Publicado em 21 de novembro de 2022 às 17:39
Figuras fundamentais na carreira dos cantores, os produtores musicais, ao longo da história, inevitavelmente, ganharam também os holofotes. Aqui no Brasil, para a bossa nova, Aloysio Oliveira foi nome de destaque. No fim dos anos 1960, Manoel Barenbein convenceu o tímido Chico Buarque a gravar um disco e se tornou figura chave do Tropicalismo. Roberto Menescal esteve à frente de discos de Elis Regina, Nara Leão e Maria Bethânia. >
Essa lista é longa. Marco Mazzola assinou produções de Raul Seixas, Ney Matogrosso, Belchior e Simone. Nos anos 1980, Lincoln Olivetti deu o acento pop à música popular brasileira. Isso só para citar alguns. Todos somaram milhões de cópias vendidas e festejadas com os lendários discos de ouro, de platina e de diamante.>
Na era das plataformas digitais, a medida são os players que cada música pode obter, a capacidade de viabilizar feats (parcerias e participações em uma gravação) - e quanto um produtor pode engajar o público nas redes sociais, além da qualidade do trabalho. E um dos que brilham nessa nem tão nova ordem musical é o carioca Tiago Alves, de 36 anos, que atende pela alcunha de Papatinho, ou simplesmente Papato. Foi ele que formatou, por exemplo, a carreira do rapper L7nnon (fala-se Lennon), um dos nomes que disputam os primeiros lugares nas listas de artistas mais ouvidos na atualidade.>
PAPASESSIONS>
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Papato também é responsável pela faixa França, que junta L7nnon, Xamã, Juliette e Welisson, recém-lançada dentro do projeto Papasessions. A gravação já soma 2,5 milhões de visualizações no YouTube.>
No passado, ele reuniu Anitta, Snoop Dogg e Ludmilla para a gravação da música Onda Diferente. Descobriu Orochi em uma batalha de rimas na rua. Neste ano, produziu o pedreiro paulista Aleck Johnson, que viralizou com um vídeo no qual fazia rap em meio a uma obra.>
Papatinho, que recentemente recebeu o Prêmio Multishow de Produtor do Ano, começou no rap. Depois, abriu espaço para o trap, um subgênero do rap, no Brasil. Faz questão sempre de olhar para novas tecnologias a fim de criar suas músicas.>
"Não quero ficar datado a um momento, a um gênero", afirma. Já foi procurado por Matheus Fernandes e botou bateria de trap no piseiro do cantor cearense. Fez o remix da música É o Amor, de Zezé di Camargo, no qual tocou sua MPC, equipamento eletrônico para criar as batidas.>
Na enciclopédia (digital) da música brasileira, Papatinho sabe bem qual deve ser seu verbete. "Sou produtor de música urbana. Dentro disso, tem rap, trap, drill, pop, funk, R&B...", diz ele, ao Estadão.>
"Faço sempre do meu jeito, com a minha assinatura. Consegui conquistar a minha identidade, assim como o Pharrell Williams e Dr. Dre (produtores americanos). Mesmo com minha transição do rap para o pop, consegui manter a originalidade", argumenta.>
Em seu perfil no Instagram, ele avisa que suas produções já somam mais de 3 bilhões de streamings. E segue contando. Reconhece que os números têm importância. Entretanto, com a sinceridade que permeou o papo de cerca de uma hora com a reportagem, diz que os indicadores não são o que o move.>
"Sempre fiz música porque eu gosto. Atualmente, estou no estúdio com um moleque (Dx) que se aproximou de mim em um hotel e foi demitido pela gerência. Vamos fazer uma música juntos. Amanhã, posso estar com a Anitta. Serei sempre o Papatinho", diz. Prova disso é seu mais recente single, Progresso Pros Nossos. Nele, juntou Cidinho & Doca, pioneiros do funk carioca, MC Hariel, da nova cena do funk de São Paulo, e o pupilo L7nnon. Juntou o funk com o drill, a batida londrina do momento. O clipe foi gravado na Cidade de Deus, no Rio. Uma realização pessoal, segundo ele.>
CARREIRA>
Papatinho já soma 16 anos de carreira. Começou menino, cortando e juntando intuitivamente pedaços de músicas em MP3. Desfazia e montava de outra maneira. Virou um beatmaker, aquele que constrói as batidas. Totalmente autodidata.>
O primeiro trabalho profissional foi com o grupo de rap ConeCrewDiretoria. As letras "proibidonas" não eram muito sua cara, confessa. Preferiu as batidas. "Sou bem careta", diz ele. O apelido Papatinho vem de "só no sapatinho" e tem a ver com seu jeito leve de ser.>
O dinheiro que começou a ganhar, a partir de 2010, e, depois, com os primeiros hits, investiu na construção de seu estúdio, onde funciona a gravadora Papatunes. Atualmente mora em frente à praia, mas não demora muito no surf: seu prazer é fazer música - e se apresenta também como DJ.>
No exterior, onde é chamado de Papatino, o comportamento é o mesmo. Se viaja, é para produzir demos, beats e parcerias. Já produziu para Will.i.am, do grupo Black Eyed Peas, e Jason Derulo. "O gringo quer ouvir a mistura. Quer nossa percussão brasileira, mas também não pode ser nada muito sujo", explica.>
Em tempos de corrida pelo topo das paradas, Papatinho enxerga longe e afirma que a produção atual será vista no futuro como uma criação original brasileira, assim como o samba e a bossa nova. "Essa música da periferia, a batida funk, só tem aqui no Brasil. A Anitta leva muito disso, mesmo nas produções lá fora", diz.>
Papatinho já tem novas cartas na manga. Prepara um novo álbum com L7nnon para 2023. Além do garoto Dx, tem dois ou três artistas no radar. Só aguarda o momento certo. Para quem o procura em busca de uma fórmula mágica, avisa: nada é fácil. "Não adianta vir com uma música. Faça 10, 20. O L7nnon dormiu dois meses aqui no sofá do estúdio.">
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