Publicado em 2 de maio de 2023 às 09:10
Lulu Santos não era o último romântico quando afirmou isso em 1983 - uau, 40 anos -, mas talvez seja ele o caso único de um romântico pop posicionado em um lugar muito específico da música brasileira. Seus 70 anos, que ele diz ser apenas uma efeméride usada para justificar a turnê que irá começar em junho, podem ser também uma oportunidade para discuti-lo um pouco mais.>
Um roqueiro dos anos 80? Apesar de ter surgido ali, ele já disse não ser. Um autor de MPB? Apesar de transitar também ali, não é o caso, não no sentido "sacro" do termo. E talvez esteja por aí um importante ponto na essência do artista que, ao mesmo tempo, dessacraliza a MPB sem desvirtuar sua riqueza e relaxa o rock sem frustrar sua relevância.>
À parte das teorizações sobre si mesmo, Lulu diz que apenas aposta no feeling da felicidade quando cria o show com o qual vai percorrer o País. A turnê se chama Barítono, nome de uma região de canto mais grave - não tão grave quanto o baixo - e que se tornou sua região de canto, experimentada com mais evidência pela primeira vez, como ele recorda, com a canção Esse Brilho em Seu Olhar, do álbum O Ritmo do Momento, de 1983.>
Mais tarde, em 2000, ao lançar Lulu Santos Acústico MTV, Lulu baixou as tonalidades das canções em um tom, um ato visto por alguns críticos com desprezo, como se a idade começasse a dar sinais de limitações vocais. "Era onde minha voz ficava mais confortável. E o curioso é que as pessoas que se lembram das músicas que estão naquele disco se lembram mais dessas versões acústicas do que gravações das originais.">
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Confortável como barítono, Lulu se prepara para sair pela estrada quando já tiver completado 70 anos. Seu aniversário será na quinta, dia 4, e o primeiro show da turnê será em 3 de junho, em São Paulo, no Espaço Unimed. Mas a data será lembrada. Ele fará, no próprio dia 4, um show no Rio de Janeiro.>
O espetáculo fechado para amigos, mas a Globo e seus braços - Multishow, Canal BIS e Globoplay - irão transmitir. Em alta conta na emissora - só como jurado do programa The Voice ele está há 11 anos -, Lulu será ainda homenageado pelo Altas Horas, no dia 6 de maio. >
Sobre o tema que escolheu como nome da turnê, a classificação de sua voz, Lulu diz em um texto de divulgação: "Admiti tardiamente várias coisas importantes sobre mim, entre elas o fato de ser um barítono, cantor de tessitura vocal grave. Desde que 'assumi' essa condição, como costuma acontecer com essas coisas, facilitou enormemente minha vida e arte. Sou barítono com paixão, gosto dos graves, gosto de como minha voz soa nesta região".>
Ele falou sobre o disco Acústico: "O primeiro passo foi em 2000 quando gravei e lancei o álbum Acústico. Ali, por conforto e sabedoria, baixei um tom de boa parte do repertório e funcionou perfeitamente. Agora, 20 anos depois, percebi que, se baixasse mais um tom, algumas canções voltariam a ser cantáveis sem sobressaltos ou esforço".>
É curioso também vê-lo como jurado do The Voice, o programa que escolhe pessoas aptas a seguirem em suas carreiras artísticas levando em consideração aquilo que mostram em suas performances. "O que nos faz girar a cadeira é a sensação, o arrepio, o algo novo. Não é exatamente a qualidade técnica de um cantor ou cantora.">
O The Voice, um dos cases de sucesso da emissora, flagra o ponto que realmente importa. "Nunca serão candidatos ou candidatas ruins, porque existe uma pré-seleção, mas procuramos por aqueles que se destacam." Esse destaque pode explicar muita coisa.>
Há cantores e cantoras que são artistas e cantores e cantoras que são apenas cantores e cantoras. E isso nem sempre impede uma carreira de acontecer. Mas testemunhar esse processo e identificar onde está o ponto em que a chave vira, ainda que esse sentimento não tenha sido nomeado, é o grande charme do programa.>
Não é a estridência, a quantidade de melismas, o uso de outros recursos vocais nem a performance de um candidato o que está em jogo. É a profundidade da emoção que ele provoca e a forma como consegue sustentá-la e até inverter seus registros, transitando da nostalgia para o êxtase, por exemplo, naqueles poucos instantes em que está em cena. Lulu analisa o que sabe fazer.>
Casado com Clebson, 38 anos mais jovem, o artista renova seu público com regravações que recebe em muitas frentes. Uma das mais recentes veio dos DJs e produtores Scarlatelli, BARC e Reeis. Eles usaram Sábado à Noite, do álbum Calendário, de 1999, para criar um remix. A divulgação do trabalho diz: "Eles entregam uma versão mais funky, preservando os vocais. É leve, nostálgica, atemporal e deliciosamente dançante". >
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