• Aquiles Reis

    Aquiles Reis é músico e vocalista do MPB4. Nascido em Niterói, em 1948, viu a música correr em suas veias em 1965, quando o grupo se profissionalizou. Há quinze anos Aquiles passou a escrever sobre música em jornais. Neste mesmo período, lançou o livro "O Gogó de Aquiles" (Editora A Girafa)

Zé Paulo Becker presenteia amantes da música instrumental com 'Outro Mundo'

Publicado em 21/03/2023 às 16h22
O violonista Zé Paulo Becker

O violonista Zé Paulo Becker. Crédito: Divulgação

  • De: Aquiles
  • Para: Amantes da música instrumental


Sei que vocês existem, e em grande número, por isso hoje eu me dirijo a vocês. E assim, parabenizando-os pelo bom gosto, trago-lhes um álbum que não podem deixar de ouvir: o independente Outro Mundo (16º trabalho, com oito temas autorais de Zé Paulo Becker, 10º de sua carreira solo e mais cinco com o Trio Madeira).

A tampa abre com “Outro Mundo” (que titula o CD), e vocês ouvirão fino toque do Zé no violão, cuja precisão no dedilhar define o virtuosismo do instrumentista. O som do baixo do Guto Virtti soa bonito. A batera do Rafael Barata se faz presente e, assim como a percussão do Mingo Araújo e o teclado do Thiago Almeida, acrescenta suingue ao tema. Logo Alfredo Del Penho vem com vocalises, agora levados pela guitarra do Zé. E o álbum vem em grande estilo: assim é Zé Paulo Becker.

Com o mesmo time da faixa de abertura, vem “A Viagem de Volta”, que se inicia com um clima de consciente maturação. O violão sola. O piano se ajunta a ele. Batera, baixo e percussão, sempre eles, encorpam o arranjo. O improviso do violão, ladeado pelo som do teclado, traz mais energia à música, que só faz crescer. A guitarra se aproxima, vixe, que improviso! E vem o piano, quente que só. A batera vai nos pratos. O violão retoma a melodia e desenha ritmicamente. A percussão é precisa. Violão, em novo duo com os vocalises do Del Penho, segue em frente e conduz ao final...

Com o violão, a melodia de “Beth My Love” soa bela, romântica mesmo. A batera “varre” a caixa. O perfeito dedilhar das cordas do Zé volta a preponderar, até que Humberto Araújo chega com o sax tenor (o sopro desse cara é f..a, perdão, é “fera”), quando em duo com o violão ouve-se um timbre qualificado – e seguem juntos.

“Mistral” é outro belo tema. O violão se encarrega de trazê-lo à cena. O piano vem e se ajunta a ele. Zé improvisa ao violão. Batera, baixo e percussão dão apoio total. Piano e guitarra, em duo, brilham. E o suingue pontua. Eis que Zé Renato vem em vocalises – grande Zé Renato! Arritmo, o violão volta pra encerrar, e o faz bonito... Mentira! O improviso voltou alucinadamente (me pegou, hein, Sr. Thaumaturgo Becker!), e, inclusive, o piano também voltou detonando. Voz e guitarra retomam o duo... agora vai... Foi!

“Calmaria” tem apenas violão e piano; bom demais, assim. O bordão do violão soa “gordo”, discreto, em acordes cheios. O tema pediu, Zé entregou de bandeja.

O coro volta a comer em “Alujazz”. Zé Renato faz vocalises. Piano e batera improvisam como se não houvesse amanhã. Logo quem improvisa é o baixo, e isso a poucos compassos de a tampa se fechar.

E “Villalobiano” fecha o álbum com a mesma dignidade com que abriu: os instrumentistas regozijando-se pelo “serviço”. Violão e “cozinha” brilhantes, sax arrasador, todos engrandecidos por percussões e vocalises – Outro Mundo é um álbum instrumental criativo e fascinante. Busquem ouvi-lo, cês vão se amarrar!

Agora me despeço e mais uma vez os cumprimento por amarem a música instrumental.

Abraços.

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Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de HZ.

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