Publicado em 8 de dezembro de 2022 às 08:37
Leitora voraz de Clarice Lispector - Água Viva foi o primeiro impacto, a riqueza da escrita deixou-a siderada -, a pernambucana Taciana Oliveira teve pela primeira vez a ideia de fazer um filme sobre ela em 2005. Dez anos depois, o projeto ainda dependia do aporte de recursos. Durante boa parte desse tempo, Taciana conseguiu filmar, realizando entrevistas que considerava importantes, usando recursos próprios. >
Em 2015, já tinha um primeiro corte, que pretendia usar como justificativa num edital do Governo de Pernambuco. Carlos Henrique veio em seu auxílio para fazer a correção de cor. Deu ideias preciosas que levaram Taciana a mudar muita coisa em sua montagem.>
Essa mudança de rumo já havia ocorrido quando sua corroteirista, Teresa Montero - biógrafa da escritora -, descobriu a entrevista que Clarice havia dada ao programa Os Mágicos, da TV Educativa, em 1976. O material foi escaneado e incorporado, como já havia sido antes o depoimento de Clarice ao MIS-Rio.>
Clarice! Há um culto à escritora que nasceu na Ucrânia, desembarcou criança no Brasil, em Maceió. Com a família, fixou-se primeiro no Recife, antes de migrar para o Rio. >
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"Foi muito importante para mim ressignificar essa passagem de Clarice pelo Recife." De certa forma, a própria Taciana, por meio de Clarice, teve de encarar sua luta por afirmação num mundo comandado por homens. Clarice Lispector - A Descoberta do Mundo, 17 anos depois, finalmente estreia nos cinemas, nesta quinta, 8. Enfrenta a concorrência de filmes maiores - nos recursos -, mas valerá a pena embarcar nessa viagem para descobrir mais um pouco do que pode definir como 'mistério Clarice'.>
A autora de livros viscerais - Perto do Coração Selvagem, A Hora da Estrela, A Paixão Segundo G.H. - era uma mulher belíssima. A amiga Maria Bonomi fala da sua beleza ‘misteriosa’. Na própria obra, Clarice refletia sobre isso. À amiga Lygia Fagundes Telles, outra mulher deslumbrante, disse que deviam sorrir menos nas fotos, sob pena de não serem levadas a sério. Ela despertava paixões, mas também viveu uma, intensa e irrealizada, pelo também escritor Lúcio Cardoso.>
Reunidas no volume que dá título ao filme - A Descoberta do Mundo -, as crônicas de Clarice publicadas no Jornal do Brasil, de 1967 a 73, ajudam a entender não só os meandros da escrita, mas também a figura da autora. No início, Taciana chegou a pensar numa atriz para fazer Clarice no filme. >
Terminou optando pela leitura de trechos de suas obras, não apenas por atores e atrizes conhecidos, como Cristina Pereira, Eucir Souza e Elias Andreato, mas também por leitores da escritora. Muito se tem escrito sobre ela, mas a própria Clarice advertia - "Sou um mistério para mim mesma." O doc de Taciana é um bom aquecimento para a ficção de Luiz Fernando Carvalho, A Paixão Segundo G.H., prometida para o ano que vem, com Maria Fernanda Cândido.>
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