Publicado em 6 de setembro de 2024 às 08:06
O presidente Lula abriu nesta quinta-feira a Bienal do Livro de São Paulo saudando a literatura como fonte de liberdade e reforçando a um público cativo que deseja mais livros e menos armas para os brasileiros.>
"Ler é um ato político contra toda forma de arbítrio", discursou, após pedir desculpas por mais de uma hora de atraso na sua chegada. "Vivemos tempos de ódio e de fake news, poucas vezes precisamos tanto do bálsamo da literatura.">
"Os livros foram meus companheiros na prisão, perdi a conta de quantos li na luta contra solidão", afirmou o presidente, acrescentando que se identificou em especial com a ex-escravizada Luiza Mahin, que protagoniza "Um Defeito de Cor", de Ana Maria Gonçalves. "Nos 580 dias em que estive preso entendi que nada é mais livre que ler.">
Lula contou ter sido abordado pelo editor Luiz Schwarcz, dono da Companhia das Letras, que reclamou que seu governo "não estava comprando livros". O presidente disse ter chamado então o ministro da Educação, o também petista Camilo Santana, para "ouvir as razões dos editores".>
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Mas não é o que tem acontecido --como mostrou reportagem da Folha de S. Paulo, o governo federal tem tido sucessivos atrasos na compra de livros para escolas públicas pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, o FNDE.>
Editores têm ficado apreensivos com as contas desbalanceadas pela "crise dos editais", que faz com que obras literárias que deveriam ter sido entregues a estudantes em 2022 ainda não tenham sido nem contratadas.>
Alunos de escolas públicas estão desde 2019 sem receber novas obras literárias, e a maior prejudicada é a educação infantil, de crianças até cinco anos. A compra de livros didáticos também tem sido executada com desajuste no calendário.>
Em nota, o FNDE admite os atrasos, diz que irá postergar parte das compras para 2025, mas promete que os alunos receberão livros didáticos a tempo do início do próximo ano letivo. Além disso, culpa pela demora a operacionalização da gestão anterior, de Jair Bolsonaro.>
A presença de Lula no evento contrasta com a postura do ex-presidente do PL, que não apareceu na abertura da Bienal anterior em São Paulo, em 2022, e criou um mal-estar com sua contraparte portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, com quem desmarcou um encontro bilateral. Portugal foi o país homenageado do evento naquele ano --o desta edição é a Colômbia.>
Lula usou a ocasião para assinar o decreto da Política Nacional de Escrita e Leitura, que regulamenta a lei do Plano Nacional do Livro e da Leitura, de 2018, elaborado após deliberações dos ministérios da Educação e da Cultura --os titulares, Santana e Margareth Menezes, também discursaram no evento, além do ministro Jader Filho, das Cidades.>
Isso porque também foi assinado nesta quinta um protocolo de intenções para que as novas unidades do programa Minha Casa Minha Vida, do guarda-chuva das Cidades, tenham todas uma biblioteca comunitária e aberta de cerca de 500 livros --pedido direto de Lula, segundo o ministro.>
Já o novo plano gestado pela Educação e Cultura orienta ações para valorizar o livro em quatro eixos --a democratização do acesso, o fomento à leitura e à formação de mediadores, a valorização simbólica e institucional da leitura e o fomento à cadeia criativa e produtiva do livro.>
Há um foco inédito no programa dedicado à escrita criativa e à criação literária, entendidas como direitos dos cidadãos.>
Santana assinou também um novo edital do PNLD, o programa nacional do livro e do material didático, dessa vez focado em equidade para levar às escolas "as diversas formas de ser brasileiro", segundo ele, com as experiências de indígenas, quilombolas e ribeirinhos, por exemplo.>
A Bienal do Livro abre ao público a partir desta sexta no Distrito Anhembi, zona norte de São Paulo, e segue até o domingo da próxima semana, dia 15.>
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