• Aquiles Reis

    Aquiles Reis é músico e vocalista do MPB4. Nascido em Niterói, em 1948, viu a música correr em suas veias em 1965, quando o grupo se profissionalizou. Há quinze anos Aquiles passou a escrever sobre música em jornais. Neste mesmo período, lançou o livro "O Gogó de Aquiles" (Editora A Girafa)

Ná canta as músicas de Zécarlos Ribeiro em EP cheio de ritmos

Publicado em 28/03/2023 às 13h51
Zécarlos Ribeiro e Ná Ozzetti no estúdio na gravação de EP

Zécarlos Ribeiro e Ná Ozzetti no estúdio na gravação de EP. Crédito: Divulgação

  • De: Aquiles
  • Para: Ná Ozzetti


Oi, Ná, ainda que à distância, que prazer estar contigo! Mas graças a esta cartinha, da qual me valho para saber como você está, trocarei um dedo de prosa com você. Topas?

Como vai a sua música? E o trabalho? Tá difícil viver de cantar? Os shows estão rareando, né? Graças ao Sesc é que volta e meia se abre um breve oásis, mas a música pede passagem e não há como lhe negar a voz... Afinal, ela comanda a vida nossa de cada dia.

E a sua voz... Me amarro no seu timbre e na sua concepção rítmica, sempre prontos para surpreender, sabia? (Ora, claro que não sabia, eu nunca lhe disse, ué!) Ó, você pode não acreditar, mas acompanho sua trajetória há tempos. Desde a vanguarda paulistana, encarnada pelo Grupo Rumo, busco ouvi-la. E assim é porque assim eu preciso que seja.

Mas olha só: tenho aqui comigo o EP Ná canta Zécarlos Ribeiro. Você e ele começaram a carreira juntos no Rumo e agora se reúnem neste primeiro projeto solo dele, né? Feliz ideia!

São cinco faixas de total encantamento. E você, Ná, foi fundo, cantando melhor do que nunca e tendo o suporte que pediu a Deus nos arranjos do Danilo Penteado (ele que também produziu e dirigiu musicalmente o álbum)! Suas interpretações para as duas composições só do Zécarlos, mais duas parcerias dele com Geraldo Leite e uma com o próprio Danilo Penteado, são arrebatadoras. A destacar como autênticos diamantes, também, além da sua voz, a gravação, mixagem e masterização do Jonas Tatit, que lapidaram os arranjos.

“Sonho” (Zécarlos e Danilo Penteado) é um pop rock incendiado pelos saxofones quentes de Marcelo Pereira, pela batera do Pedro Ito e pela guitarra do Danilo Penteado. Sua voz, Ná, por vezes com reverber, é firme nos agudos e nas divisões da melodia. O suingue é total. Bom início.

Aí vem “Laura” (Zécarlos). Arritmo, você canta delicadamente, Ná. Logo o tamborim do Ito e o violão do Danilo trazem o samba. O som grave do clarone da Maria Beraldo vibra, para logo o clarinete chegar junto – que som! –, enquanto você faz vocalizes abertos em terças. Supimpa!

“Vamos Desembarcar” (Zécarlos) vem a seguir. Você canta com gosto e agudos perfeitos a bela melodia tocada com batida pop pela batera e pelo djembe do Ito. Danilo improvisa no teclado. Bom gosto é isso, né, Ná?

Em “Uma Receita de Amar” (Zécarlos e Geraldo Leite), você canta “falando”, tudo a ver com os tempos do Rumo. Bom à beça! Mais uma vez sua voz vem dobrada em terças. Enquanto isso, batera e guitarra sapecam no rock n' roll.

Fechando: “Roupas no Varal”, também do Zécarlos com Geraldo Leite. Outro pop suingado, de novo apoiado pela batera, pela guitarra e pelo baixo do Danilo Penteado. O intermezzo instrumental, com sua voz novamente vibrando em terças, antecede o final.

Por fim, prezada Ná Ozzetti, por favor, transmita ao Zécarlos os meus efusivos parabéns por suas músicas. E abrace o Danilo e diga que seu ofício engrandeceu o Ná canta Zécarlos Ribeiro.

E a você, peço-lhe que aceite o carinho deste admirador que agora se despede.

Aquiles

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Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de HZ.

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