"Guia anônima" da linguista, tradutora e professora Junia Zaidan. Crédito: Acervo pessoal
O que requer coragem? Pular de paraquedas, andar de montanha-russa, mudar de carreira são algumas opções, mas... e escrever um livro? Para Junia Zaidan, colocar no papel as experiências que permeiam a vida da maioria das mulheres foi seu maior ato de bravura.
Aos 50 anos, a PhD em Linguística e professora do Departamento de Línguas e Letras da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) publicou sua primeira obra: "Guia Anônima". Um livro de 17 contos que apresenta personagens anônimas — e, em sua maioria, mulheres — em suas vivências que envolvem questões sociais, psicológicas, materiais e políticas.
O emblema de toda essa coragem chega em forma de reconhecimento: a cachoereinse é finalista do maior e mais tradicional prêmio literário do país, o Prêmio Jabuti. Na noite desta terça (5), Junia Zaidan concorre ao troféu de melhor Conto da 65ª edição da premiação. O resultado será anunciado em cerimônia no Theatro Municipal de São Paulo, às 20h.
"[O livro] tem um significado imenso para mim. É como se fosse o jorro de uma expressão de criação literária que eu tive coragem de apresentar em um momento muito especial da minha vida. Era um momento completamente adverso. É um emblema da minha coragem que até agora eu não acredito que tive que inventar", compartilha à equipe de HZ.
DE CACHOEIRO AO JABUTI
Nascida em Cachoeiro de Itapemirim, na região Sul do Estado, Junia compartilha que teve como inspiração para a escrita o relacionamento que construiu com a leitura. Entre concursos de declamação de poesia e escritas de ensaios, encontrou na atividade um lugar de abrigo. "Sempre me vi na leitura desde muito novinha. Sempre estive junto ao texto literário", disse.
Do carinho pelos livros à atividade profissional, acabou se encaminhando para a área de Letras e se distanciando da vida literária. Aos 50 anos, entre pandemia e responsabilidades do Sindicato, teve um impulso de escrever tudo aquilo que já vivenciou e viu outras mulheres vivenciando.
"São contos que tratam dessas mulheres anônimas que nomeiam o livro. Mulheres da dor, da coragem, da falta de condições, da violência. Mulheres que também violentam, que matam, que são mortas. Mulheres que encaram o desejo sem culpa", explica.
O nome, em si, só é compreendido conforme a leitura do texto, mas Junia já adianta a referência às guias anônimas das abas online. "Queremos navegar sem deixar rastros, queremos viver em maior liberdade para não sermos encontrados", disse.
"Guia anônima" da linguista, tradutora e professora Junia Zaidan. Crédito: Divulgação
Como o jorro de coragem, a PhD em Linguística viu os caminhos de "Guia Anônima" fluírem até esbarrarem no Prêmio Jabuti. Com produção editorial da FiNA, em parceria com a editora capixaba Cousa, a publicação foi contemplada no edital de obras literárias da Secretaria Estadual de Cultura do ES, em 2020.
A premiação já era uma referência mas não chegava nem a ser um sonho palpável. Bastou outro ato de coragem para vê-lo conquistar voos mais altos, o de seu editor Saulo Ribeiro para inscrevê-lo no Prêmio. Da inscrição deferida à divulgação dos semifinalistas, Junia passou a ser a única capixaba finalista do 65º Prêmio Jabuti. E o melhor: com seu primeiro livro.
Nesta reta final, a torcida vai para o primeiro livro mas Junia reconhece a grandeza de seus competidores. Ao lado de João Gilberto Noll (in memoriam) e Marilene Felinto, dois nomes que já acumulam troféus, a autora compartilha se sentir realizada de ter chegado até onde chegou. "Ser indicada já é um prêmio", finaliza.
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