas causaria um impacto muito grande à plateia. Mas acredito que ele também funciona com o virtual", explica. >
Em "A Matéria Noturna", Bernard Lessa compõe um drama existencialista, que apresenta uma paixão descontruída (ou seria em eterna construção?), sem fronteiras e em busca de territorialidade. >
Em pauta, a relação marcada pelo silêncio entre uma motorista de aplicativo de Vitória, Jaiane (Shirlene Paixão), e um homem que trabalha embarcado, o moçambicano Aissa, interpretado por Welket Bungué, repetindo a parceria com o diretor vista nos curta-metragens "Tejo Mar" (2013) e "Sopro, Uivo e Assobio" (2015). Nascido na Guiné Bissau, Bungué recentemente brilhou (e foi premiado) no drama alemão "Berlin Alexanderplatz" (2020) e está gravando o novo filme de David Cronenberg, "Crimes of the Future" (2022), que deve estrear no próximo Festival de Cannes.>
"Conheço Welket Bungué desde 2011, quando fiz um intercâmbio em Portugal. Anos mais tarde, ele veio ao Brasil, também fazendo um intercâmbio de atuação. O longa é a nossa terceira parceria. Minha relação com Shirlene Paixão também é de muita confiança, pois trabalhamos juntos em "Sopro, Uivo e Assobio". Gosto dessa cumplicidade, de escrever para atores". >
Há algo sedutor e intimista em "A Matéria Noturna", muito desse aspecto embalado pela (ótima) narrativa fragmentada e marcada por elipses. Há o contato com o lado espiritual de Jaiane, exemplificado em formato da força do vento e do mar, de sons inexplicados em batidas na porta e nos fracassos de suas relações familiares e afetivas. >
Aissa, por sua vez, é um homem em busca de pertencimento, vagando entre o espaço e o tempo, entre Moçambique e Brasil. A relação dos dois, de paixão e sofrimento, é vista como uma expiação, uma chance de recomeço para almas perdidas no silêncio.>
"A Matéria Noturna" funciona graças à direção sensível e atenta de Bernard Lessa. Seus demorados closes em primeiríssimo plano, sempre fixado no olhar dos personagens, dão um tom poético e maduro ao longa de um diretor ainda muito jovem.>
"Mostro dois personagens entrando em um processo de desencanto, onde a paixão reacende a força de viver de ambos", explica o realizador, dizendo que tem o cinema de Frank Capra ("O Homem Faz a Mulher") como uma de suas referências.>
"Gosto de filmar personagens sob o aspecto dos olhos e do olhar. Acredito que, às vezes, você consegue construir uma narrativa inteira apenas com uma sequência, baseado em um close", explica.>
Após a exibição no Festival de Vitória, "A Matéria Noturna" segue no circuito de festivais. Será exibido na mostra "Cinema Com Farinha", em uma praça pública na cidade Patos/PB, e no tradicional "Panorama de Cinema", em Salvador/BA. >
"Estamos preparando um lançamento comercial para o segundo semestre de 2022. Será pequeno, em poucas cidades, mas é importante que o filme chegue às salas de exibição. Depois, vemos a possibilidade de trabalhar com o streaming", revela Bernard Lessa, dando detalhes de seu novo longa-metragem, "O Deserto de Akin", que deve ser rodado em Nova Almeida (Serra), Aracruz e Vila Velha, entre junho e julho do próximo ano.>
"A história vai contar a vida de um médico cubano-angolano que trabalhava no Brasil quando o programa Mais Médicos foi extinto pelo Governo Federal, em 2018. Além disso, mostrará a relação do personagem com um cozinheiro português. Vou trabalhar novamente com o ator Welket Bungué e, desta vez, também com o português Miguel Nunes (ator da minissérie 'Glória', da Netflix)", complementa. >
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