Publicado em 10 de abril de 2023 às 09:00
Uma foto, um nome e memórias difusas da infância. Este é o gatilho emocional do documentário "Minha Bê", que terá pré-estreia nesta terça (11), às 9h, no Cine Metrópolis (Ufes), dentro da Semana Calórica de Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo, com entrada franca.>
A trama do curta-metragem, produzido pelo Instituto Marlin Azul, se mistura com a história da própria diretora, a talentosa Adriana Jacobsen ("O Outro Sertão"), e sua busca por Beatriz, que trabalhou na casa de sua família como babá nos anos 1960. Após um surto, a profissional foi internada no extinto Hospital Psiquiátrico Adauto Botelho, em Cariacica. >
No filme, em tons intimistas, Adriana reencontra a única foto que tem de sua babá e não a reconhece. O documentário, então, investiga a história de Beatriz e o processo de desaparecimento de alguém da memória pessoal e coletiva. Desse momento em diante, o filme parte em busca de pessoas que poderiam ter convivido com Beatriz e chega à Roda D’Água, zona rural de Cariacica, local onde a diretora sabia que a babá possuía familiares.>
Na investigação, o espectador é levado pela narração da própria diretora e imagens de arquivo das décadas de 1960, 1970 e 1980 que se mesclam com depoimentos atuais. O ponto de partida é a entrevista com o médico psiquiatra, psicanalista e escritor Ruy Perini. Ele trabalhou no hospital em que Beatriz foi internada e ambienta cenários possíveis para o transtorno vivido por ela. A conversa é fundamental para que Adriana possa percorrer os rastros deixados pela própria memória.>
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“Minha Bê” contou com imagens de acervos familiares, da Cinemateca Brasileira e da TVE Espírito Santo. "Há muito queria relembrar a história dessa mulher que fez parte da minha infância e que, de repente, sumiu da minha vida, mas que ficou na minha memória. Era uma ausência sempre presente", expõe a realizadora. >
"Nunca deixei de pensar em Beatriz. Percebi que aquela era minha história, mas que também era uma história sobre as relações de poder da sociedade brasileira. Queria deixar isso registrado e reencontrei o Lucas Bonini, com quem já tinha trabalhado antes. Ele é um entusiasta do arquivo e buscamos criar no filme uma espécie de atmosfera que de alguma forma remetesse à minha memória das décadas em que a história se passa", explica Adriana, fazendo menção ao seu parceiro de projeto, com quem assina em conjunto a produção e a montagem do curta-metragem.>
Além da premissa do documentário, "Minha Bê" expõe os resquícios escravocratas por trás da contratação de empregadas domésticas que se viam obrigadas a renunciar à própria vida para se dedicar a dos patrões.>
"A história se passa em uma época onde as mulheres que trabalhavam como empregadas domésticas tinham quase nenhum direito e, muitas vezes, moravam na casa dos empregadores. Imagine as consequências disso para a psique de uma pessoa, obrigada pelas circunstâncias a renunciar a seus próprios desejos em prol de uma família que não é a sua. Creio que meu testemunho é importante porque vivi isso na infância, com pouco filtro, com o olhar curioso e de espanto de uma criança", pontua Adriana.>
O filme também revela uma nítida mudança no trato das doenças mentais ao longo dos anos. Esses temas serão discutidos na sessão de pré-estreia da obra, na Semana Calórica de Psicologia da (Ufes). >
"O documentário dá voz a um médico e uma enfermeira que trabalharam muitos anos no sistema de saúde mental do Estado. Eles contextualizam bem o tratamento de doentes mentais no fim do século passado. A exibição será seguida de um debate e creio que a sessão pode levantar questões relevantes para os alunos de Psicologia. Vai ser um primeiro teste de reação ao filme em uma sala de cinema, estou muito curiosa", ressalta a documentarista.>
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