Premiado, "A Matéria Noturna" abre o Festival de Cinema de Vitória

Evento começa no dia 23 de novembro com o longa-metragem dirigido por Bernard Lessa, que desvenda as complexidades de uma paixão sem fronteiras

Cena do filme

Cena do filme "A Matéria Noturna", segundo longa-metragem de Bernad Lessa. Crédito: Pique-Bandeira Filmes/Divulgação

O cinema capixaba passa por uma ótima fase. A firmação se constata com o sucesso de longas como "Os Primeiros Soldados", de Rodrigo de Oliveira, exibido nos festivais de Mannheim-Heidelberg (Alemanha) e de Goa (India), um dos mais relevantes da Ásia, e "A Matéria Noturna", de Bernard Lessa, premiado como Melhor Filme na Mostra Futuro Brasil, voltado para projetos em finalização, do 52º Festival de Brasília, e vencedor da Menção Honrosa do recém-encerrado Olhar de Cinema, em Curitiba/PR. 

Segundo longa-metragem de Lessa, vindo logo após "A Mulher e O Rio" (2019), "A Matéria Noturna" conseguiu outro "feito" em suas conquistas recentes. Será exibido fora de competição na noite de abertura do Festival de Cinema de Vitória, que, pela segunda vez, acontece virtualmente, a partir de 23 de novembro.

Em entrevista a "HZ", o realizador capixaba fala da oportunidade de abrir uma mostra que é tradicionalmente conhecida por apoiar produções independentes e que apostam em experimentações narrativas, como é o caso de "A Matéria...".

"Tenho uma relação afetiva com o festival, um dos responsáveis por minha formação cinéfila. Há uns quatro anos, mais ou menos, a seleção de longas-metragens vem dando uma identidade mais experimental à mostra, o que é muito positivo", analisa o diretor, lamentando que, por conta da Covid-19, o FCV não possa acontecer em formato presencial.

"'A Matéria Noturna' é um filme sensorial, mas, ao mesmo tempo, dialoga com o 'físico'. É uma produção mais presencial que sensitiva. A projeção e exibição nos cinemas causaria um impacto muito grande à plateia. Mas acredito que ele também funciona com o virtual", explica. 

Em "A Matéria Noturna", Bernard Lessa compõe um drama existencialista, que apresenta uma paixão descontruída (ou seria em eterna construção?), sem fronteiras e em busca de territorialidade.

Em pauta, a relação marcada pelo silêncio entre uma motorista de aplicativo de Vitória, Jaiane (Shirlene Paixão), e um homem que trabalha embarcado, o moçambicano Aissa, interpretado por Welket Bungué, repetindo a parceria com o diretor vista nos curta-metragens "Tejo Mar" (2013) e "Sopro, Uivo e Assobio" (2015). Nascido na Guiné Bissau, Bungué recentemente brilhou (e foi premiado) no drama alemão "Berlin Alexanderplatz" (2020) e está gravando o novo filme de David Cronenberg, "Crimes of the Future" (2022), que deve estrear no próximo Festival de Cannes.

"Conheço Welket Bungué desde 2011, quando fiz um intercâmbio em Portugal. Anos mais tarde, ele veio ao Brasil, também fazendo um intercâmbio de atuação. O longa é a nossa terceira parceria. Minha relação com Shirlene Paixão também é de muita confiança, pois trabalhamos juntos em "Sopro, Uivo e Assobio". Gosto dessa cumplicidade, de escrever para atores". 

INTIMISMO

Há algo sedutor e intimista em "A Matéria Noturna", muito desse aspecto embalado pela (ótima) narrativa fragmentada e marcada por elipses. Há o contato com o lado espiritual de Jaiane, exemplificado em formato da força do vento e do mar, de sons inexplicados em batidas na porta e nos fracassos de suas relações familiares e afetivas. 

Aissa, por sua vez, é um homem em busca de pertencimento, vagando entre o espaço e o tempo, entre Moçambique e Brasil. A relação dos dois, de paixão e sofrimento, é vista como uma expiação, uma chance de recomeço para almas perdidas no silêncio.

"A Matéria Noturna" foi rodado em Vitória. Crédito: Pique-Bandeira Filmes/Divulgação

"A Matéria Noturna" foi rodado em Vitória. Crédito: Pique-Bandeira Filmes/Divulgação

"A Matéria Noturna" funciona graças à direção sensível e atenta de Bernard Lessa. Seus demorados closes em primeiríssimo plano, sempre fixado no olhar dos personagens, dão um tom poético e maduro ao longa de um diretor ainda muito jovem.

"Mostro dois personagens entrando em um processo de desencanto, onde a paixão reacende a força de viver de ambos", explica o realizador, dizendo que tem o cinema de Frank Capra ("O Homem Faz a Mulher") como uma de suas referências.

"Gosto de filmar personagens sob o aspecto dos olhos e do olhar. Acredito que, às vezes, você consegue construir uma narrativa inteira apenas com uma sequência, baseado em um close", explica.

TRAJETÓRIA

Após a exibição no Festival de Vitória, "A Matéria Noturna" segue no circuito de festivais. Será exibido na mostra "Cinema Com Farinha", em uma praça pública na cidade Patos/PB, e no tradicional "Panorama de Cinema", em Salvador/BA. 

"Estamos preparando um lançamento comercial para o segundo semestre de 2022. Será pequeno, em poucas cidades, mas é importante que o filme chegue às salas de exibição. Depois, vemos a possibilidade de trabalhar com o streaming", revela Bernard Lessa, dando detalhes de seu novo longa-metragem, "O Deserto de Akin", que deve ser rodado em Nova Almeida (Serra), Aracruz e Vila Velha, entre junho e julho do próximo ano.

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"A história vai contar a vida de um médico cubano-angolano que trabalhava no Brasil quando o programa Mais Médicos foi extinto pelo Governo Federal, em 2018. Além disso, mostrará a relação do personagem com um cozinheiro português. Vou trabalhar novamente com o ator Welket Bungué e, desta vez, também com o português Miguel Nunes (ator da minissérie 'Glória', da Netflix)", complementa. 

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